*A corrida da morte

Acorrida da morte

"A gente só vive mesmo nove meses.

Pois o resto amiga, a gente morre”

(Moacyr Franco)

A Corrida da Morte tem sua largada no exato momento em que, num ato de amor ou de irresponsabilidade, acontece a ejaculação seminal. Estima-se que 1,5 bilhão de espermatozoides são lançados neste momento. Isso é muito mais que a população da China, hoje. É uma corrida de suicidas, de desesperados, de náufragos à procura de uma única boia que poderá salvará apenas um desses infelizes destinados à morte por extenuação. Seria um feito glorioso, digno de uma medalha olímpica, se a corrida tivesse chegado ao fim. Não chegou.

Eu sempre valorizei erradamente a frase acima de Moacyr Franco. Achava-a perfeita, até que me dei conta de que o útero materno é um dos lugares mais inóspitos da terra. Depois de fecundado o óvulo e da concepção confirmada, vem o segundo martírio. Sabe-se que, desses heróis, 55,7 milhões serão extirpados pelo aborto. O útero, antes berço, transforma-se, inexplicavelmente, em uma espécie de necrotério.

Os felizardos que conseguirem escapar dessa ignominiosa prática ainda terão que sobreviver a outra catástrofe, uma vez que, em decorrência do parto, morrem diariamente, até completar um mês de vida, 7.000 bebês, segundo dados da ONU.

A vida é uma guerra constante, sem falar nas batalhas tribais, grilagens, lutas por posse de terras ou conquistas territoriais. Segundo dados oficiais, durante a Revolução Francesa, mais de 17.000 pessoas foram executadas. Genghis Khan matou 40 milhões; na Guerra Civil Americana, 970 mil pessoas morreram e na Guerra pela Independência do Brasil mais de 20 mil esticaram as canelas.

Já o comunismo matou a bagatela de 100 milhões de pessoas, segundo o historiador francês Stèphane Courtois. Foi um verdadeiro massacre, se compararmos com os 102 milhões de vítimas fatais que ocorreram durante as duas guerras mundiais.

"Se comerdes do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, por certo morrereis" – (Gen: 2,17)

Se comer, morrerá empanzinado e, se não comer, morrerá de fome. A fome mata no mundo cerca de 7.800.000 pessoas por ano ou 15 pessoas por minuto. Isso ultrapassa o inimaginável, especialmente por sabermos que existe alimento para todos.

Chegar à idade adulta, portanto, não é matéria fácil. Segundo a OMS, 1,2 milhão de jovens morrem anualmente de causas evitáveis e mais 500 mil morrerão por dependência química.

Sem dúvida, viver é a maior de todas as aventuras, é um ato heroico e chega a ser desumano. Dentro da cadeia alimentar, existe um círculo mortífero. O homem corre pra comer o teiú, o teiú corre para pegar a cobra, a cobra para pegar o sapo, o sapo quer comer o mosquito e mosquito mata homem de malária. No último ano, foram 405 mil pessoas no planeta perderam a vida, em decorrência da malária. Esse número tende a aumentar consideravelmente, se incluirmos as mortes causadas pela dengue e chikungunya. Vírus, bactérias e bacilos fazem a festa.

Os dados apontam:

Tuberculose: …...... 4.500 pessoas/dia Doenças respiratórias…….650 mil/ano

Gripe ……,,,,,,,,,,,,,. 660 mil/ano Câncer..…………….... 9,6 milhões/ano

Trânsito ….......….. 1,35 milhão/ano Doenças cardíaca…. 17,5 milhões/ano

Afogamentos ……..…. 370 mil/ano

Depois disso, só nos resta comemorar a vitória. Escapamos de todas as desgraças, merecemos um drink duplo por termos passado dos cinquenta anos. Sem dúvida, um feito épico, se não fosse a estatística de que 3 milhões morrem vítimas do alcoolismo anualmente.

Estamos de fato esgotados, sem forças, sem fé, sem esperanças e não por acaso. No grupo dos desesperados, 800.000 cometeram a estupidez do suicídio no último ano. Isso é uma lástima.

Vou terminar e lhes peço desculpas pela maçante narrativa. O lado bom foi que lhes poupei de falar que 1/3 da população "dasoropa", ou seja, cerca de 100 milhões de pessoas desapareceram com a Peste Negra no século XIV. E que a Gripe Espanhola ceifou 50.000.000 de pessoas.

Estamos morrendo outra vez, em decorrência do ciclo do coronavírus, ainda sem estatísticas. Eu já escapei da catapora, da lastrina, do sarampo, da difteria, da caxumba, das DST, de três afogamentos, de um naufrágio, de botes de serpentes, de um incêndio aéreo, da dengue e três assaltos a mão armada.

Sou um sobrevivente.

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Filosofia de botequim;

As lágrimas e o suor têm em comum o sal. As lágrimas salgam o rosto e a alma, o suor fortalece os músculos.