SE NÃO ENTENDERMOS O VENTO, NÃO NOS PERCEBEREMOS COMO INQUISIDORES E ILHAS
 
SE NÃO ENTENDERMOS O VENTO, NÃO NOS PERCEBEREMOS COMO INQUISIDORES E ILHAS

Um século cristão para ser esquecido, foi o XV. Nele, todos nós fomos vítimas da intolerância, onde não conseguíamos entender o sentido dos ventos, que sopravam as plumas e folhas da nossa vida e nos levavam para frente ou para trás, para um lado ou para outro, sem sabermos se o zigoto viria sadio ou carregando os defeitos que atingem todos indistintamente, sem olhar de qual corrente filosófica são formadas as nossas opiniões e ações perpetradas no contexto social em que estamos eventualmente inseridos.

É uma pena, ver a pena vagando como um barco sem leme, sem velas e timoneiro, mas que afunda bem ligeiro, como caem as plumas, sob a procela tão nefasta, que encharca tudo à frente, nos deixando submissos aos entraves do atoleiro, que se mostra movediço, sem ao menos um caniço para servir de respiradouro.

E aí surgiu um Torquemada, bem no meio da jornada, que impede como uma trave o nosso tirocínio e visão de todos os espinhos que estão no nosso caminho, os quais nos fustigam em nossa breve caminhada.

Até o maravilhoso filósofo e cientista Galileu Galilei teve que enfrentar as perseguições religiosas de uma época obscura e distante do sublime mundo das artes e literatura, até porquê o ler era um direito subtraído do mundo além muro dos conventos e mosteiros.

Como seria poder sentar livremente nos bancos dos jardins, estando em comunhão com a natureza e as estrelas, olhando para o Sol como centro do nosso sistema planetário, deixando de lado o teocentrismo ou o terraplanismo, que tantas errôneas ilusões causaram aos seres humanos, dificultando o avanço do conhecimento sobre tudo que nos afeta e nos responsabiliza, visto que somos um pouco mais do que muitos, embora ainda estamos aquém do proveito de toda a nossa capacidade neural.

O que se percebe é que ainda perduram os resquícios inquisitoriais, entranhados em nosso caráter, que está vulnerável ao vento que sopra em nossas areias e dunas espirituais.

Então, é preciso entendermos o vento, pois somente desse jeito é que abriremos as janelas de uma sala escura, mofada, empoeirada e suja, onde nos encontramos enclausurados, para que as correntes de ar puro, ou necessariamente purificadoras, nos permitam vencer nossos ranços de autoritarismo bestialmente inquisitoriais, de uma pretendida sabedoria da verdade, que se propõe divina e não relativa, como deveria ser.

Só sendo capazes de olhar no espelho de nossas almas é que nos perceberemos inquisidores.

Afinal, para se buscar a cura, primeiro é necessário reconhecermos as nossas enfermidades, que são fruto de uma pré-histórica idéia, onde o enfrentamento da natureza selvagem exigia o endeusamento e a sublimação do mais forte.

Todavia, o nosso atual momento civilizatório nos exige mais a primazia do intelecto do que a tenacidade e o volume muscular proeminente, pelo que não podemos mais nos prestarmos a atitudes que atentem contra os princípios filosóficos arduamente buscados pelos humanistas, que nos propõem liberdade, igualdade e fraternidade, nos propondo também a geografia dos continentes, que soma e agrega, em detrimento ao isolacionismo das ilhas.


Publicado no Facebook em 07/07/2019
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 08/04/2020
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