Solidariedade: o amor que salva o mundo
Nestes dias a cidade do Rio de Janeiro tem abrigado o evento “Rio + 20” que, além de celebrar o aniversário de vinte anos da “Eco 92” (evento no qual a cidade maravilhosa abrigou autoridades de todos os continentes e pessoas interessadas em discutir acerca do futuro do planeta principalmente no que se refere a ecologia), propõe uma retomada da discussão acerca da ecologia e do desenvolvimento sustentável com o intuito de reduzir e até mesmo frear a destruição acelerada do nosso planeta, bem como estabelecer relações harmoniosas entre os homens, o mundo em que vivemos e, quiçá, o cosmos. Em meio a essa atmosfera de debate que o Rio de Janeiro, bem como a sociedade global vem vivendo, parece que a Teologia contemporânea tem literalmente uma palavra a dizer: amor.
Falar do amor no tempo atual parece ser um discurso desgastado. Afinal, parece não haver palavra no mundo mais dita do que esta. O problema que o homem vem enfrentando não está na esfera do esquecimento desta palavra, pois o pedido de São Maximiliano Kolbe a seus confrades, “não esqueçam o amor”, ainda ressoa de certo modo nos ouvidos dos homens. Contudo, a grande questão que fica é: o que é o amor? Qual o sentido desta palavra? Como o amor, não apenas teorizado, mas também tornado práxis, pode vir a ser uma resposta concreta não somente para a salvação da humanidade como também do nosso planeta?
Talvez, de fato, a palavra amor ainda assuste ou não atinja o efeito desejado. Porém, o amor tem muitos nomes e cada nome é bem propício para determinadas situações. E, nas circunstâncias atuais em que o planeta vive, o melhor nome para o amor é solidariedade.
De acordo com a definição dos dicionários, solidariedade significa: qualidade do que é solidário; dependência mútua; reciprocidade de obrigações e interesses; direito de reclamar só para si o que se deve a todos. O pensamento teológico, contudo, sem abrir mão das mencionadas definições, mas fazendo uso delas e, ao mesmo tempo transcendendo-as, propõe que a solidariedade seja entendida como amor serviço; um tipo de fraternidade que começa com o próximo (semelhante), o outro semelhante a mim, passe pelo outro diferente de mim (criaturas) até atingir o Outro totalmente outro (Deus). A ordem descrita aqui não se refere a um caminho pré-estabelecido e que deve ser percorrido necessariamente nesta seqüência, até porque com a encarnação do Verbo esta ordem já foi invertida.
Contudo, se há de convir que é impensável uma solidariedade do homem com as demais criaturas sem que este seja solidário com o seu semelhante, pois assim como não é possível amar a Deus sem amar ao próximo (I Jo 4,20), também não é possível amar, verdadeiramente, as criaturas e o planeta sem amar o semelhante.
Neste sentido, analisando a situação atual do planeta a partir da perspectiva da solidariedade, parece que a chave da salvação do mundo, se é de fato que ele precise ser salvo, perpassa pela solidariedade humana. Esta solidariedade, tal como o amor do Deus Uno e Trino, não se fecha em si mesma, no que se refere às relações entre seres humanos, mas se abre para toda criação que anseia pela plena manifestação do amor fraterno e de serviço entre os homens (cf. Rm 8,19-23), também chamado de solidariedade que aqui ganha uma dimensão cósmica, tal como entendeu e expressou Francisco de Assis na sua vida e no “Cântico do Irmão Sol”, bem como a escola franciscana tematizou em sua Teologia e Filosofia.
Neste sentido, a solidariedade, entendida não somente como relação inter-pessoal, é o amor que pode salvar o mundo.