A Busca da Paz No Ano Novo
A busca da paz e o ano novo
olhos um ano iniciou. Quantas expectativas! Esperança mais uma vez a brilhar em nossos olhos. Incontáveis pedidos. Entre os muitos formulados nesta hora de transição, quando um período de 365 dias se encerra e outro novíssimo desponta, destaca-se um: obter paz no ano começante.
Solicitação das mais justas, muito apropriada, pois, com paz temos tranquilidade para viver e melhor aproveitamos as possibilidades de aprendizado oferecidas pela vida, que são inumeráveis.
Contudo, raros são aqueles que realmente se dão conta do significado de solicitação tão especial. Desconhecem, em sua grande maioria, a própria participação neste processo, por não perceberem ser fundamental e indispensável o próprio envolvimento na aquisição de tão nobre estado.
Alguns creem que dormirão e acordarão sem a existência das guerras e conflitos mundiais; outros esperam de Deus a promoção da paz por decreto; ajuízam mais alguns que os conflitos sociais que marcam diariamente o nosso noticiário jornalístico, envolvendo os contraventores e as diversas forças de segurança, desaparecerão como por encanto, num passe de mágica; soluções milagrosas, surgidas do nada, devem aparecer: afinal, é um ano novo que se inicia…
Este justíssimo desejo expressa-se sem que os solicitantes percebam, desde a passagem do ano, que estão agindo e criando as bases para que o anseio não se realize. Vivem um paradoxo: embora desejem algo ardentemente, insistem por destruir as condições básicas que poderiam levar à concretização do que avidamente aspiram.
Sim, infelizmente é um fato!
Como uma pessoa pode pedir e almejar paz, se durante o ano que se finda, e mesmo durante as comemorações do que se inicia, pauta a existência sob toda a sorte de abusos e condutas comprometedoras que se opõem a uma convivência pacífica?
• Alguns saem armados para se “divertirem” e, quando os multicores fogos de artifício são lançados na virada do Ano, disparam literalmente suas armas em direção ao espaço, numa demonstração inequívoca dos princípios truculentos que lhes caracterizam a existência.
• Adquirem estes mesmos fogos de artifício e os lançam em todas as comemorações julgadas apropriadas, tais como aniversários, casamentos e jogos de futebol, apavorando os animais e incomodando os idosos, os doentes e as crianças, em um total desrespeito à ordem pública.
• Outros bebem alcoólicos, consomem drogas ilícitas, dando, desse modo, acesso e guarida a obsessores de todos os tipos. Acabam se envolvendo em brigas e discutindo por migalhas, sem nem mesmo saberem, ao final da refrega, a razão da rixa em que se envolveram. Tomam seus veículos e trafegam desnorteados pelas ruas, sob sério risco de atropelarem e matarem transeuntes… Mantêm a família sob o terror de suas manias e idiossincrasias, agindo como verdadeiros déspotas, cujas vontades não podem ser questionadas.
• Compram armas para supostamente se defenderem de agressões e, se preciso, formatar os “inimigos” infiltrados na sociedade em que vivem, responsáveis, segundo eles, por impedir a conquista da paz que tanto ambicionam, justificando-se sob a infeliz máxima: antes ele do que eu.
• Não respeitam os mais comezinhos direitos alheios, não cumprem os próprios deveres, discutem nas reuniões de condomínio, brigam na rua por nonadas, xingam no trânsito, dirigem como alucinados, desrespeitam sistematicamente todas as regras do trânsito e, ao se verem envolvidos em acidentes, procuram quase sempre fugir à responsabilidade que lhes compete.
• Equipam suas residências com medidas protetivas, tais como alarmes, câmeras, ferozes animais de guarda, conexões com firmas de segurança, na ilusória tentativa de assegurarem a própria paz, bem como a de seus familiares, como se a paz pudesse vir do exterior e não do interior do ser.
• Desrespeitam as mais básicas diretrizes da vida em sociedade quando usam equipamentos sonoros em volumes incompatíveis com o bom senso, em avançadas horas noturnas, perturbando toda a vizinhança, sem se importarem se há recém-nascidos ou não na comunidade.
• Adquirem animais por pura diversão, que uivam, latem, rosnam, a qualquer hora do dia, perturbando o sono e a paz dos “amigos” com quem convivem nos condomínios e prédios. Além disso, confinam animais de grande porte em apartamentos muitas vezes exíguos e saem para trabalhar e realizar afazeres diversos sem se importarem se os animais incomodam os vizinhos ou não, nem mesmo em avaliar se este ambiente é adequado para um animal de tamanho avantajado. Em vez de adestrá-los, preferem deixá-los à vontade: afinal, educar e treinar um animal irracional dá trabalho e, sobretudo, gera despesas.
Poder-se-ia elencar incontáveis atitudes totalmente destoantes de uma convivência salutar, harmônica, pacífica, em uma comunidade, e cada qual deve analisar-se para identificar de que maneira pode melhorar a sua participação no meio em que vive, tornando-se um verdadeiro e honrado cidadão.
Mas o que é a paz?
Seria poder desfrutar de uma vida ociosa, num repouso sem- -fim, como se estivesse deitado em berço esplêndido, sem necessidade de trabalhar, de ocupar-se utilmente, sem contratempos de espécie alguma, saúde quase perfeita, ausência de inimigos, desafetos e opositores, dinheiro farto nos bolsos para fazer face a todas as extravagâncias, ausência de problemas de qualquer ordem?
Cremos que não, pois muitos desfrutam de tudo ou quase tudo isso e algumas vezes ainda mais; entretanto, continuam insatisfeitos, intranquilos, inquietos, desconfiados, mal-humorados, irritadiços, ou seja, sem paz interior. Desconhecem o que falta, não identificam onde está a lacuna, ignoram qual parte estaria ausente no conjunto da própria existência, mas têm certeza de que algo está faltando.
Por isso reagem, alguns com violência diante dos fatos corriqueiros e absolutamente necessários que caracterizam o mundo de provas e expiações no qual vivemos.
A milenar civilização romana pautava-se no ditado: Se queres a paz, prepara-te para a guerra.
Contudo, durante os anos romanos, quando o mundo ocidental conhecido de então vivia e existia sob a égide da Pax Romana, nasceu o maior e mais excelso Pacificador de todos os tempos, aquele que jamais levantou a mão para agredir fosse quem fosse, que nunca acusou nem mentiu. Sobre Ele não há registro de qualquer ato violento, de qualquer desrespeito aos costumes e opções de vida do próximo, a quem jamais prejudicou.
Viveu uma vida simples, sem ouro, prata, seda ou púrpura; nada temia, pois era detentor da única e verdadeira Paz: a proporcionada pela consciência tranquila, fruto do dever cumprido e da retidão de conduta moral.
Este exemplo de pacificação legou-nos o seguinte princípio, registrado nos Evangelhos: “A minha Paz vos deixo, a minha Paz vos dou […]” [João, 14:27].
A Paz Cristã, a Paz do Cordeiro, a Paz do Ungido!
Se desejamos a verdadeira Paz para a Terra e para o nosso mundo íntimo, não há outro caminho senão vivenciar, em sua plenitude, os ensinamentos que o Cristo nos legou há mais de dois mil anos, contidos em seu Evangelho de Amor e Redenção.
Anezio ( da revista reformador FEB)