São Francisco e a Campanha da Fraternidade 2012
Estamos na quaresma. Encontramo-nos em um tempo propício para uma revisão de vida e conversão de realidades que destoam do projeto de Deus para a nossa vida. A quaresma é o grande retiro no qual toda a Igreja se prepara para acolher a boa notícia da ressurreição de Jesus Cristo; a boa notícia da vitória da vida sobre a morte, da graça de Deus sobre o pecado, enfim, do bem sobre o mal. Nestes dias a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio da Campanha da Fraternidade (CF), convida-nos a refletirmos e voltarmos o nosso olhar e coração para a questão da saúde pública em nosso país. Nós bem sabemos o quanto é deficiente o nosso sistema público de saúde. Mas, reconhecemos também o quanto o Brasil avançou nesta área e nos orgulhamos da nossa posição de destaque neste aspecto do cenário mundial. É preciso que não somente neste período quaresmal, mas ao longo de toda a nossa vida, lutemos para que todas as pessoas tenham respeitado o seu direito a ter um acesso digno aos tratamentos médicos.
O cuidado dos enfermos também foi um assunto que preocupou São Francisco em seu tempo. O santo chegou a escrever em sua regra que os frades que se encontrassem doentes deveriam ser tratados pelos confrades como estes gostariam de ser tratado se estivessem doentes (RB VI).
Essa atitude de São Francisco não ficou limitada apenas à relação entre os frades, mas atingiu a relação dos frades com qualquer pessoa que estivesse enferma e de modo particular com os enfermos incuráveis do corpo e desprezados pela sociedade, o que na sua época correspondia ao Irmão leproso. Queremos aqui citar dois exemplos desta atitude de São Francisco. O primeiro ocorreu em uma ocasião na qual, quando os frades ainda eram poucos, São Francisco, ao peregrinar até São Tiago (Fi 4), levou consigo alguns companheiros, entre os quais Frei Bernardo de Quintavalle (primeira pessoa a seguir o “pobrezinho de Assis”). Neste peregrinar, ao passar em certa região, o santo encontrou-se com uma pessoa enferma e abandonada e se compadeceu dela e pediu a Frei Bernardo para que interrompesse a sua peregrinação e ficasse servindo ao Irmão enfermo. E isto Frei Bernardo fez com tamanha devoção e amor que quando o santo regressou de
sua peregrinação encontrou o frade com o doente a ele confiado perfeitamente curado. Este fato gerou alegria no coração do santo e fez com que ele concedesse a Frei Bernardo ir a São Tiago sozinho no ano seguinte, pois percebeu no frade o dom da santa obediência e do serviço ao Cristo sofredor presente nos irmãos. Para o santo de Assis, o servir aos enfermos é tão importante quanto uma peregrinação.
Outro exemplo se deu quando São Francisco se propôs ele mesmo cuidar de um Irmão leproso e blasfemo (Fi 25) que fustigava qualquer um que tentasse servi-lo em sua doença. Nesta feita, diante da recusa dos frades a servir o mencionado irmão que não só batia neles como também dizia impropérios acerca de Deus e dos santos, o “Pobrezinho” se colocou humildemente na presença do mencionado leproso e se dispôs a fazer a este o que desejasse. O enfermo, então, pediu ao santo para que o lavasse, porque não conseguia suportar-se a si mesmo. E, São Francisco assim o fez com suas próprias mãos. Contudo, para a surpresa do enfermo e dos que viram o milagre, conforme a água ia tocando no corpo do doente carcomido pela lepra, a pele deste ia sendo restaurada e ficando como a de um recém-nascido. Esta atitude do santo fez com que o leproso prorrompesse em lágrimas e se arrependesse do mal feito a Deus e a todos os que tentaram ajudar-lhe. Em suma, o leproso foi lavado e curado no corpo e na alma.
Estes exemplos da vida de São Francisco, mais do que para serem admirados, devem suscitar em nós neste período quaresmal uma ação concreta em favor daqueles que sofrem em nossos hospitais e carecem não apenas da saúde corporal, mas também da saúde espiritual. Irmãos, trabalhemos para “que a saúde se difunda sobre a terra” (Eclo 38,8)!