Olhares perdidos

Olhares perdidos

Diariamente, percebe-se que o dia a dia das pessoas, tornou-se não mais um dia para viver, mas sim, mais um dia na tentava de sobreviver.
Milhares delas circulam, andam apressadamente todos os dias, todas as horas, por ruas, avenidas, becos e praças. Percebe-se que elas se olham, mas na verdade, não se enxergam. Tocam-se, esbarram-se, mas não se sentem e não se conhecem.
Os fatos nos mostram, a toda hora, que a degradação do comportamento humano caminha a passos largos.
Em meio a tudo isso, o que mais me sufoca é a desigualdade. São crianças famintas e pedintes que passam despercebidas. Outras tentam sobreviver em meio à multidão apressada e preocupada única e exclusivamente com o relógio, que teima em disparar seus ponteiros, que marcam segundos e minutos tão excessivamente valorizados. Essas pequenas criaturas sofrem, perambulam pelas ruas, por entre os carros, calçadas de botequins, bares e restaurantes, mendigando, ou tornando-se precocemente vendedores ambulantes mirins, quase sempre forçados pelos pais.
Infelizes crianças, as quais tem o propósito de ajudar no sustento da família, mas, infelizmente, são manipuladas, muitas vezes, por adultos insensíveis e inescrupulosos. Procuram instintivamente, sobreviver num mundo que se tornou massificado, dentro de uma sociedade em que tudo é negociável.
A expectativa desses “recados divinos” repletos de esperanças e sonhos por dias melhores está visível nos olhos de cada um, enquanto simultaneamente o coração pede e implora uma vida mais decente, (direito que sabemos caber a elas; mas assim, como outros direitos, também a nós reservados, em certos momentos não são respeitados e muito menos cumpridos).
O rosto carrega uma fisionomia amarga e triste, o olhar é frágil e carente, como se pedissem e implorassem: salve-nos, ajude-nos!
Muitas servem de cobaias, fazendo o imundo papel do voar rápido, denominado "aviãozinho”. Elas executam, inocentemente, um trabalho ilícito e deplorável.
Nos quatro cantos do País, muitas morrem de fome, sede e frio. Outras são negociadas e roubadas. Fazem parte da triste e disparata condição de uma mercadoria que é valiosa demais e, ao mesmo tempo, não tem valor nenhum.
Mais deprimente ainda se torna quando seres ingênuos que nem conseguiram ver a luz do mundo, são jogados no lixo, como o próprio lixo. Pior, desprezadas por aquelas que as geram e ao mesmo tempo, planejam o fim do seu fruto.
Em outras oportunidades, estas criaturas nem chegam a manterem-se vivas até o final da infância ou da adolescência, por conta dos maus tratos e também, como resultado das atividades criminosas que elas são obrigadas a praticar.

Tudo aquilo que é divino são valores incalculáveis.

Certamente, muitos se esquecem que o amor e o respeito são qualidades espirituais, cujos valores não podem ser calculados em termos de troca, irresponsabilidade e dinheiro.
Em outras calçadas e cantos imundos, observam-se pessoas sujas, mal vestidas, doentes e também famintas, que pernoitam a céu aberto, sobre jornais, os quais talvez noticiem as suas próprias vidas, que como os menores também imploram ajuda e socorro.
Nós apenas olhamos, fazemos de conta que não vemos. Desviamos e ignoramos tais fatos, mesmo quando os achamos absurdo, mas que aos poucos parecem torna-se normais.
Acredito que a maioria de nós nunca tentou se colocar no lugar daqueles que sofrem a injustiça. E também nada fazemos, por medo de nos envolvermos em questões, que cabem somente aqueles, de direito e dever.
A verdade é que nunca paramos realmente para pensar que naqueles pobres infelizes pode estar alguém muito especial, a quem pedimos ajuda todos os dias quando nos deparamos com situações para as quais sentimo-nos incapazes de resolver.