Transformação Social
“Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito” (Rm 12,2). Essas palavras de São Paulo são um convite para pensar acerca da relação existente entre conversão e mudança de estruturas injustas. Não dá para desvincular a práxis cristã do compromisso com a transformação de realidades que aprisionam o homem e o impedem de exercer plenamente a sua liberdade, pois conversão implica em mudança não somente de si, mas também da realidade que circunda o convertido.
É notório que ao ler as páginas dos Evangelhos percebe-se que Jesus quase não se expressou acerca da mudança político-social da sociedade de seu tempo. Esse fato pode encontrar inúmeras explicações: prudência, receio acerca do entendimento do Reino de Deus tão somente como uma realidade política e social, a crença numa parusia breve, receio de um confronto mais aberto com o Império Romano,... Contudo, ao ler com atenção os Evangelhos, vê-se que Jesus, embora estivesse preocupado em fazer transparecer a realidade mais profunda do Reino de Deus, não deixou de denunciar as injustiças e de transformar a vida daqueles que eram marginalizados pela sociedade de seu tempo.
Ao se deter nas citadas situações e refletir sobre elas, pode-se cogitar que Jesus talvez quisesse revelar aos homens uma realidade mais profunda que, para utilizar algumas terminologias marxistas, as estruturas e infra-estruturas que geram e mantém as relações sociais injustas nas superestruturas. Jesus, talvez quisesse revelar aos homens que a sociedade só muda quando há de fato conversão (metanoia), mudança de mente, mudança de mentalidade, pois, quando se há mudança de mentalidade, há também uma mudança que está para além do comportamento. Em outros termos, na mudança de mente ocorre a mudança de atitude e, no caso do cristão, o convertido assume para si a mesma atitude fundamental de Jesus Cristo e, deste modo, inaugura um novo modo de ser que questiona e transforma a realidade que o circunda e, de certa maneira, o mundo.
Afirmar o movimento de conversão como algo profundo não implica em defender a passividade do convertido, mas antes inseri-lo num movimento profundo e misterioso da realidade do Reino que cresce sem que o agricultor se dê conta (Mc 4,26-29) do que acontece.
O cristão transforma a realidade a partir de si, porém sem alienar-se do mundo ao seu redor. O processo de conversão leva o cristão a questionar e lutar contra as estruturas injustas sem, porém, incorrer o risco de na prática da justiça cometer injustiças. O verdadeiro cristão não pode julgar-se feliz, bem-aventurado, enquanto, ao olhar para o lado, encontrar alguém infeliz e marginalizado. Quem está em processo de conversão não consegue descansar enquanto não vê se manifestar plenamente o Reino de Deus, pois o amor de Deus revelado em Jesus Cristo constrange e impulsiona o homem em direção ao seu próximo, alvo de sua solidariedade e de seu amor serviço.