VIDAS E RODAS - DE 80 PARA 110

VIDAS E RODAS - DE 80 PARA 110

Há tempos que o ser humano pesquisa um modo de avançar na longevidade, buscando avançar de parcos octogenários para vislumbrar tornar comum o romper da barreira centenária, com a lucidez necessária e possível, com os avanços da medicina e da saúde pública.

O mesmo ocorre com os meios de transporte, onde o ar já é hipersônico, mas nas rodovias nacionais, esqueceram de perceber que não estamos mais no século XX, onde combinávamos verdadeiras carroças com estradas, e não rodovias.

Tínhamos veículos rústicos, como o saudoso fusca, ou até o DKW Vemag, com motor de 3 tempos, fumacento como ele só. Os pneumáticos eram ruins, os freios eram a lona, as suspensões eram de fechos de molas, a voltagem dos faróis eram eventualmente de 6v, a aerodinâmica não ajudava e os condutores careciam de treinamento.

Foram tempos que justificavam uma grande prudência ao normatizar as velocidades permitidas para todos os tipos de vias.

Mas avançamos bastante na tecnologia das estradas, com melhor pavimento, nível dos acostamentos, sinalização ampla e de melhor qualidade visual, muitos trechos de pista dupla ou com faixas adicionais e melhor conservação, passarelas para pedestres e retornos por túneis ou viadutos, que permitem sermos audazes em afirmar que os atuais veículos, muito mais sofisticados em tecnologia e segurança, propiciam poder transitar com maior e melhor desempenho do que outrora.

São ABS's, suspensão McPherson, parabrisas laminados, faróis de LED ou xenônio de grande eficiência, melhores acentos para motoristas e passageiros, melhor aerodinâmica, pneus de melhor qualidade, sem citar que há uma legislação que cobra uma manutenção regular dos veículos, dispondo de polícias especializadas na fiscalização do trânsito, em todas as esferas.

Assim, está mais do que na hora das rodovias serem coerentes com a legislação primária do CTB, que prevê 80, 90 e 110 km/h para certas categorias de veículos, sendo que os automóveis estariam na última classe, se não fosse a teimosia de alguns órgãos executivos de trânsito, que em nome de uma suposta segurança, impede por imposição de sinalização restritiva, uma mesma velocidade máxima para todo tipo de veículo. Fazendo com que os automóveis e motocicletas, vans e ônibus, tenham que trafegar no mesmo ritmo das composições veiculares de carga, onde enfrentam treminhões de 30 metros de comprimento e alta tonelagem transportada, que demandam grande perícia e dificuldades, já que nossas rodovias não são aptas para veículos tão extensos.

Esqueceram de investir em ferrovias e o avanço econômico do Brasil, com novas fronteiras agrícolas, ampliou sobremaneira a presença desses gigantes nas pistas. E isso impõe que, eventualmente se encontre verdadeiros comboios de bitrens e treminhões, com desempenho médio de velocidade que quase sempre fica bem abaixo dos 60 km/h, o que induz e até seduz os condutores dos autos e motos a buscar acelerar e proceder ultrapassagens que, necessariamente exigem que se avance nesse limite de 80 km/h, senão o romper dessas verdadeiras centopeias de pneus se tornará impossível, criando gigantescas filas e engarrafamentos nas rodovias.

Devido ao perfil quase que continental do nosso País, e sem melhor opção para o transporte e as viagens, já que não dispomos de trens para os mais diversos fins, as rodovias se tornaram essenciais para a logística de cargas e passageiros.

Aliado a esse padrão rodoviário, o Brasil vive um boom na produção automotiva e na facilidade em se adquirir a posse de um veículo, seja de duas ou quatro rodas.

Então, deixo a todos um questionamento: será que realmente o objetivo da restrição aos 80 km/h é fruto da busca por segurança ou será a consequência do esfacelamento de órgãos rodoviários importantes, como o DNIT, que impede o desenvolvimento de pesquisas e estudos técnicos adequados ao momento contemporâneo de avanço da indústria automobilística? Ou a idéia é arrecadar?

O avanço da urbanização e das técnicas de produção, seja industrial ou agropecuária, exigem cada vez mais agilidade do ser humano.

O tempo passou a ser fundamental e caro, impondo a todos nós mais agilidade nos deslocamentos, visando proporcionar mais horas para o trabalho, estudos, descanso e lazer.

Mas será que conseguiremos lembrar de guardar um pouco da nossa história para a contemplação e a evolução espiritual? Afinal, os dias, semanas e meses parecem passar sem que os percebamos com realismo.

É como dizer que os dias estão voando. E quando percebemos, o ano já se foi, junto com a infância e a juventude, só restando o consolo de estarmos mais longevos.

Será isso o suficiente? Prefiro a idéia de buscar o merecimento, que nos cobra atitudes e ideais de vida que comunguem com a lógica divina do respeito à criação, como matiz do nosso arco íris, que nos dará um tesouro no seu apoteótico fim.

Texto publicado no Facebook em 15/04/2018