Quantas vezes, tive que enfrentar o mundo, sem a devida maturidade, a idade sempre a passos lentos, nunca me favoreceu em relação ao amadurecimento. A ingenuidade foi a maior vilã da minha história. Imaginei tantas vezes em como seria bom viver sem ordens e mais ordens para cumprir. Eu queria voar, ser livre, soltar-me das amarras paterna e eternas... Queria  ser alguém não sabia quem, mas queria... Queria muito fazer teatro, mas parecia existir um muro de ferro me separando, do que eu queria. Eram as ordens do meu pai, os ensinamentos, as regras e os dogmas... Vindo do interior, fiz teatro amador, em Imperatriz, ainda fiz um curso de teatro, em São Paulo, no meio de pessoas tão frias e indiferentes, não suportei, viver distantes dos meus pais, eu não tinha estrutura para enfrentar São Paulo, sozinha. Era muito ingênua, pura e frágil de mais, pra suportar tudo aquilo e a saudade de casa, me impedia de continuar, voltei para Imperatriz, foi onde tudo piorou ao casar-me, com um ser tão frio e violento. O que ele não parecia ser,  foi trágico, foi quase imposível de suportar, como se tiros me acertassem o peito, a todo instante. Fui atingida em cheio e doeu muito, me recolhi, as esferas mais abissais de mim. Não queria ver à luz nem subir à superfície de mim. vivi exilada nos subterrâneos do meu interior,  por anos, onde eu era torturada e chorava minhas dores, sem que ninguém pudese me ouvir, o medo me impedia de denuciá-lo a alguém.  Anos depois, ressurgi e me libertei, mas tive que aprender a guerrear no meio do mundo, sozinha e tão vulnerável e assim fiz, fui guerreira, embora muitas vezes mergulhada em lágrimas em trincheiras, tentando à qualquer custo me defender. Tremia e sentia minha criança chorar em meu ser. O meu coração assustado sangrava. Senti o quanto eu era fragil, minha transparência, fora trincada e todo o meu ser, fora, quebrado. Eu me sentia devastada, pude entender que as amarras em que meu pai me prendia e que eu tanto queria quebrar, eram as que me protegiam do mundo, quantas vezes falei inconscientemente e ainda hoje falo: Quero ir pra minha casa... Que na realidade, era a casa dos meus pais. Lugar onde eu vivia em segurança. Grande foi o abalo que sofri, partes de mim, parecem ter se desintegrado deixando destroços soltos pelos diversos cantos de mim. Mas Deus me restaurou. Recorri à ele, isso eu aprendi em casa. Clamei ao senhor e ele derramou sobre mim o seu bálsamo e curou-me de toda dor. Juntei os meus pedaços e segui caminho... Ainda ingênua, ainda frágil, mas com certeza, com muito mais experiência e cautela, tornei-me então uma guardiã de mim

                                    Kainha Brito

Kainha Brito
Enviado por Kainha Brito em 20/05/2016
Reeditado em 04/08/2021
Código do texto: T5640872
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