Meritocracia: uma análise sociológica
O conceito de meritocracia relaciona-se à possibilidade de ascensão social do indivíduo por meio de suas competências que envolvem o trabalho, o esforço e a intelectualidade, desvencilhando-se da ideia de que a classe social é o fator determinante de seu sucesso ou de seu fracasso. Contudo, há muitas controvérsias que permeiam a discussão sobre a proposta do sistema meritocrático, como: seu funcionamento prático e a repercussão nos âmbitos que este engloba, como por exemplo, o discurso acerca dos privilégios oferecido a um determinado grupo e a relação destes com as oportunidades e até mesmo com a indagação sobre até que ponto tais privilégios não ultrapassariam os limites daquilo que pode ser considerado justo. Partindo da análise do assunto por um viés sociológico, pode-se associar o pensamento de Max Weber. O teórico, diante de um contexto de efervescência industrial abriu as portas da sociologia moderna, e apesar de ter entrado em contato com ideais positivistas de Comte, centralizou seus estudos na relação entre os indivíduos e o papel que a interação exercia no fenômeno de composição de uma sociedade. Diferentemente de seu contemporâneo Karl Marx, que explorou o estudo a relação entre classes com um olhar coletivista, a concepção de Weber se pautava no estudo do sujeito de modo individual, o que denota uma semelhança com as características observadas em uma meritocracia, visto que Weber reconhecia que a esfera social não se encontraria acima do próprio sujeito, do mesmo modo, os ideais meritocráticos da contemporaneidade levam em consideração o desempenho individual e o reconhecimento por parte do indivíduo que é o seu esforço aliado às habilidades a serem desenvolvidas que farão com que este ascenda socialmente. As circunstâncias históricas nas quais Weber sustentou suas ideias, contavam com uma sociedade europeia estamental, e com um período que retratava o anseio por mudanças das classes menos favorecidas, como o proletariado, que ainda se encontrava distante da possibilidade de mobilização social proposta pelo fenômeno da meritocracia. Sendo a meritocracia uma definição inerente ao modo de vida capitalista, já que este modelo econômico exige a inovação e a competição, é possível ainda, relacionar a busca pelo lucro e a propensão ao trabalho com a visão religiosa de Weber. Em sua obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, publicada no início do século XX, o teórico compara a lógica protestante, amplamente compatível com o acúmulo de bens, e a visão católica diante da vida material, esta, voltada ao sacrifício e à renúncia da praticidade. Através da análise histórica de compreensão do indivíduo, das relações que são estabelecidas com os outros a sua volta, e ainda daquilo que faz visando sua ascensão por mérito, percebemos as raízes de uma visão de mundo que torna racional a mobilização, a perspectiva de inovação e a melhoria não apenas das condições em que se vive, mas também de sua própria condição como ser humano, e de tudo o que é intrínseco a ela.