BREVE SEMINÁRIO INFORMAL SOBRE A VIDA CRISTÃ - PARTE 2

UNIDADE 2

Apesar de estarmos usando os oito primeiros capítulos da epístola aos Romanos como base do nosso Seminário, não é nosso propósito apresentar um comentário bíblico exaustivo relativo à mesma, uma vez que o nosso propósito é o de discorrer sobre a vida cristã em todos os seus aspectos essenciais, e é sabido que há assuntos que são abordados em outras partes do Novo Testamento, como por exemplo a questão da relação e uso dos dons do Espírito Santo; do significado e implicações da segunda vinda de Jesus; das qualificações requeridas para o exercício do ministério etc.

É importante também frisar que na própria abordagem específica de Romanos, não nos prenderemos, necessariamente, ao comentário de todos os versículos, mas contemplaremos a epístola como um todo, assim como fora escrita por Paulo, porque na ocasião da escrita não fora dividida em capítulos e em versículos, o que foi feito posteriormente em relação a todos os livros da Bíblia, com o fim único de facilitar a localização de suas passagens.

Assim, quando Romanos foi escrita, como já dissemos anteriormente, o apóstolo tinha o propósito de discorrer sobre o significado e a forma de aplicação do evangelho, uma vez que não podemos esquecer que logo ao iniciar seu ministério terreno, nosso Senhor Jesus Cristo proclamava: “arrependei-vos e crede no evangelho!”. Ora como podemos crer naquilo que não conhecemos? Então é necessário aprender o que é o verdadeiro evangelho de Cristo para que possamos recepcioná-lo, vivenciá-lo, experimentá-lo, em outras palavras, crer nele.

Paulo está então abrindo para nós nesta epístola, como se vê em todos os demais documentos do NT, o que é o evangelho, e como é que se relaciona com a humanidade, segundo o propósito fixado para ele por Deus.

O principal alvo do evangelho é o de nos remir do pecado, de nos transportar das trevas para a luz, da potestade de Satanás para a de Deus, enfim, é a de nos apresentar santificados, inculpáveis perante Deus, para sermos úteis ao seu serviço.

Então o apóstolo vai continuar descrevendo no segundo capítulo de Romanos, a terrível condição de miséria a que está sujeita a natureza humana em razão de se encontrar decaída no pecado. E nisto não há qualquer exceção, porque todos são pecadores, por possuírem tal natureza pecaminosa.

Ele vai demonstrar o quão está o ser humano afastado daquela condição santa exigida pela Lei de Deus. O quanto a sua vida é oposta à mesma. E sem a graça do evangelho operando em sua vida o homem está irremediavelmente perdido na citada condição.

A propósito, Jesus definiu como sendo seus amigos, somente aqueles que guardam os Seus mandamentos. E a Bíblia nos ensina que amando o mundo, os prazeres carnais, o dinheiro e as riquezas terrenas, nos constituímos a nós mesmos inimigos de Deus.

Vemos portanto, a quantas condições de provocação da justiça, da santidade, da longanimidade e da comunhão com Deus estão sujeitos até mesmo os cristãos que não vivem segundo a norma bíblica, por não mortificarem a carne e andarem em novidade de vida no Espírito.

Já não são inimigos declarados por causa da cruz, mas vivem como se fossem inimigos da verdade da Palavra que é o único meio pelo qual podem ser santificados pela operação do Espírito Santo, quando deixam de amar ao Senhor guardando os Seus mandamentos, porque amam o mundo.

Lembro-me neste momento da vida santificada de Dona Tabita Kraule Pinto, reitora do Seminário Teológico Betel, com quem tive o privilégio de conviver por alguns anos. Confesso que nunca vi testemunho de vida cristã nestes dias como o desta querida serva do Senhor. Nunca murmurava, nunca deixava de ser simpática àqueles que sofriam, ou que estavam enfraquecidos, ou até mesmo perdidos no pecado. Quanto havia nela da presença de Cristo que era sentida por todos aqueles que dela se aproximavam. Sempre abundante em boas palavras e obras. Um exemplo vivo que marcou e ainda tem marcado a vida de muitos, mesmo depois de sua partida para a glória celestial.

Por que Dona Tabita havia alcançado tal testemunho de ter agradado a Deus e de ter sido tão útil em Suas mãos?

