Eleitores não admiram currículos, isso é coisa de empresários

Eleitores não admiram currículos, isso é coisa de empresários

por Márcio de Ávila Rodrigues

Na época da campanha eleitoral de 2018, eu estava numa fila de restaurante e dois rapazes perto de mim conversavam. Um deles assim argumentou: "Por que tantas pessoas estão escolhendo Jair Bolsonaro para presidente? Não há comparação entre o currículo dele e o currículo do Fernando Haddad".

E citou a indiscutível formação acadêmica do candidato do PT para comprovar o seu raciocínio, supostamente lógico.

O fato ocorreu em uma região dominada por prédios de escritórios, provavelmente eram dois rapazes de boa formação universitária.

Mas o que me impressionou foi a incapacidade do jovem de compreender que ele dava muita importância a algo que não tem valor nas grandes disputas político-eleitorais.

Empresas exigem currículos e decidem em cima da análise deles. A parcela do eleitorado que transplanta esse raciocínio para escolher políticos é pequena demais para decidir eleições.

Puxando pela memória, somente um homem com currículo excepcional foi eleito pelo povo desde o Estado Novo de Getúlio Vargas. Talvez a afirmação inclua todo o período republicano, mas não fiz esta pesquisa específica na sua primeira fase.

Esse homem foi Fernando Henrique Cardoso, o único presidente que conseguiu domar uma hiperinflação descontrolada, que os mais jovens não vivenciaram na vida adulta e a minha geração esqueceu.

As massas populares, ao contrário das empresas espertas e eficientes, preferem personagens com aspectos míticos.

Predominam duas ideias subconscientes: a implantação de uma idealizada estrutura social e a submissão (pela força) dos grupos ideologicamente divergentes.

Infelizmente, boa parte dos que professam a ideia da submissão desejam, intimamente, a eliminação dos grupos por eles indesejáveis.

Por esses e por outros fenômenos sociológicos correlacionados, a história do terceiro mundo sempre teve o caráter pendular de períodos evolutivos e períodos involutivos.

[Texto originalmente redigido em 15/03/2021, mas de validade longamente duradoura.]

Sobre o autor:

Márcio de Ávila Rodrigues nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, Brasil, em 1954. Sua primeira formação universitária foi a medicina-veterinária, tendo se especializado no tratamento e treinamento de cavalos de corrida. Também atuou na área administrativa do turfe, principalmente como diretor de corridas do Jockey Club de Minas Gerais, e posteriormente seu presidente (a partir de 2018).

Começou a atuar no jornalismo aos 17 anos, assinando uma coluna sobre turfe no extinto Jornal de Minas (Belo Horizonte), onde também foi editor de esportes (exceto futebol). Também trabalhou na sucursal mineira do jornal O Globo.

Possui uma segunda formação universitária, em comunicação social, habilitação para jornalismo, também pela Universidade Federal de Minas Gerais, e atuou no setor de assessoria de imprensa.