Os bebês são capazes de acordar sorrindo...
"O Mundo de Sofia", de Jostein Gaarder, explica a ingenuidade do riso nos primeiros anos de vida. Somos meras pulgas do coelho - quando leves flutuamos sobre a superfície e avistamos tudo de longe, do alto, enquanto ziguezagueamos naquele lugar novo.
Essa é a criança que à medida que cresce, escorrega com seu peso e aprofunda-se em um território obscuro, deparando-se com as coisas como realmente são - de perto, a ser atuante, não apenas uma observadora.
Quando uma criança de um ano vê um cão, ela sorri e aponta, demonstrando que descobriu algo extremamente importante oculto ali. Os adultos acham graça nisso - nem pensam que isso é extremamente aguçador a uma mente tão nova.
"É só um cachorro" - diz a mãe, o pai, a avó, o avô...
Ou ainda "OLHA! É UM CATOLINHO!" - Risos de gente grande.
Meus senhores, que menosprezo é esse às descobertas? Vocês foram criados da mesma forma, olhando as coisas e achando que descobriram o mundo e realmente, SIM, vocês quando crianças eram grandes descobridores.
Esse contato fornece às crianças um sabor melhor ao sentido da vida. Elas não fazem ideia do que é isso, mas querem descobrir qualquer coisa! - e quando crescemos e descobrimos infinitas coisas, vivemos de uma maneira completamente supérflua. Por qual razão, por exemplo, eu ficaria inédita ao ver um cão, sorriria e apontaria para ele e chamaria a atenção de todos?
Acontece que o que nós não entendemos muito é que a criança está completamente correta. Não vejam como alucinação, mas pensem: Se vocês um dia vissem alguém fazendo a mesa da cozinha flutuar, ficariam pasmados.
Mas e se a criança descobridora visse? Ela reagiria de outra forma àquela descoberta, da semelhante forma que reagiu ao ver um cão enquanto passeava na praça.
Nenhuma criança tem o dom da infelicidade, de nascer triste e não acreditando e imaginando infinitas coisas. Nisso, o adulto não sabe se colocar.
Sempre - de forma bem comum - têm aqueles pais que dizem à criança "Papai Noel NÃO existe!!!" e aqueles que dizem "ELE EXISTE E VAI DESCER PELA CHAMINÉ", usurpando da criança a liberdade do pensamento ou metendo na cabeça dela sem que ela mesma aprenda a questionar para crer ou descrer.
É deprimente viver num mundo no qual tudo foi descoberto. Em contrapartida, é deprimente enxergar que tudo o que você "descobriu", você nunca conseguiu questionar. E essa é a disseminação que o ser humano comete.
Cada pessoa é muito poderosa, mas não sabe usar o potencial que tem e praticamente quer fazer de novas mentes a sua cópia, estilo mitose, esquecendo-se ou simplesmente ignorando que a liberdade inicia-se principalmente pensando.
"Não leia Harry Potter porque é do capeta", "Não acredite em fantasmas porque senão você vai para o inferno", "Não contrarie os mais velhos NUNCA", "Vista isso, menina", "Você não pode usar isso, menino"... Até que fincam na personalidade e identidade que NÃO PERTENCEM A ELES.
Por que será que temos tantos depressivos neste mundo? Por que é cada vez mais comum encontrarmos crianças assim? Claro que a depressão é um conjunto, uma somatória de fatos vivenciados por quem tem. Porém, quando o adulto priva e limita o pensamento da criança, ela passa a não descobrir a parte mais importante: Quem ela é, o que ela pensa, o que ela deseja, o que ela não quer.
Quando isso ocorre, o sentimento é um estorvo. E futuramente, a mesma criança sofrerá impactos enormes na maneira com a qual lida com infinitas coisas. Ela poderá ferir-se, corroer-se, omitir-se, cobrar-se demais, de menos, abandonar-se, desprezar-se, desistir de "viver"... E tudo isso será compreensivo, tendo em vista que ela não teve o seu espaço.
O ser humano é visto como grande descobridor, mas realmente o é?