Quarenta e Cinco anos Depois
O 25 DE ABRIL FOI DE CORPOS, NÃO DE MENTES.
Passados quarenta e cinco anos, após a aurora de sonhos, do 25 de Abril de, 1974, verifica-se que apenas mudou o regime e as pessoas, desde o Governo a toda a função pública, mas não mudou as mentes nem o maneirismo do Povo português, que persiste em meter cunhas, para tudo e mais alguma coisa, logo que lhe sirva para levar água ao seu moinho. Ora, quando a corrupção começa na base, não se deve esperar que pare no topo.
Filhos do pós 25 de Abril, agora no Poder, não conseguem fazer a diferença entre o antes e o depois, desde engenheiros aos domingos, doutores de secretaria, de tudo tem abundado, em sucessivos governos, desde direitistas ou esquerdistas, porque originários do mesmo Povo, que gosta de adular e meter cunhas aos padrinhos, numa militância ativa do “Venha a nós vosso reino”.
O atual nível de corrupção e compadrios na governação, na justiça, na polícia e até nas forças armadas, vinda de um anterior e impune crescendo, emergido das profundezas dos complôs de famílias políticas e de sangue, num regabofe da rez pública, daria letra a uma nova canção do saudoso Zeca Afonso; “Eles comem tudo e não deixam nada”
Eu costumo frequentar tertúlias poéticas, sendo natural, que, neste tempo, o 25 de Abril seja lembrado e exultado, porém, eu, que tenho vários poemas sobre o tema, estou farto de os dizer, porque, infelizmente, com tal nível de corrupção e a prática falta de ética, ao mais alto nível governamental, transformaram a pura aurora dos sonhos primaveris de abril num atual tempo vil; com tanta corrupção na governação e com o triste espectáculo do xico espertismo português, a residir nas nossas elites, que quando apanhadas, metidos até ao pescoço, no lodo da corrupção e do compadrio familiar, evidenciam a senilidade do seu estado mental do não sei de nada, do não me lembro, do não fui informado, não é da minha responsabilidade, etc, etc. É para rir?
Infelizmente, os princípios éticos não vinculam ninguém. Cada um tem o seu sentido d’ética! Só com força de lei é que se pode aplicar boas práticas, caso contrário, continuará o carpir, num blá blá, ficando tudo como está, com o Povo a continuar a beijar mãos aos padrinhos, para as cunhas da praxe, numa activa militância do “Venha a nós o vosso reino”
Enquanto a ética não passar a lei, a República mais parecerá uma monarquia, com seus fidalgos republicanos a receberem mordomias dos palácios de São Bento e de Belém.
Enquanto não mudarem e não castigarem quem corrompe e quem corrompido, com cadeia e a pagarem o triplo do valor envolvido, enquanto não proibirem a parentesco, até ao quarto grau familiar, nos assuntos da República, manter-se-á o tá-se bem! O porreiro, pá.
O importante não é a mudança de corpos, mas sim de mentes. Chega de blá blá. Ética por lei, já.
Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
Gondomar