É difícil Entender
João Ferreira
27 de julho de 2017
É difícil entender que uma pessoa que tenha o mínimo de noções de civilização e cidadania não fique assustada com as notícias que a mídia nos traz diariamente sobre assassinatos no Brasil. Assassinatos que se tornaram tão banais pela facilidade com que acontecem, que nos levam a questionar se a vida humana é assim tão banal que nem as autoridades do país nem as instituições educacionais e religiosas estão conseguindo deter a mortandade. Numa tentativa de roubo de celular, uma senhora é abatida em Osasco, outra em Manaus. Uma idosa esfaqueada por um bandido que lhe roubou o celular. Bandidos que roubam cargas nas estradas, bandidagem que assalta bancos em cidades do interior, chacinas em S.Paulo, mortes de PM nas BPP do Rio de Janeiro, violência familiar, com mulheres assassinadas da maneira mais violenta e vil. Ciúmes, assaltos, vinganças. Tudo isto nos leva a repensar o valor da vida humana. O que vale uma vida humana? É o ser humano apenas um bicho, um ser qualquer, desprezível nas escala da vida? As nossas sociedades de hoje, com acesso ao uso de armas, de revólveres e armas brancas, facilitou o uso destas armas para perpetrar o crime. Tudo isto nos leva a rever as condições sociais em que o cidadão vive, suas liberdades e suas penas, o acesso comercial às armas, o nível de barbarização de setores da população e a pouca força dos atuais programas de educação familiar e escolar frente à onde de barbaridade que se abateu sobre as pessoas mais indefesas da sociedade. Toda esta constatação nos leva a questionar o que precisamos acrescentar ao ambiente familiar, escolar e social para manter respeitada e intata a vida de cada cidadão.
O Brasil tem a estatística terrível de cerca de sessenta mil assassinatos por ano. Quase um recorde mundial. Há números estranhos e escandalosos que superam estatísticas de guerra. No Atlas da violência mundial observa-se que os assassinatos no Brasil superam mortes por terrorismo e guerra do Vietnã e que os assassinatos de quatro anos no Brasil superam as mortes da guerra da Síria calculados em cerca de 256 mil.
Nas redes sociais, na mídia, em geral, e nas conversas entre cidadãos, esta realidade mete medo. O que mais intimida as pessoas é a insegurança que daí resulta, seja na rua seja nas estradas, seja em viagem ou até nas próprias escolas, locais de divertimento ou casas comerciais onde chegam balas perdidas.
Parece que simples comentários ao quotidiano da violência não têm alterado o roteiro da morte. Verifica-se que continua havendo por aí muitas pessoas inclinadas a matar. Não apenas os bandidos profissionais comprometidos com droga e tráfico de armas, assaltantes de bancos e de residências à mão armada. Há uma mentalidade estranha que reside no coração e na cabeça das pessoas e que leva essas pessoas a executarem outras pessoas ou até familiares e pessoas queridas por meras futilidades sem nenhuma justificativa. As pessoas revoltam-se, sentem-se inseguras, apelam para o Estado que não lhe garante a segurança. Há balas diretas apontadas e balas perdidas que chegam à rua e às escolas. Há facas assassinas manejadas por assassinos frios que cometem crimes de violência contra mulheres, crianças, contra homens e cidadãos em geral. Morrem crianças, morrem pais e companheiros, irmãos ou vizinhos executados por mãos criminosas. A primeira reação diante do crime surpreendente é as pessoas apelarem para a falta de polícia nas ruas. Diremos que é importante apelar para a função da polícia, mas o problema reside mais longe, já que a polícia é apenas uma das defesas de que dispõe o cidadão para se proteger. Uma análise mais profunda da questão, aponta para uma série de causas de que a maior parte da população não lembra sequer. Entre as mais profundas há que falar das condições sociais da educação, do tipo de educação, do tipo de formação que se dá às nossas crianças e jovens. Há que falar do ambiente que se respira nas famílias, nas escolas, nos centros de formação e nas ruas. Sobretudo do que pensam as crianças, os jovens e os adultos sobre o valor da vida humana, sobre o que é para eles a vida humana. Sim, porque tudo parte deste ponto. O que vale para o cidadão que maneja um revólver ou uma faca, uma vida humana? Há que colocar na balança a situação crítica de muitos órfãos, o abandono de muitas crianças, a pobreza extrema, a fome, a exploração econômica e moral de crianças e adolescentes, o conceito moral da vida humana, a miséria e ignorância de muito lares, a perturbadora violência doméstica onde se praticam os mais bárbaros crimes diante dos olhos aterrorizados de muitas crianças. Há que pensar na falta de programação direta das escolas no sentido de formar a mentalidade jovem da criança e do adolescente ensinando e praticando a valorização da vida humana. Há que falar e fazer palestras de instrução e debate sobre as principais causas desse alto índice de assassinatos registrado no Brasil e em outros países da América Latina. Há que associar que o que se passa na rua é gerado no tecido social da própria sociedade. Há que dizer para as crianças, jovens e pessoas em geral, nas conversas, nas palestras, na Tv, na mídia e nas redes sociais, que não existe geração espontânea nem biológica nem social. Tudo tem uma causa, uma explicação. Ora todas essas situações, que são verdadeiras, nasceram de uma traição e de uma afronta contra a vida. É necessário ponderar isso e admitir ao lado da assistência e da proteção do Estado contra a violência, há que desenvolver programas de conscientização sobre a dignidade e o valor da vida humana, ao mesmo tempo em que programas adequados de apoio à criança carente, pobre ou miserável entram no quotidiano das comunidades. Diremos que são importantes também os programas sociais de bolsas de família e de bolsas de estudo, como ainda a assistência social e os programas de segurança individual e social. O que não podemos é ficar apenas na revolta numa hora em que os latrocínios a matança e a carnificina correm soltos por aí ceifando vidas humanas. Temos de fazer mais para o agora e para o dia de amanhã. A medida mais profunda a