Não há qualquer dúvida que isto se deveu à sua determinação em pagar o preço da santificação pela sua completa consagração à vontade do Senhor, mormente no que diz respeito a praticar a Sua Palavra.

Ela seguiu a exortação do apóstolo Pedro em sua segunda epístola que nos ordena a crescer na graça e no conhecimento de Jesus, progressivamente, acrescentando com diligência contínua, virtude sobre virtude ao nosso viver, de modo que com isto não nos tornamos ociosos e nem infrutíferos para Deus e para o nosso próximo.

Afinal, a quem Deus enviará para abençoar a outros, ou quem será enviado a nós para ser abençoado, quando nós mesmos somos necessitados de sermos corrigidos e aperfeiçoados naquelas coisas mínimas que nos purificariam dos pesos que nos fascinam e dos pecados que nos assediam tão de perto?

Primeiro removemos a trave do nosso olho e depois estamos habilitados a tirar o cisco do olho do nosso irmão.

Deste modo, a vida de Dona Tabita poderia ser colocada por Paulo como um vivo contraste de todo o tipo de comportamento condenável que ele citou no segundo capitulo de Romanos.

Ali estão contemplados aqueles que sequer foram lavados pela graça de Jesus, e que portanto, permanecem nas trevas do pecado que os escraviza, e os leva a serem e a se comportarem de maneira contrária à Lei de Deus.

Feitas estas considerações gerais, vejamos agora o segundo capitulo de Romanos.

Romanos 2

“1 Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo.

2 E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que tais coisas fazem.

3 E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus?

4 Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?

5 Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus;

6 O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber:

7 A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção;

8 Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade;

9 Tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal; primeiramente do judeu e também do grego;

10 Glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego;

11 Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas.

12 Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados.

13 Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados.

14 Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei;

15 Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os;

16 No dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho.

17 Eis que tu que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus;

18 E sabes a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei;

19 E confias que és guia dos cegos, luz dos que estão em trevas,

20 Instrutor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei;

21 Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas?

22 Tu, que dizes que não se deve adulterar, adulteras? Tu, que abominas os ídolos, cometes sacrilégio?

23 Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?

24 Porque, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós.

25 Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se tu guardares a lei; mas, se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão se torna em incircuncisão.

26 Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos da lei, porventura a incircuncisão não será reputada como circuncisão?

27 E a incircuncisão que por natureza o é, se cumpre a lei, não te julgará porventura a ti, que pela letra e circuncisão és transgressor da lei?

28 Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne.

29 Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus. (Rom 2.1-29)

Se a condição de toda pessoa é a de estar naturalmente inclinada ao pecado, então, qualquer um que julga o seu próximo e se compara a ele, pensando que está justificado pelo simples fato de ser religioso, é indesculpável e condena a si mesmo, conforme o apóstolo afirma logo no início deste segundo capítulo.

Deus requer conversão, porque sem esta, não é possível atender à demanda da sua justiça, que não faz distinção de pessoas, condição de nascimento, ou religião.

É somente por um coração convertido, circuncidado pelo despojamento da carne, que se pode estar habilitado a viver de modo que seja condizente com a justiça de Deus, tanto no que se refere a uma sadia moralidade bíblica, como também na expressão de culto, serviço e adoração a Deus, conforme lhe são devidos e instituídos em Sua Palavra.

E sem Cristo na vida, habitando e operando em nosso coração, isto não é possível.

Daí Paulo ter afirmado nos versos 9 e 10:

“9 Tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal; primeiramente do judeu e também do grego;

10 Glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego;”.

Então ao se falar na graça, na fé, na justiça do evangelho que são recebidas de Cristo, e que estão em Cristo, fala-se ao mesmo tempo de uma operação real na vida do cristão, convertendo-o das trevas para a luz, e da prática do mal para a prática da justiça evangélica.

A pessoa que se converter realmente, será habilitada a amar a Palavra de Deus não somente para ouvi-la mas para praticá-la.

Ela será capacitada pela graça a amar a Deus e a seus irmãos em Cristo, e a buscar viver em unidade espiritual com Deus e com seus irmãos na fé, porque tem agora a habitação do Espírito Santo, conforme Deus prometeu que o daria a todo que fosse feito discípulo de Cristo.

