As Testemunhas de Jeová e a prática nefasta do Ostracismo
"Ser banido significa ir pra longe, muito longe. Pra um lugar onde as pessoas foram conscientes demais...'' Aldous Huxley
Há alguns meses, um grande amigo, ex-Testemunha de Jeová, me colocou num grupo nacional de ex-membros da "seita" por conta de uma palestra que eu ia ministrar cujo tema era "Intolerância Religiosa". Eles me pediram para falar sobre a prática do Ostracismo, que algumas religiões praticam, dentre elas a própria Testemunha de Jeová e a Cientologia que é uma religião norte-americana do ator Tom Cruise.
Ostracismo é substantivo masculino, sua origem provém da língua grega, e dela deriva-se o óstrakismós que significa punição política, isolamento ou exclusão (banimento, repulsa, exílio). É um termo proveniente da Grécia antiga, sobretudo, da Democracia Ateniense, era uma forma de punição aplicada aos cidadãos suspeitos de exercerem poder excessivo e restrição à liberdade pública. Ele foi criado pelo legislador Clístenes, na sua reforma para consolidação do regime democrático ateniense. Em linhas gerais, o ostracismo condenava o acusado à perda de seus direitos políticos e ao exílio durante dez anos, sem a perda de suas propriedades.
O historiador Cláudio Fernandes nos informa que:
"Quando os cidadãos atenienses percebiam que a ordem democrática poderia estar ameaçada, utilizavam-se de dispositivos que acorressem à sua manutenção. Um desses dispositivos era o ostracismo, que nada mais era do que o banimento ou exílio de algum membro da sociedade (geralmente um ator político ou militar). Anualmente, os cidadãos reuniam-se na Ágora para decidir em quem aplicar o ostracismo".
A votação era feita por meio da inscrição do nome dos candidatos em pedaços de cerâmica, chamados ostracon (em grego), daí vem o nome ostracismo. Quem recebesse mais votos dos cidadãos era ostracizado, os mais famosos foram sob acusações de tirania ou pendor para a tirania. Exemplos notáveis são os dos participantes da Guerra do Peloponeso, os generais Temístocles e Tucídides, sendo esse último o famoso historiador e autor da “A história da Guerra do Peloponeso”.
Saindo da Antiga Atenas e aterrissando no presente. Vamos falar de outra prática de ostracismo, o praticado pelas Testemunhas de Jeová.
O ostracismo praticado pela Torre de Vigia é quando um membro é desassociado pelos anciãos, os líderes da seita, isso porque as testemunhas de Jeová acreditam que aqueles de fora da religião podem prejudicar sua fé. Ou a desassociação ocorre pela saída do próprio fiel por conta própria por motivos pessoais, discordância doutrinária ou teológica.
Ao ser desassociado ou se desassociar a pessoa se afasta de familiares, é afastado do convívio de amigos de longa data, pessoas que são fundamentais em sua vida e fazem parte de toda sua história. Filhos são expulsos de casa, pai e mãe morrem doentes sem receber ajuda, visita e atenção de seus filhos, tios e sobrinhos rompem relações de forma permanente, e amigos que se amam passam a viver como estranhos e incomunicáveis.
Essa é uma situação causadora de muita dor, sofrimento, doenças psicológicas e até a morte de ex-membros das Testemunha de Jeová.
A BBC de Londres fez uma reportagem sobre o tema desassociação e ostracismo e obteve as seguintes respostas da Torre de Vigia:
• "Se uma testemunha batizada viola o código moral da Bíblia e não apresenta evidências de que não continua a fazer isso, ela ou ele serão afastados e desassociados".
• "Quando se trata desse afastamento, as testemunhas seguem as instruções da Bíblia, e, neste ponto, a Bíblia diz claramente: 'Removam os homens perversos entre vocês '", afirma o texto.
Ailton Pereira, membro da Associação Torre de Vigia de Bíblias e Tratados e porta-voz das Testemunhas de Jeová no Brasil, diz que quanto à orientação de que familiares e amigos se afastem de pessoas desassociadas, a Bíblia determina na passagem 1 Coríntios 5:11-13 ser necessário cortar o relacionamento com alguém que mantenha uma conduta inadequada. "Seguimos os ensinamentos sagrados", afirma Pereira.
Diante de um comportamento considerado inapropriado, muitas vezes o afastamento ocorre para que "outros membros da família não sejam influenciados e a família seja preservada".
"O afastamento ocorre porque uma pessoa tomou o caminho. Se alguém está em um relacionamento imoral, é justo que o chefe de família proíba a pessoa de trazer seu companheiro para dentro de casa", explica Pereira.
Na verdade, essa orientação da seita de afastar os desassociados tem levado milhares de pessoas à tristeza extrema, à depressão, ao total isolamento e até ao suicídio. Não são poucos os relatos e reportagens que mostram de forma inequívoca o quão vil, desumano e abjeto é essa prática do Ostracismo.
Nesse grupo que faço parte criado por ex-integrantes das Testemunhas de Jeová, as histórias de ostracismos e suas consequências horrendas a suas vidas se multiplicam. O bom é que essa comunidade trabalha com a ajuda mútua, assim como, com atos de protestos e denuncias da seita, quando a mesma faz grandes eventos pelo Brasil.
Vejam a triste história de Lauren Stuart a seguir :
“Aos 45 anos, Lauren Stuart parecia ter tudo, um marido bem sucedido, duas crianças com formação universitária, um portfólio como modelo e uma casa encantadora no porto de Keego com uma coroa de corações decorado na porta.
Mas, por trás da vida aparentemente idílica, os amigos dizem que Stuart lutou com a angústia de ser condenada ao ostracismo pela religião onde ela e seu marido foram criados. Cerca de cinco anos atrás, Stuart e seu marido deixaram as Testemunhas de Jeová, uma denominação cristã que tem sido criticada por seu doutrinamento rigoroso e por sua prática de ostracizar ex-membros.
Na semana passada, Stuart baleou e matou seu marido e seus dois filhos adultos. A polícia encontrou os corpos na manhã de sexta-feira enquanto respondia a uma chamada de um parente preocupado.
A amiga de longa data da família, Joyce Taylor e outros amigos, acreditam que o assassinato e o suicídio foram consequência do ostracismo praticado pelas Testemunhas de Jeová. Ela disse que os Stuarts deixaram a religião há mais de cinco anos por causa de questões doutrinárias e sociais”.
Separar pessoas por conta de não comungarem da mesma ideia religiosa e discordarem de questões de fé e dogma é o exemplo mais vil de Intolerância Religiosa, de não aceitação da pluralidade de ideais e concepções teológicas.
As Testemunhas de Jeová deve ser denunciada, assim como a Cientologia e todas as religiões que praticam o ostracismo. Por esse ato insensível, desumano e impiedoso. Esqueceram que a bíblia diz que Deus não faz acepção de pessoas e que Cristo em Mateus 11:28-29 convocou a todos sem exceção a irem até Ele, para encontrar amparo e descanso para suas almas.
Todas as pessoas que não concordam com a prática do ostracismo, devem se unir para protestar e denunciar toda e qualquer prática nociva da Torre de Vigia e demais religiões que ao invés de pregarem sobre amor, solidariedade e compaixão, vivem a pregar uma mensagem de ódio, desamor, preconceito e intolerância.