O Vinho
Certa vez fomos ao supermercado fazer algumas compras para o final de semana. Como de praxe, sempre costumamos comprar um bom e delicioso vinho para saborear a noite ou no almoço. Estávamos escolhendo a bebida quando meu amigo sugeriu que eu trouxesse certo vinho que tinha a embalagem linda, porem, nunca o havíamos experimentado. Mas ele ficou encantado, afinal com uma embalagem tão linda como aquela, seria óbvio que o vinho fosse uma delícia.
-Rapaz, eu nunca tomei esse vinho, só conheço de nome – Comentei.
-Menino, você acha que um vinho chique desse com essa embalagem tão linda vai ser ruim? É claro que esse vinho é uma delicia. Você não conhece o que é bom não, é? – Retrucou.
-Será que isso presta mesmo? É melhor levarmos o que já estamos acostumados a tomar. Vai que esse vinho seja amargo ou tenha muito álcool, sei la?
-Vai! Deixa de frescura! Compra logo esse vinho e vamos embora que já está tarde.
Enfim. Acabei comprando a tal bebida na esperança de poder saborear o melhor vinho de todos que já provei. Fui convencido por meu amigo com todo aquele conjunto de argumentos a levar o bom vinho aparentemente, pela embalagem tão maravilhosa, tão chamativa, tão apetitosa. Era uma embalagem linda. Acabei comprando duas garrafas.
Pelo menos o belo rótulo nos remetia a comprar aquele vinho.
Chegamos a minha casa, pusemos o belo vinho no congelador por algum tempo. Quando o abrimos numa ansiedade enorme e tomamos o primeiro gole veio uma grande surpresa. Uma surpresa inacreditável. O vinho era mesmo uma porcaria, muito ruim, forte, amargo, enjoativo. Tomamos toda a garrafa só pelo prazer de tomar vinho, mas prometemos nunca mais comprar aquela bebida com uma garrafa tão bela, mas com um sabor de dar arrepios. Foi o pior vinho chique que já tomamos em toda nossa vida.
Passaram-se os dias e, semanas depois fomos a um supermercado vizinho ao que sempre vamos. Compramos carnes, frutas, verduras e ingredientes para fazer um bolo. Na prateleira de bebidas estava faltando o saboroso vinho que costumamos tomar. Mas lá no fundo de uma fileira de vinhos havia uma única garrafa e pegamos pra levar. Mas nos chamou a atenção um vinho que nunca tínhamos visto antes. Era uma garrafa escura, com um rótulo branco sem desenho algum, apenas com o nome do vinho. Parecia uma coisa artesanal, porem bem simples. E até mais barato que os outros. Eu então brinquei indagando:
-Será que isso presta? – Dei uma gargalhada.
-Deve ser pior do que aquele outro. - Ele me respondeu e sorrimos muito.
-Pois é. Aquele vinho era tão bonito, mas só tinha beleza mesmo por fora. Igual gente ruim. – Caímos na risada de novo. - E se de repente esse aqui com essa embalagem feia for gostoso?
- Aquele era tão bonito e não prestava. Imagina esse aí?
Eu acho que vou levar um desse pra experimentar. Se for ruim, a gente toma tudo numa golada só.
-Leva pra você tomar. Aposto que isso não presta. Eu mesmo que não quero nem sentir o cheiro disso.
-Vamos levar esse que a gente sempre toma já que só tem uma garrafa dele e levamos um desse outro só pra ver se presta.
Foi o que fizemos. Trouxemos as duas garrafas. E voltamos pra casa sorrindo imaginando o quanto aquele vinho também seria ruim. Mas descobriríamos tão logo chegássemos. Já tínhamos comprado mesmo. Era só esperar pra ver.
Fizemos o que fazemos sempre ao comprar um vinho quente. Pusemos no congelador e quando fomos tomar tivemos mais uma grande surpresa. O vinho era simplesmente muito saboroso, incrível, um gosto agradabilíssimo. Nunca havíamos tomado um vinho tão gostoso como aquele. Não da pra explicar, mas era algo encantador. A começar pelo aroma que parecia sensual, leve, calmante. Nossa! Inexplicável! Sem comparação! Depois daquele momento eu passei a tomar aquele vinho todos os dias.
Moral da história
Gente! Como pode um vinho numa garrafa tão simples ser tão gostoso, tão agradável e com um aroma sem igual? E por que um vinho com uma embalagem tão bela e um pouco mais caro que o simples pode ter um gosto amargo e ruim? Da pra entender isso?
É muito simples. Nós humanos muitas vezes julgamos nossos semelhantes pela aparência, pela cor da pele, pela posição social ou pela simpatia de um belo, porem falso sorriso. Esquecemos que na maioria das vezes toda essa beleza aparente esconde dentro de si um líquido apodrecido, rude, maldoso, invejoso, destrutivo que deseja pôr em risco o seu próximo. O vinho simples e mais barato mostra que a garrafa sem beleza ou graciosidade alguma esconde dentro de seu interior um líquido saboroso, aromático e muito apetitoso. Esse vinho simples representa as pessoas aparentemente ignoráveis, mas com uma pureza na alma que só Deus consegue enxergar. Por que Deus é o dono de tudo. E nós somos meros humanos que devemos aprender a ver as pessoas pelos olhos da alma, pela pureza do coração.
Aparência não é tudo. A simplicidade, sinceridade e honestidade nos leva a enxergar nosso semelhante pela janela da alma. Antes de você julgar alguém pelo rótulo, observe seu conteúdo primeiro. Atitude com humildade fazem toda diferença.
Farbhen Arievyh é compositor, poeta, cantor, escritor e artesão. E ainda trabalha como agente comunitário de saúde. Recentemente a cantora internacional Daniela Mercury elogiou bastante a voz e a música desse multiartista.
Esse texto foi publicado no dia 21 de julho de 2012 no www.alhandraemfoco.com onde Farbhen Arievyh assinava uma coluna pessoal semanalmente.
Siga-o no twitter: @Farbhen
Contato com o autor: 83 81262647