Adoçantes artificiais seriam cancerígenos? Não existem provas ou indícios sérios

Adoçantes artificiais seriam cancerígenos? Não existem provas ou indícios sérios

Há décadas que eu me impressiono com o medo que a população tem dos adoçantes. Mas o tempo passa e o medo continua. Em 2013 fiz uma análise da questão num blog e republico o texto, que continua valendo em todos os seus caracteres, sob o título original “Não existem provas – ou indícios sérios – de que os adoçantes artificiais sejam cancerígenos”:

Embora eu nunca tenha sido candidato à “turma dos gordinhos”, lá pelos 20 e poucos anos de idade me interessei por estudar – e praticar – a alimentação saudável.

Apreciador de doces e chocolates, esbarrei com uma dificuldade: a persistente informação de que o mais popular dos adoçantes, a combinação sacarina-ciclamato de sódio, seria cancerígeno.

Mas todas as referências se voltavam para um único estudo, realizado nos anos 1960, tendo ratos como cobaias.

Curioso, li o tal estudo no original, publicado em uma revista científica; pareceu-me uma fonte frágil para criar um conceito definitivo e assustador.

Mais três décadas se passaram e as suspeitas sobre o fator cancerígeno não receberam nenhum reforço de peso; ou seja, tornou-se um trabalho isolado, sem poder de influência científica, real.

Ainda assim, continua respeitado por alguns profissionais das áreas de medicina e nutrição, e com isso assustando as pessoas...

...e causando preocupações e prejuízos a diabéticos e obesos.

Os críticos dos adoçantes sempre encontram espaço na mídia para defender posição, divulgar seus nomes e fazer marketing pessoal/profissional.

Um recente exemplo foi a matéria com o tendencioso título “Só deve usar adoçante quem realmente precisa, defendem especialistas”, publicada em 15/03/2013 no portal UOL (que pertence ao jornal Folha de São Paulo).

Logo no lide (parágrafo de abertura), a autora praticamente empurra o leitor para o lado negativo: “Desde que os adoçantes foram criados, na década de 1960, várias dúvidas e polêmicas surgiram no rastro do produto colocando em dúvida não só sua eficácia, mas, principalmente, seus efeitos sobre a saúde. Embora vários estudos ainda não sejam conclusivos, convém saber mais sobre o assunto e sempre ouvir a opinião de especialistas.”. Nem a “eficácia” nem os “vários estudos” aparecem, de fato, na sequência da reportagem.

Como texto jornalístico, falhou ao ouvir os dois lados ao usar uma balança desequilibrada: a bandeja dos críticos tinha duas entrevistas com nutricionistas enquanto a dos defensores trazia apenas uma referência a uma cartilha avalizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A cartilha se baseia no Informe Técnico n. 40 da Anvisa; para não alongar, extraio um único e importante trecho: “Há aproximadamente 475 estudos científicos comprovando que o ciclamato não é carcinogênico.”.

E acrescento um trecho importante extraído diretamente do próprio Informe Técnico n. 40 da Anvisa, que é um órgão ligado ao governo brasileiro e ao Ministério da Saúde: “Em 1999 o ciclamato foi classificado pela Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC) como pertencente ao Grupo 3, isto é, não carcinogênico para humanos.”.

O fato é que a diabete e as doenças causadas pela obesidade são deprimentes: provocam dores fortes, lesões, gasto elevado de dinheiro, depressão, sofrimento e elevada mortalidade.

A crítica aos substitutivos do açúcar precisa ser mais responsável e deveria se ater a fatos concretos. E dar mais espaço aos especialistas possuidores de uma visão científica mais aberta, menos radical.

Para acesso ao inteiro teor do artigo, clique em.

http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2013/03/15/so-deve-usar-adocante-quem-realmente-precisa-e-com-moderacao-defendem-os-especialistas.htm

Para acesso ao Informe Técnico n. 40 da Anvisa, clique em.

http://s.anvisa.gov.br/wps/s/r/brZ7

Sobre o autor:

Márcio de Ávila Rodrigues nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, Brasil, em 1954. Sua primeira formação universitária foi a medicina-veterinária, tendo se especializado no tratamento e treinamento de cavalos de corrida. Também atuou na área administrativa do turfe, principalmente como diretor de corridas do Jockey Club de Minas Gerais, e posteriormente seu presidente (a partir de 2018).

Começou a atuar no jornalismo aos 17 anos, assinando uma coluna sobre turfe no extinto Jornal de Minas (Belo Horizonte), onde também foi editor de esportes (exceto futebol). Também trabalhou na sucursal mineira do jornal O Globo.

Possui uma segunda formação universitária, em comunicação social, habilitação para jornalismo, também pela Universidade Federal de Minas Gerais, e atuou no setor de assessoria de imprensa.