Violência intima
Todos os dias noticiários nas TVs e rádios, manchetes de jornais, revistas se mostram fartos de notícias que nos chocam os sentidos pelo seu teor de violência.
Ora crimes hediondos, outras tantas vezes brigas fúteis com finais infelizes, agressões gratuitas e intensas, abalando vidas, alterando planos e sonhos.
Não por acaso, em várias pesquisas de opinião, uma das preocupações mais corriqueiras citadas pelo cidadão comum é a violência.
E a violência se espraia de tal maneira em nosso cotidiano que nos dá a concreta impressão de que ontem ela era algo distante, onde o contato se dava apenas pelo rádio ou pela TV e agora vem invadindo nosso lar e nossas vidas.
Como consequência, não são poucos os que vêm desenvolvendo síndromes e fobias das mais diversas.
Já não se sai mais às ruas com tranquilidade, já não se conversa de forma descontraída na fila do ônibus. O desconhecido que nos pede informação na rua parece sempre uma ameaça.
Ocupamos e nos preocupamos com a violência que grassa solta nas ruas. Evitamos o contato com outros, isolamos nossa residência, tentamos ficar alheios a toda essa onda de violência externa.
E quanto à nossa violência interna? E quanto ao mundo violento que carregamos em nossa intimidade - temos nos preocupado em livrarmo-nos dele?
A resposta curta e fria dentro do lar, temperada pela falta de paciência ou tolerância, não é nossa cota de violência que despejamos em casa?
O descontrole emocional com os filhos, frente a uma travessura infantil, onde o educar cede lugar à repressão, não é a nossa violência, que carregamos na intimidade e, vez por outra, despejamos nos outros?
A violência do mundo nasce na intimidade de cada um de nós. O mundo violento é o reflexo dessa violência íntima a se exteriorizar em nossas ações.
A vida nos oferece a chance de nascer no ambiente que melhor nos propicia oportunidades de crescimento. Assim, a violência que se instaura no mundo externo serve como reflexão se a desejamos ou não.
Cansados da violência, o próximo passo será sempre o de nos livrarmos dela. Porém, não externamente. Só nos livraremos verdadeiramente da violência quando ela não mais existir em nossa intimidade.
Mahatma Gandhi conseguiu libertar todo um país sem derramar uma gota de sangue ou ceifar uma vida que seja.
E é esse mesmo apóstolo da paz quem afirmava que em uma casa onde haja um indivíduo pacífico, o lar terá paz. Em uma rua onde haja uma casa em paz, haverá paz. Em um bairro onde haja uma rua em paz, esse terá paz. E em uma cidade onde haja um bairro em paz, essa adquirirá a paz.
Demonstra assim Gandhi que a paz no mundo nasce necessariamente da paz que começamos a nutrir em nossa intimidade.
Até lá, seremos apenas seres violentos vítimas das violências de nosso próximo.
Pensemos nisso e nos tornemos promotores da paz.
Redação do Momento Espírita.
Em 17.2.2020.