*Diz-me com quem andas...

Diz-me com quem andas...

Tendo como fonte primária os Evangelhos e baseado numa análise puramente subjetiva, escrevi uma das minhas Filosofias de Botequim: “Dize-me com quem andas, que te direi se irás longe”, numa contradita ao provérbio original: “Dize-me com quem andas, que te direi quem és.”

Justifico: andar com uma pessoa ruim não me torna igual a ela, aliás, esse pensamento é preconceituoso e imoral.

Repito que ele não tem qualquer fundamento teológico e poderá haver discordâncias que serão bem aceitas.

Como sabemos, foram 12 os apóstolos de Jesus: Pedro e seu irmão André; Tiago maior e João, também chamado de Boanerge, filhos de Zebedeu; Filipe e Bartolomeu, também chamado Natanael; Mateus; Tomé, também chamado Dídimo; Simão, o zelota; Judas Tadeu, irmão de Tiago menor, filhos de Alfeu; e Judas, o Iscariotes.

Mas será que Jesus teve apenas doze apóstolos? Seguramente que não, pois é sabido da existência numérica de setenta e dois discípulos. Nominalmente, apenas os doze acima e, posteriormente, José de Arimatheia, Nicodemos e Matias. Este último foi eleito como substituto de Judas, o Iscariotes.

Mas será que os apóstolos eram pessoas idôneas, retas? Provavelmente, não como imaginamos. Ao que parece, Jesus escolheu seus seguidores, sem examinar antecedentes criminais, CPF e, menos ainda, SPC, tanto que a consequência disso não foi das melhores.

Pedro, Tiago e João, por exemplo, merecem uma observação extra. Parece-me que faziam parte da “panelinha”, pois sempre que Jesus tinha algum fato importante, chamava-os à parte, para lhes comunicar. A meu ver, me parecem que eram pessoas com alto grau de irresponsabilidade, já que não cabe em minha mente que alguém possa, de chofre, abandonar a família, a cervejinha com os amigos, o trabalho, os compromissos assumidos, para seguir um cara totalmente desconhecido, aparecido do nada!

Ora, Pedro, por exemplo, chegou a ser repreendido publicamente pelo Mestre, pelo menos duas vezes, uma delas por arrancar a ‘zureia’ de um soldado romano, com uma peixeira nordestina. Por falta de fé, quase se afogou no Mar da Galileia, logo ele, pescador e velho conhecedor daquelas águas. E, para completar, acabou por negar três vezes que conhecia Jesus.

João e Tiago, por sua vez, pretendiam ficar, um à direita e o outro, à esquerda de Jesus no reino dos céus. Mostraram-se, não só soberbos, como também falsos, ao excluírem Pedro dessa jogada. Acabaram causando, também, indignação entre os outros apóstolos. Como se isso fosse pouco, João ainda se dizia “aquele a quem Jesus amava”, como se Jesus o amasse mais do que aos outros. Soberbo e gabola!

Já Tomé cometeu publicamente entre os apóstolos um pecado que perdura até os nossos dias: não acreditou na Igreja. Quando lhe disseram que Cristo havia ressuscitado, ele não só desqualificou a notícia, como exigiu do próprio Cristo provas minuciosas.

Quanto a Mateus, embora não haja acusações formais contra ele, sabe-se que antes de se tornar apóstolo, fora coletor de impostos, cargo tido como desonesto. Ora, se ele entendia de finanças, então por que não o encarregaram do tesouro dos apóstolos, em vez de a Judas Iscariotes?

Bartolomeu, também conhecido por Natanael, também esculachou com Jesus, quando Filipe lhe disse ter encontrado o Mestre e que era Jesus de Nazaré. A resposta foi: “Oxente! Marminino, tome tento! E poderá vir alguma coisa que preste lá das bandas de Nazaré?”

Nicodemos e José de Arimatheia eram discípulos de Jesus e não apóstolos, mas mesmo assim, eram dissimulados, preferiam se manter na “moita”, com medo das autoridades judaicas.

Judas, o Iscariotes, o único não nascido na Galileia, foi escolhido para ser o tesoureiro do grupo, justamente por ser o mais instruído. Em troca, traiu e vendeu Jesus como se vendia escravos, foi chamado de ladrão e ainda não acreditou na Misericórdia Divina, cometendo o único suicídio do Novo Testamento e o segundo de toda a Bíblia.

Por fim, Filipe, Judas Tadeu, Tiago menor, André e Simão passaram pela Bíblia sem deixar rastros. Eram do tipo que não cheiravam nem fediam, ou “Maria vai com azota”...

Dito isso, é notório que Jesus estava cercado de gente pouco confiável, falsas e covardes. Tanto que, no momento da crucifixão, todos o abandonaram, apenas José de Arimatheia, outro sonso, ficou assistindo a tudo de longe.

Na vida de Jesus há duas passagens em branco que ninguém conseguiu encontrar uma só linha escrita: da fuga de José e Maria para o Egito, por medo de Herodes, até os doze anos, e depois, dos doze aos trinta anos. Sua vida pública durou apenas três anos. Morreu jovem, aos 33 anos. Mas, aqui pra nós, acompanhado dessa gente ordinária, ele não poderia mesmo durar por muito tempo...

Portanto, dize-me com quem andas, que te direi se irás longe.

PS.: Por uma questão de justiça, devo ressaltar que o comportamento dos apóstolos mudou da lama para o vinho, após Pentecostes. Foram totalmente renovados e todos, exceto João, morreram executados por amor ao Evangelho.