Assim não é pela sua bondade e afeto naturais que o homem é livrado da condenação futura, porque todos são pecadores destituídos da glória de Deus, e necessitam serem justificados por Cristo, e serem regenerados e santificados pelo Espírito Santo, de maneira que não é a própria justiça da pessoa que a salvará, mas a justiça de Cristo que ela encontrou no evangelho.

E todos os que forem transformados pela graça do evangelho, viverão eternamente, porque buscarão andar na prática da justiça que é ensinada na Bíblia, especialmente no evangelho.

Por isso o apóstolo disse o seguinte nos versos 6 a 8:

“6 O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber:

7 A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção;

8 Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade;”

A desobediência à verdade aqui referida, é sobretudo uma rebelião contra a verdade do evangelho que é Cristo.

A resistência a Ele e a consequente rejeição ao evangelho é o que resulta em juízo divino, porque sem isto, ninguém está capacitado a viver do modo que é exigido pela Lei, ou pelo menos ser habilitado a caminhar por esta senda de obediência aos mandamentos do Senhor.

Jesus falou claramente sobre a necessidade de se nascer de novo para se entrar no reino dos céus.

Por isso foi logo ao ponto com Nicodemos lhe dizendo que não era o fato de ser um religioso sincero que lhe garantia o acesso ao reino de Deus, mas sim, caso tivesse uma experiência real de novo nascimento do Espírito Santo.

Deus não faz distinção entre judeus e gentios, porque não faz acepção de pessoas.

Os judeus não tinham portanto nada do que se gloriar em relação aos gentios, porque tanto estes que não estiveram debaixo da Lei de Moisés, quanto os judeus que estiveram debaixo da Lei, caso vivessem no pecado, pereceriam igual e eternamente, se não fossem justificados pela fé no evangelho de Cristo.

Assim, o judeu não se encontrava em vantagem em relação aos gentios quanto à justiça do evangelho, e nem os gentios em vantagem em relação aos judeus, porque tanto um quanto outro não são justificados por suas obras, mas por uma real união com Cristo.

A mera ortodoxia do judeu na defesa da Lei, não lhe ajudaria em nada quanto à salvação segundo o evangelho, porque não é por se ter a Lei e se gloriar em Deus, e saber a vontade de Deus e aprovar o que é prescrito na Sua Palavra, ainda que seja um mestre da Lei, não tem nenhum valor caso não se pratique aquilo que se defende, como Paulo diz nos versos 17 a 24.

Os que não conhecem a Lei escrita revelada por Deus também serão condenados caso não tenham sido justificados pela graça, uma vez que há uma lei escrita em seus corações, em suas consciências, ali colocada por Deus com o propósito de ensinar ao homem qual é o caminho pelo qual deve andar. Além disso, todos os homens estão debaixo da Lei original de Deus, do pacto de obras que fizera com toda a humanidade através de Adão, pois foi ordenado ao homem que seja perfeito em todos os sentidos (justiça, santidade, etc) diante de Deus. Esta é a Lei régia à qual se refere Tiago (2.8), resumindo-a no amor perfeito devido ao próximo. É a Lei do Rei. Do criador do homem e Juiz do universo. De Deus que fez o homem para amar e ser amado em perfeição de obediência aos Seus mandamentos. Uma vez quebrada a Lei, o homem se torna culpado e condenável a um juízo eterno.

Todos pecaram neste sentido. Todos quebraram a Lei régia de Deus e por isso serão condenados. Condenação esta da qual podemos nos livrar somente por meio da expiação e redenção do sangue de Jesus. (Veja mais detalhes nos seguintes links:

http://retornoevangelho.blogspot.com.br/2013/09/o-que-e-estar-debaixo-da-graca-e-nao-da.html

http://retornoevangelho.blogspot.com.br/search?q=como+a+miseric%C3%B3rdia+triunfa+sobre+o+ju%C3%ADzo )

Então, para aqueles que são salvos da condenação não há outro caminho senão o de viver para a justiça de Deus, na prática do bem.

Assim, não é bastante conhecer o bem; falar bem, professar o bem; prometer o bem, porque é necessário acima de tudo fazer o bem.

E segundo o apóstolo para praticar o bem conforme ele é definido por Cristo, é necessário viver na fé do evangelho, porque é por este meio que podemos comprovar para nós mesmos que fomos de fato salvos pela graça de Jesus.

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 27/04/2014
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