Estrela do Lácio

“É preciso o caos cá dentro para gerar uma estrela”, poderíamos talvez dimensionar a célebre frase de Nietzsche para o presente momento. A unificação da nossa língua, fato memorável e de grande valor para a história lusófona, surge em meio ao caos e crises internacionais sob âmbitos políticos e econômicos. Queremos que nossa língua tenha o brilho de uma estrela, que conquiste status e que entre para o rol de línguas que possuem voz em organismos multilaterais de prestígio, como a ONU, por exemplo.

Entretanto, o momento é delicado. Dos oito países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste) apenas o Brasil encontra-se em situação favorável (estabilidade financeira e política, maior número de falantes, homogeneidade linguística). Os países africanos, cuja língua lusófona nem sequer é adotada como língua pátria pela grande maioria dos falantes*, têm suas próprias lutas para travar, enfrentam fantasmas maiores como pobreza, doenças, condições de saúde e educação precárias. Portugal, por sua vez, encontra-se tachado pejorativamente entre os seus, não tão seus assim, companheiros de bloco econômico denominado União (será?) Europeia. Ou seja, ele faz parte do “PIIGS”, sigla depreciativa formada a partir da junção das letras iniciais dos nomes (em inglês) dos países mais afetados pela crise: Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha. A sonoridade da sigla é semelhante a palavra “porcos”, também em inglês. Nota-se assim, que a coisa não anda muito boa para a terrinha dos nossos “irmãos” do outro lado de lá.

Diante das circunstâncias, parafraseando nosso ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é chegado o momento de assumirmos (Brasil) nossa grandeza, assumirmos a condição de país doador. Mais do que querer é preciso ajudar os outros a se desenvolverem. Causou-me grande contentamento, e por que não dizer orgulho, a iniciativa de se criar uma universidade como a Unilab (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira)**, a qual tem como intuito promover o desenvolvimento econômico, político e social entre cidadãos de lugares, cuja educação é menos favorecida (nordeste brasileiro e demais países africanos). O campus de Redenção localizado no município de mesmo nome, no interior do Ceará, prova que a união entre os países da CPLP é perfeitamente possível.

Se quisermos de fato que nossa língua seja lida e ouvida por todos, devemos adotar outras políticas como esta. Uma política que seja construída em conjunto, onde todos os representantes membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa tenham voz. A união só se concretizará se a língua portuguesa for aceita como língua comum a todos os países lusófonos, de modo natural e não imposto, para tanto é necessário que as particularidades culturais, bem como, as línguas presentes em cada país-membro sejam respeitadas e disseminadas pelo mundo afora. O caos já temos, basta agora, com muito discernimento, gerarmos a estrela do Lácio.

* Artigo onde podem ser consultadas as especificidades de cada país membro da CPLP (capítulo 5) <http://www.feth.ggf.br/L%C3%ADngua.htm>

** Maiores informações sobre a Unilab <http://www.unilab.edu.br/institucional/como-surgiu/>