A COCAÍNA NA MEDICINA

Na medicina, a cocaína se fez presente, sendo usada por Freud e outros médicos, no afã de curar diversas moléstias. O presente artigo é tão somente uma breve revisão bibliográfica do que foi escrito sobre o tema. Os poucos dados encontrados, até o momento (sempre repetidos em todos os artigos lidos), despertaram a inquietação intelectual da pesquisadora, que desbrava uma nova área do conhecimento.

Em 1855, o químico alemão Friedrich Gaedecke conseguiu o extrato das folhas de coca, o erythroxylene. Quatro anos mais tarde, em 1859, o químico alemão Albert Niemann conseguiu isolar, entre os seus numerosos alcalóides, o extrato de cocaína, representando o principal deles (80% do total). Os demais alcalóides compreendem a nicotina, a cafeína e a morfina. Também são encontradas, em concentrações menores, a tiamina, a riboflavina e o ácido ascórbico. Aproximadamente 100 gramas de folhas podem suprir as necessidades diárias dessas vitaminas (FERREIRA 2001).

No início, a cocaína foi considerada um fármaco milagroso, e os americanos começaram a prescrevê-la para enfermidades particularmente difíceis de tratar. Tentaram empregar a cocaína no tratamento como um antídoto radical da morfina.

No final do século XIX, a cocaína foi distribuída na Europa pelo laboratório Merck a especialistas ao ensejo de que realizassem experimentos com a droga (LEITE, 1999).

Wiliam S Halsted, que seria conhecido como um dos pais da cirurgia moderna e um dos fundadores da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins, também pesquisou a cocaína por volta de 1880. Na tentativa de estabelecer o uso da droga como anestésico local, não ficando restrito à oftalmologia, Halsted passou a administrar cocaína em si mesmo e em outros. Ele e seus colegas obtiveram sucesso no bloqueio da dor, iniciando a era das cirurgias oculares, entre outras, mas o preço desse achado foi uma intensa dependência e, consequentemente, a deterioração profissional. Acreditando (incorretamente) que a morfina e a cocaína pudessem substituir uma à outra, Halsted utilizou morfina para tratar sua dependência de cocaína, tornando-se, também, dependente de morfina até o final de sua vida (NICASTRI apud FERREIRA; MARTINI, 2001, p. 97).

Freud contribuiu de maneira decisiva para a divulgação da nova droga, quando, em 1884, publicou um livro chamado "Uber coca" (sobre a cocaína), no qual defendeu seu uso terapêutico como "estimulante, afrodisíaco, anestésico local, assim como indicado no tratamento de asma, desordens digestivas, exaustão nervosa, histeria, sífilis e mesmo o mal-estar relacionado a altitudes (HAAS, 1995). O próprio Freud utilizava cocaína em doses de 200 mg por dia. Recomendava doses orais da substância entre 50-100 mg como estimulante e euforizante em estados depressivos. Freud utilizou cocaína para tratar um amigo, o médico Ernest von Fleischl Marxow, que havia se tornado dependente de morfina, prescrita para um quadro de dor intensa, por ter amputado a perna. O resultado foi um quadro de dependência dupla. Ernest von Fleischl Marxow desenvolveu delírios paranóides e alucinações de formigamento, tornando-se intratável. Freud também tratou o amigo Karl Koller, que recebeu o apelido de Coca-Koller devido à dependência desenvolvida com esse fármaco.

Freud foi acusado de irresponsabilidade pela comunidade científica da época por seu entusiasmo pela cocaína (WEISS et al, 1994). Em 1887, publica “Fissura e Medo da Cocaína”, descrevendo os sintomas paranóides, as alucinações e a deterioração física e mental associada ao consumo repetido. O próprio autor reputava o período de 1884-1885 como “o ano mais sombrio e mais fracassado de minha vida” (GOLD, 1993).

Não obstante, alguns autores, como Bucher (1992), defendem a tese de a cocaína ter contribuído indiretamente para que Freud realizasse a descoberta dos processos inconscientes, permitindo a criação da psicanálise. Dessa forma, Freud teria resgatado sua dívida com a humanidade, oferecendo um novo e poderoso instrumento para a autocompreensão sem toxicidade, embora não tão inofensivo para o "sono tranquilo", baseado na ignorância sobre o próprio respeito da sociedade (FERREIRA; MARTINI, 2001, p. 97).

A fórmula exata da estrutura química da cocaína foi descoberta em 1898 (FERREIRA; MARTINI, 2001). Em 1902, Willstatt (prêmio Nobel) produziu cocaína sintética em laboratório. Sob a forma de cloridrato de cocaína, a cocaína forma um pó branco cristalino (FERREIRA, MARTINI, 2001).

A cocaína foi empregada também como anestésico, inicialmente por Karl Koller que acabou desenvolvendo dependência e chegando a ser chamado de ‘Coca Koller’ (WEISS et al, 1994).

O conhecido pai da cirurgia moderna, Wiliam Halsted e um dos fundadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Johns Hopkins, procurou estabelecer o uso da droga como anestésico local. Obteve sucesso no bloqueio da Cocaína dor dando início à era das cirurgias oculares, entre outras. Halsted, no intuito de pesquisar a substância passou a administrar cocaína em si mesmo, desenvolvendo dependência. Na tentativa de tratar o problema com a cocaína, utilizou-se de morfina, tornando-se, também, dependente de morfina até o final de sua vida (FERREIRA; MARTINI, 2001).

Encerra-se esta breve visão da evolução histórica da cocaína quando relacionada à Medicina. A pesquisadora se compromete a atualizar o artigo, sempre que coletar novas informações.

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REFERÊNCIAS

BAHLS, Flávia Campos; BAHLS, Saint-Clair. Cocaína: origens, passado e presente. Interação em Psicologia, v. 6, n. 2, p. 177-181, jul./dez. 2002.

FERREIRA, Pedro Eugênio M.; MARTINI, Rodrigo K. Cocaína: lendas, história e abuso. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 23, n. 2, p. 96-99, jun. 2001.

GOLD, M. S. Cocaine. New York: Plenum Medical Book Company, 1993.

HAAS, L. F. Coca shrub (Erythroxylum coca). Journal Neurology Neurosurg Psychiatry, v. 50, n. 1, p. 25, 1995.

WEISS, R. D.; MIRIN, S. M.; BARTEL, R. L. Cocaine. 2. ed. Washington-DC: American Psychiatric Press, 1994.

Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 11/04/2012
Reeditado em 29/10/2016
Código do texto: T3605856
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