O Prefácio Encoberto

 

Passados tantos anos escrevendo, em crônicas e poesias,  sobre o cotidiano brasileiro e sobre os caminhos de meu espírito, me vejo tentado a editar o livro tantas vezes sonhado.

 

Vou editar, 

Eu prometo.

 

E aí me deparo com um dilema.

 

A capa.

 

A capa é como um celular desligado, como um lustre apagado, como uma toga que envolve, esconde, protege o seu conteúdo sem revelar suas qualidades.

 

Ao mesmo tempo é a fechadura para o prefácio dos segredos paginados. 

 

Precisa ser reluzente, atraente, verdadeira e justa sobre o que encobre e o que anuncia.

 

 

Em tempos de negras togas, a capa precisa aguardar mais tempo para ser elaborada. 

 

Os segredos que ela abriga podem ser lidos tanto em suas licenças poéticas quanto em suas forças de expressão, e assim julgados de forma transversa no multiverso das opiniões.

 

 

Enquanto apenas as línguas e os tornozelos sejam aprisionados, as mãos livres escrevem mais uma página a ser guardada.

 

Sob a capa.

E depois do prefácio.