OS LIMITES DA GOVERNABILIDADE
No que muitos chamam de pragmatismo político, em alinhamento com a perspectiva de governabilidade e com a emergência permanente do diálogo, há valores, propostas e posturas das quais o agente político, líder e/ou educador político não deve se afastar sob pena de perder conteúdo, autoridade, credibilidade e coerência em seus projetos.
Ele deve estabelecer um limite de coerência e princípio ou um “daqui não passo”, por mais interessante e politicamente vantajoso que seja continuar.
Observem o exemplo da formiga. Ela também percebe naturalmente um limite do peso que pode carregar. E a governabilidade de um formigueiro é tarefa de todas as formigas. Fazem o mesmo to-dos os animais que em sua essência natural trabalham para o futuro da comunidade. Observem as andorinhas, o castor, os João de Barro e tantos outros animais. Naturalmente há o princípio comum da solidariedade e o “eu” está intrinsecamente realizado e comprometido com o “Nós”.
Ultrapassado o limite, o sujeito político vira objeto das circunstâncias, ondas e tsunamis da mesquinhez humana, que se potencializa na esfera política da sociedade do capital, onde os valores e princípios são substituídos pelas conveniências e “coisas”, em detrimento do ser.
Mas de quais limites o agente político não deve abrir mão? O limite da sua dignidade pessoal, o da sua capacidade de prosseguir com a missão que representa e não tergiversar ou trair a comunidade, bem como não abrir mão do conteúdo e valores que sedimentam sua história de vida. Ao mesmo tempo, saber-se parte de uma coletividade que o projetou à frente.
Mas o que fazer quando que se estar sendo gravemente desrespeitado ou subtraído em sua missão política? Se os adversários por força da manipulação e do jogo sujo impuserem seus próprios limites de governabilidade sob pena de provocarem iminente ameaça à continuidade ou impedimento? Neste caso, o caminho é ouvir e dialogar com todos que lhe dão sustentação, mas fundamentalmente ouvir, dialogar e buscar o apoio popular, junto aos segmentos sociais. Restabelecer o apoio da base, refletir, avaliar e não ceder aos adversários em sua lógica mercantilista do poder pelo poder, mesmo que “não ceder” signifique correr o risco que tentam criminosamente lhe impor.
Diante da intolerância do neofascismo - herança do velho fascismo -, é fundamental reunir, unir e agregar as forças democráticas e populares que não se deixam amesquinhar, nem se vender no mercado sujo da grotesca política conservadora, extremista e ultrajante.
Ao mesmo tempo, é preciso saber comunicar sobre qual origem foram paridas todas as mazelas e desvirtuamentos que rondam o frágil poder de governar - cumprir um mandato, gerir um projeto, uma instituição, uma cidade, um estado ou um país, diante de todas a ameaças que são impostas pelos fortes poderes que sustentam e constituem esta engrenagem chamada sociedade do capital, de cuja a República é miseravelmente refém. Que bom seria que fosse refém da cidadania e não da estrutura do capital, corruptível e corrupta em sua natureza.
Elias José da Silva, é educador popular, poeta e sócio fundador da Comunidade em Movimento da Grande Fortaleza (Comov).