Onde é que há gente no mundo?
Sempre que vejo postagens promovendo vidas perfeitas, vidas imensamente felizes e conclamando a humanidade a seguir seus sábios conselhos, a fim de que o mundo todo possa ser tão feliz e perfeito quanto eles, lembro-me de Pessoa - o poeta- e penso como ele: "[...]Onde é que há gente no mundo, afinal?[...]"
Ao que tudo leva a crer, vivemos um tempo de felicidade obrigatória e obrigatoriamente publicável. O compromisso com a tal felicidade acaba por levar-nos a parecer felizes mesmo quando não somos, o que nos torna sensivelmente bem menos felizes. Vivemos uma Era em que parecer feliz é muito mais importante do que sê-lo, de fato. Nem tudo o que parece, é.
Por esse quinhão de felicidade obrigatória, entretanto, a humanidade se esforça. Malha muito mais do que gostaria, come muito menos do que a medida da própria fome, gasta excessivamente com coisas de que não precisa, entulha armários com objetos que nunca vai usar, exibe um sorriso de falsa alegria nos lábios, publica postagens mentirosas, compromete a vida.
De minha parte, assim como Pessoa - o poeta- e também como a pessoa humana que sou, "verifico que não tenho par neste mundo". A exibição extremada da felicidade das pessoas, nas redes sociais principalmente, não me soa nada crível: quando todo mundo está tendo seu melhor dia todos os dias, quando todos têm os melhores relacionamentos, os melhores filhos, os melhores amigos, a melhor realidade vivendo no mesmo mundo repleto de injustiça e desigualdade em que eu vivo, algo vai mal. muito mal...
"[...]Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil Ó príncipes, meus irmãos?![...]"