A Periferia: um passeio pela realidade mundial



Por favor, não quero ofender ninguém - apenas compartilhar experiências.

Ontem um amigo me levou a conhecer um bairro da periferia de São Paulo. Vivo aqui há 30 anos, e não conhecia nenhum. Conheci diversas favelas, sim, e diversos bairros distantes - mas jamais a verdadeira periferia da cidade. E sei que é igual à periferia de qualquer grande cidade brasileira, quer dizer, os bairros que circundam o conglomerado de bairros nobres que compõe a cidade propriamente dita, com um espaço bem grande de terreno vazio entre eles.

Minha primeira reação, a instintiva, foi de medo. A segunda foi de interesse. Era como chegar a um país desconhecido. Daí pensei nas cenas de notícias, retratando os políticos percorrendo os bairros de periferia para angariar votos - os que clamam ser os "partidos da periferia".

E comecei a me zangar. Nada, absolutamente nada do que esses partidos prometeram mudaram a situação dos moradores. O desemprego ainda é estarrecedor. Estudar além do secundário ainda é um ato de bravura - é preciso viajar para chegar a qualquer universidade, e como todos precisam trabalhar, o dia não comporta horas suficientes para isto. Não há hospitais que prestem, nem clínicas. O comércio ilegal é o único que parece render.

E me dei conta de que finalmente estava no Brasil. No verdadeiro Brasil. Que a população da São Paulo dos bairros nobres é a porcentagem mais ínfima - o que move São Paulo é, na verdade, a população esmagadoramente maior dos bairros de periferia. E as maravilhas do progresso econômico e cultural jamais chegam até eles. E são explorados por políticos que lhes deram e lhes dão esperanças absurdas.

Eles se refugiam no cristianismo evangélico, no seu desejo de se elevar acima da sordidez das meninas engravidando aos 13 anos, dos meninos encontrando trabalho apenas no comércio ilegal, do alcoolismo, das drogas, da inexistência de famílias estruturadas.

E meu próximo pensamento foi que lugares assim são um campo fértil para a proliferação de revoltas. 

Meu terceiro pensamento foi comparar essa realidade com a vida dos EUA - também lá essa dicotomia é real.

Foi aí que percebi que minha vida nos EUA fora totalmente irreal. Que a minha visão dos EUA era totalmente distorcida. Provavelmente a minha visão da Europa também. Quer dizer, conheci os EUA e os países da Europa em sua nobreza - não conheci suas periferias.

Meu entendimento da política nacional e internacional cresceu nesse domingo. Agora sei que, quando defendemos este ou aquele partido, pensamento, movimento social, estamos defendendo nossos próprios princípios - os princípios que se aplicam à população "nobre". Aqueles mesmos princípios, entretanto, são negados à esmagadora maioria da população do globo.

Não é para menos que estamos onde estamos nessa crise mundial, que ameaça o estilo de vida que temos, a cultura, as artes, a ciência.

Afinal, restringimos nossa vida, nossa cultura, nossa arte e nossa ciência ao progresso da população nobre do mundo. E, como aconteceu na Revolução Francesa e na Revolução Russa, a periferia está prestes a se levantar. 

Não temos nem chance.



 

Dalva Agne Lynch
Enviado por Dalva Agne Lynch em 25/09/2017
Reeditado em 07/09/2022
Código do texto: T6124282
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