JUSTIÇA COM AS PRÓPRIA MÃO NÃO É JUSTIÇA
Desde muito cedo aprendi esta sentença. Seja o cidadão civil ou militar, pobre ou rico, culto ou leigo, ignorante ou bem informado, não tem o direito de se fazer de juiz ou de aplicar a antiga e bestial Lei do Talião, à base do “olho por olho, dente por dente”.
Não dá pra fazer de conta que é normal, alguém se afirmar cristão, judeu, muçulmano, induísta, budista, ateu ou agnóstico e concordar ou compactuar com a aberração humana, de pôr fim à vida de uma pessoa, esteja ela legal ou fora da lei. A cadeia da violência é também alimentada pelos cidadãos e cidadãs ditos de bem, quando perdem na prática e princípio os valores essenciais de justiça e cidadania que devem nortear a conduta sócio comunitária e diferenciar a prática das pessoas de bem da prática dos malfeitores.
Quando uma comunidade, diante de uma situação de violência, não consegue refletir ou mesmo distinguir qual seria a conduta ética, humana ou cristã que diferencia os seres humanos dos outros animais, fica esta comunidade refém da mais completa e nojenta barbárie. A barbárie se apresenta, infelizmente também, através de cidadãos comuns ou não comuns, autoridades e gente dita da lei, que se omitem de cumprir a lei, por comodidade, conivência ou mesmo irresponsabilidade.
A falta dos valores humanos, éticos e morais, leva muita gente à mais deprimente condição humana, qual seja, agir como bárbaro, assassino e malfeitor, como causa e efeito da violência cotidiana a qual o sistema nos submete.
Fazer justiça com as próprias mãos é negar o princípio básico da justiça, é a mais infeliz, inoportuna e insensata reação humana, que assume em ato, a mesma postura condenável e deprimente dos que se encontram fora da lei. Não é cristão, não é religioso, não é virtude e nem coerência, é fundamentalmente imoral e insano se aplaudir, apoiar ou ser conivente com atitudes e reações individuais ou coletivas geradas por emoção ou revolta, que diante do medo, dos assaltos e insegurança a que a população está exposta, de repente aparecem valentões, acima do bem do mal, que impõem suas próprias leis e fazem a tal da justiça com as próprias mãos, protegidos pela covardia de muitos e a negligência de autoridades constituídas.
A grande questão é: que contribuições os linchamentos e outras atitudes violentas – que surgem como arremedo e mediocridade humana de suposto combate a violência -, são geradas dentro desta falsa lógica? Só faz recrudescer a escalada da violência e reduzir, a cinzas, os valores humanos em nós.
Péssima e tirana mídia da bala, que propaga e reproduz estes falsos conceitos e modus operandi que negam a racionalidade humana e tornam as relações sociais cada vez mais desumanas.
Nota: o presente texto foi escrito na noite de 15 de Junho de 2015, ao tomar conhecimento de uma ocorrência gravíssima, ocorrida na manhã deste mesmo dia. Na verdade um caso de linchamento pratica contra dois jovens, em nossa cidade. Um dos mesmos veio a falecer.