Candidatos, jingles e som alto
Faltando pouco mais de vinte dias para o primeiro turno das eleições e após mais de um mês de campanha nas ruas, é impossível alguém não ter aprendido pelo menos um trechinho que seja das músicas dos candidatos. Em Viçosa-MG, por exemplo, são tantos carros de som tocando jingles dessa turma no último volume que tem sido o sonho de todos que moram e trabalham no Centro se mudar temporariamente para o “meio do mato”.
Partindo-se do princípio de que as músicas mais tocadas nas rádios comerciais e os CDs mais vendidos no Brasil são de qualidade um tanto duvidosa, um disco reunindo os hits de campanha poderia perfeitamente cair no gosto popular. Quem sabe os candidatos, ainda que contrariados, não liberariam parte do dinheiro arrecadado para obras assistenciais no município ou talvez para custear o tratamento dos que sofreram uma espécie de lavagem cerebral e não conseguem mais parar de cantar o que ouviram sem querer.
Ainda viajando nessa teoria estapafúrdia, caso parte da população comprasse o CD por filantropia seria até possível se organizar um grande lançamento do alto do Cristo Redentor viçosense, de onde todos teriam alguns segundos para lançar os discos, como nos tempos de criança. Óbvio que isto implicaria também na realização de um mutirão de limpeza para recolher do chão o resultado dessa catarse, enviando o lixo depois para a reciclagem.
Voltando às músicas em si (que dificilmente seriam compatíveis num mesmo CD, como os próprios candidatos não o são), é difícil alguém que consiga deixar de ouvi-las. Já há até quem abra a boca para falar algo e se surpreenda cantando o refrão de um desses jingles.
O que é engraçado observar nessas músicas de campanha é que todas elas parecem ter sido gravadas pela mesma banda. É como as propagandas de Juiz de Fora numa TV regional, que têm a mesma estrutura melódica e as mesmas vozes. Tudo leva a crer, neste caso, que a emissora tenha seus músicos de plantão para prestar esse tipo de serviço aos clientes.
É bom que se diga algo positivo sobre as propagandas deste ano: os candidatos estão plagiando menos os sucessos de grupos e artistas conhecidos do grande público. Pelo menos não temos que aguentar coisas do tipo que ouvi numa pequena cidade da Paraíba na eleição municipal de 1992. Um dos candidatos a prefeito, de sobrenome Pinto, massacrou aquela pobre comunidade com uma versão feita para um sucesso daquele ano nas paradas de axé: a tenebrosa “Rala o Pinto”. Não se sabe se foi com a ajuda do jingle, mas a verdade é que Pinto saiu vencedor e se manteve à frente da Prefeitura de Frei Martinho por quatro anos.
Certo é que os candidatos estão pouco interessados se suas músicas farão ou não parte das “piores da parada”. O que vale mesmo é que elas fiquem impregnadas nos ouvidos alheios. O que talvez eles não saibam é que esta estratégia pode ser um tiro no próprio pé.