Jejum presidencial: alguns apontamentos

O Brasil é um país que vive na Idade Média ou que tem se inspirado na chamada "Idade das Trevas".

Vivemos no obscurantismo. Estamos inseridos numa cultura em que milhões de pessoas acham normal líderes religiosos decidirem seus votos, porque elas não possuem consciência de decidirem por si mesmas, não são autônomas e por considerarem que os ditos "homens e mulheres de Deus" tem mais capacidade de decidir em seus lugares porque supostamente eles têm um contato sobrenatural e especial com a divindade.

O uso político da religião é uma epidemia no Brasil, mesmo combatida por muitos e inclusive pela legislação eleitoral brasileira, permanece viva e muito eficaz.

O presidente da República marca um Jejum Nacional e conclama os pastores brasileiros para convencer seu "rebanho" a participar. Isso é uma estratégia nefasta de ter a igreja nas mãos, de passar uma imagem de cristão, de se colocar como o porta voz dos crentes.

Primeiro porque você deve orar e jejuar quando você bem quiser e quando achar necessário. Você é livre para fazê-los ou deixar de os fazer. Não é o pastor, o padre, o papa e muito menos uma autoridade política quem vai ordenar dia e hora desses momentos ocorrerem. Faça-os quando bem entender!

Segundo, milhões de brasileiros já estão em jejum e vivem em Jejuns a anos. Pois sempre tivemos milhões de pessoas abaixo da linha da miséria e da pobreza. Esse contingente enorme faz abstinência de alimentos forçado e nunca políticos se interessaram em acabar com a fome deles. Além do mais, o atual governo nunca se quer fez um discurso contra as desigualdades sociais e a favor de mitigar a pobreza.

Terceiro, o governo já liberou a quase três semanas 1,2 trilhões a banqueiros trilionários. Mas até agora o pobre que está em jejum por causa da fome não teve acesso ao tal 600,00 que o Congresso Nacional já aprovou. O presidente demorou dias para sancionar e mesmo depois de sancionado não publicou no Diário Oficial da União, para que as pessoas possam receber o dinheiro e acabar com seu jejum.

Quarto, o presidente esqueceu mais uma vez que o Estado Brasileiro é Laico, ou seja, neutro em relação a fé professada pelo povo. Igreja e Estado são constitucionalmente separados. Não pode um chefe de Estado utilizar da sua prerrogativa para convocar um Jejum religioso, pois o mesmo não pode entrar na esfera da crença particular de ninguém.

Sêneca já dizia: "A religião é vista pelas pessoas comuns como verdadeira, pelos inteligentes como falsa, e pelos governantes como útil".

Como é útil a Religião para manter governantes no poder. Serviu a monarquias teocráticas no passado, por exemplo, no Egito, Roma, Israel e Pérsia. Que os governantes se diziam descendentes ou a encarnação dos deuses, ou colocados no poder pelos deuses.

Serviu por toda a Idade Média a governos despóticos que eram consagrados pela Igreja com a bênção do papa e do clero.

Justificou o absolutismo monárquico, criou teorias como a de Jacques Bousset, do "Direito Divino dos Reis", na qual dizia que quem se levantasse contra o rei estava indo de encontro ao próprio Deus, pois o rei era uma autoridade constituída por Ele. Assim sendo o rei poderia oprimir o povo como quisesse e as massas deveriam se manterem caladas.

Justificou ditaduras militares sanguinárias como a nossa e muitas outras ao redor do mundo. Não esqueçamos a "Marcha por Deus e pela Família", que foi o movimento que deu base a implantação da Ditadura Militar brasileira.

Enquanto a população não tiver educação política e conhecimento histórico vai achar "normal" jejum presidencial, não entenderá que isso nada mais é que uma estratégia para alienar as massas e manter o "gado" preso, não perceberá que está sendo usada politicamente e nem que tal coisa não cabe num Estado Laico, onde Estado e Religião são entes distintos e separados.

Acioli Junior
Enviado por Acioli Junior em 05/04/2020
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