QUE TAL UM ROLEZINHO?
Eu sou do tempo em que dar um rolezinho era circular – com a turma – pelas ruas do conjunto habitacional onde a rapaziada morava. Fato ocorrido na primeira metade da década de 70. Afirmo, ainda, que outras turmas utilizavam esse movimento de passear pelas ruas do bairro. As turmas faziam isso pra ter visibilidade e pra conquistar as minas! A rapaziada, em época, somente desejava: curtir, tirar um sarro ou onda! Era um exibicionismo de juventude... Era pura diversão, paquera e flerte.
A juventude de agora, também, deseja com os seus rolezinhos encontrar amigo/as, ficar de pegação, dançar, cantar e aparecer... Como eles dizem: “ficar bonito na foto!” Exibir-se pra sair de suas estruturas guetificadas. Enfim, das periferias em que foram confinados. Locais onde não há política púbica para juventude, principalmente, a favelizada. Essa juventude – rompendo as imposições socioeconômicas - não deseja ser alijada do processo de construção de sua cidadania e por isso dá um rolezinho pra se torna visível. E, pratica a partir desse movimento – às vezes – inconsciente: o direito de ir e vir... Enfim, o direito aos espaços da Cidade.
Essa juventude diferentemente da minha tem um fortíssimo aliado: as redes sociais - Facebook. Por isso, suas ações são mais céleres, agregam mais jovens e tem uma dinâmica avassaladora e por isso tem deixado os tubarões do comércio – shoppings centers enlouquecidos com esse novo fazer dos adolescentes! Eles imprimiram um ritmo que estava fora do contexto dessas “caixinhas-de-vidro”. Correria, barulho, canto, dança, beijação e flerte sempre foram atributos de quaisquer juventudes... Então, o temor vem pela incapacidade das elites da perda da hegemonia territorial.
O fenômeno do rolezinho trouxe à tona fatos que às elites do Brasil nunca admitiram: a ocupação do mesmo espaço territorial por diferentes classes sociais, principalmente, as historicamente subalternizadas. Daí, a repressão policialesca, a intimidação a partir da criminalização e a injúria pela politização dos rolezinhos. Esse contexto, traduz o temor dos shoppings centers aos roles e revela que, ainda, somos uma sociedade onde o componente socioeconômico e a cor da pele é tratado com intolerância...
Em verdade, o Estado brasileiro necessita dar um rolezinho pelas periferias das cidades e encarar de frente as mazelas sociais que se eternizam... Não dá pra executar o seu rolezinho a cada quatro anos. Pois, os rolezinhos de agora são a resposta a ausência de políticas inclusivas para as juventudes empobrecidas