A insensibilidade diante das mortes que se acumulam!

Sempre gosto de rever o vídeo do Willian Bonner falando da nossa insensibilidade diante das mortes que se acumulam dia após dias por Covid-19. Vejo esse vídeo para não me insensibilizar diante dos números que só aumentam a cada minuto, dias e semanas.

Hoje, o Brasil bateu recorde de mortes em 24 horas, foram 1262 óbitos, passamos de 30 mil mortes e 555 mil casos confirmados, fora as subnotificações que elevariam muito esses números, já que somos um dos países que menos testamos pessoas no mundo, além de milhares de assintomáticos que por não sentirem nada não fazem exames e não procuram os serviços de saúde.

Mas como assistimos essas notícias todos os dias, já nos acostumamos, já nos insensibilizamos, vemos somente as vidas perdidas como números, nada mais. Quem sente a dor são somente as famílias que passam pela morte ou internação em UTI de seus entes queridos.

Já dizia Machado de Assis: “Mas o tempo, o tempo caleja a sensibilidade”.

Quando pessoas morrem de uma só vez num desastre de avião, por exemplo, ficamos chocados! Quando em Brumadinho soubemos que mais de 250 pessoas morreram ficamos perplexos, hoje o número de óbitos dessa queda de Barragem já está em 362.

Logo após os ataques as Torres Gêmeas nos Estados Unidos, em setembro de 2011, o mundo ficou boquiaberto e pensou ser tratar do fim do mundo e do início da terceira Guerra Mundial. Foram 2996 mortes nesse fatídico episódio. Eu assistir tudo atônito, ainda mais vendo a cena de pessoas se jogando do prédio para não morrerem queimadas.

Quando teve início a guerra na Síria, que continua até hoje, ficamos sensibilizados e chocados, hoje em dia nem se comenta sobre as milhares de vidas perdidas por esse confronto que dura 10 anos, tendo início em 2011.

Ou seja, quando as mortes ocorrem de maneira abrupta, nós ficamos sensibilizados, quando vão ocorrendo no período de semanas e meses não sentimos pelas vidas que perecem.

Eu poderia multiplicar em dezenas e centenas de casos para mostrar a capacidade humana em perder a sensibilidade diante da dor alheia. De esquecer o sofrimento que pessoas próximas e distantes estão passando.

Esse texto eu escrevi para que não perdemos a sensibilidade. Como dizia Clarice Lispector: “Sabe o que eu quero de verdade? Jamais perder a sensibilidade, mesmo que às vezes ela arranhe um pouco a alma. Porque sem ela não poderia sentir a mim mesma”.

Que eu nunca perca essa capacidade de sentir a dor do outro. De chorar com os que choram. De aceitar as injustiças, as desigualdades, a opressão, as guerras e as pandemias como algo banal e aceitável.

Que eu nunca politize mortes. Que eu nunca veja pessoas como números

Acioli Junior
Enviado por Acioli Junior em 03/06/2020
Reeditado em 03/06/2020
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