Inversão de Valores

Este fato hediondo que estamos assistindo com perplexidade, através da mídia, envolvendo o goleiro do Flamengo, denuncia o gravíssimo risco, previsível e evitável, que uma sociedade civil corre, quando, passivamente, mergulha numa degradação de valores e se abdica de investir em educação e na formação moral dos seus jovens. Cada vez mais, e com articulada ligeireza, a nossa passividade tem-nos tornado reféns da desordem social que cresce no núcleo da inversão de valores. A mobilidade, apenas sócio-econômica, tem premiado os “mal formados”, os “foras-da-lei” e os “idolatrados”. As vítimas destes fatos violentos, mesmo sendo vítimas, são protagonistas do mesmo cenário, de uma mesma realidade, que alicia, de forma acelerada e crescente, novos personagens.

Evidente que tudo isto decorre de um mal maior, patrocinado pela lógica consumista do grande capital, que tem sua maior ação nas sociedades mais vulneráveis, onde as necessidades justificam a exclusão da ética.

O irreparável mau exemplo da classe política e das nossas ditas autoridades públicas, como magistrados, policiais e administradores, dentre outros tantos, tem provocado uma crise institucional, sem precedentes, com efeitos nefastos que desdobram até à célula mater da sociedade, que é a família.

Se nossa sociedade civil não acordar da sua comodidade e cedição, com certeza, se verá mergulhada, com maior freqüência, neste caótico e infernal mundo de crimes e de degradação de valores, com a banalização do horror e do salve-se quem puder.

A construção de um Estado, de uma nação, a estruturação de uma sociedade, com seus valores, demanda um longo tempo e um esforço permanente, aguerrido, solidário e ético, de todos os cidadãos. Já o contrário, ocorre geométrica e exponencialmente, principalmente quando permeado por interesses econômicos, sejam externos ou internos.

Crimes hediondos, corrupção, crises institucionais, guerras, etc., fazem parte da história humana, mas a banalização e a predominância destes reduzem a vida, em breve tempo, a um inferno.

Como vemos, temos nos tornado, a cada dia, não somente reféns dos narcotraficantes e dos contrabandistas, mas, também, da indústria farmacêutica, da informática, dos serviços de telefonia, enfim, de toda a indústria do consumismo, que passa pelo mundo dos esportes, do cinema, da T.V., da música, criando falsos conceitos de valor. E, a isto tudo, agregando-se a extorsão estatal dos tributos, afinal, há um alastramento de corrupção econômica e moral que não distingue o público e o privado, não é mesmo? E pensar que já rebelamos, no passado colonial, contra a cobrança do Quinto do ouro que produzíamos.

Do freqüente para o comum o salto é geométrico e, se não nos ajudarmos agora, qual será o futuro que reservamos para os nossos filhos e netos?

Seguramente não poderemos responsabilizar Deus por isto.

Nota: Este artigo foi publicado também no jornal mineiro O Tempo - caderno Opinião, de 16-08-10, com o título A Inversão de Valores Por Que Passa a Sociedade. Nossos agradecimentos ao seu editor.

Di Amaral
Enviado por Di Amaral em 18/08/2010
Código do texto: T2446213
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.