Natal
"Novamente é Natal. Em meio a tantos ruídos que agitam as festas de fim de ano, torna-se conveniente um momento de silêncio para refletirmos sobre o nascimento de Jesus e, assim, celebrarmos o acontecimento de maneira cristã.
O nascimento de Jesus é um fato histórico inconteste. Os evangelhos de Mateus e de Lucas apresentam concordância quanto aos dados históricos relativos ao nascimento e à infância de Jesus, já presentes nas comunidades judaico-cristãs desde os seus primórdios. A nenhum historiador é lícito, pois, ignorar esses dados, mesmo que impliquem uma postura de fé.
Tanto Mateus quanto Lucas atestam que uma Virgem chamada Maria, comprometida em casamento com José, filho de Davi, foi destinatária de um anúncio do Anjo do Senhor, cujas palavras lhe asseguravam que, por obra do Espírito Santo, conceberia um filho, a quem imporia o nome de Jesus, que quer dizer “Deus salva”. Conforme o relato evangélico, Jesus nasceu em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, e viveu com seus pais em Nazaré (Mt 1,18-24s.; 2,1-8; 2,23; Lc 1,26-38; 2,4s.; 2,11; 2,39).
A Igreja, desde os primeiros séculos, estabeleceu uma data para comemorar o nascimento d´Aquele que entrou em nossa vida para tornar-se companheiro de nossa caminhada, conduzir-nos à autêntica libertação e introduzir-nos no mistério da comunhão com Deus. No século V, já se celebrava em Roma, no dia 25 de dezembro, o nascimento de Jesus. Essa data foi escolhida, provavelmente, para substituir as festas pagãs do “natalis solis invictus”- o nascimento do sol invicto -, que ocorriam no solstício do inverno, quando se iniciava a diminuição da noite e o aumento do dia. Era a vitória do sol sobre as trevas.
Para os cristãos, Jesus Cristo é o verdadeiro sol que não conhece ocaso, o sol que ilumina todo homem (Jo 1,9). Portanto, nada mais natural que, em um processo de inculturação do evangelho, a Igreja, numa sociedade já cristianizada, tenha substituído as festas pagãs em homenagem ao astro-rei por uma homenagem ao verdadeiro Rei, pois nele foram criadas as coisas no céu e na terra, os seres visíveis e invisíveis (Col 1,16).
No século XIII, Francisco de Assis, que, a exemplo de Jesus, renunciou às riquezas deste mundo para viver na pobreza e na simplicidade, introduziu o costume de encenar, no Natal, o nascimento de Jesus, para que o gesto do amor infinito de Deus para conosco jamais fosse olvidado. Mais tarde, a representação cênica foi substituída pelo presépio, armado nas igrejas e nos lares, como ocorre até hoje.
A árvore de Natal, de pinheiro, surgiu no século XVI, na Alemanha e nos países nórdicos. Ali, as árvores, no tempo do Natal, castigadas pelo rigor do inverno, se desnudam e parecem sem vida. O pinheiro é a única espécie que resiste ao frio do inverno. Tornou-se, por isso, símbolo do Natal, sinal da vida em plenitude que Jesus veio nos trazer. A coroa do Advento, feita também de ramos de cipreste e ornada com quatro velas, que nos lembram que Jesus é a vida e a luz do mundo, é outro símbolo do Natal.
Na sociedade de consumo de nossos dias, o Natal foi reduzido a uma celebração de caráter meramente social, usada pelo marketing para despertar a ânsia do consumo, estimulada por ceias e presentes, que servem para animar o comércio. Em tal contexto, geralmente se relega ao esquecimento o centro da celebração: o Deus menino que se fez um de nós para se oferecer como vítima agradável ao Pai e, com sua oferta, livrar-nos do mal, dar-nos a vida e fazer de todos nós irmãos, filhos do mesmo Pai.
Celebremos o Natal no louvor e gratidão a Deus, que tanto nos amou, “a tal ponto que nos deu o seu Filho único, para que todo o que n´Ele crer não morra, mas tenha vida eterna (Jo 3,16). Assumamos, pois, o compromisso de defender e promover a vida de nossos semelhantes, elevada por Jesus Cristo a uma dignidade infinita, mas infelizmente tão banalizada em nosso país, tristemente marcado pelo selo da violência e da desigualdade social."