O avanço da Medicina no Piauí

O avanço da medicina no Piauí

Lá por 1956, Teresina tinha, apenas, o Hospital Getúlio Vargas, conhecido, até hoje, como HGV, que era hospital de clínicas e cirurgias.

Na contramão do raciocínio, tínhamos dois hospitais de loucos: o Hospital Psiquiátrico Areolino de Abreu e o Sanatório Meduna, esse último pertencia ao médico Clidenor de Freitas Santos.

Não me passa pela cabeça que tínhamos mas dementes que pacientes de outras comorbidades, mas comentava-se á boca da noite que, um prefeito do interior, solicitará, anos depois, ao governador Petrônio Portella, a construção de um hospital psiquiátrico. Em resposta o governador dissera que mandaria cercar a cidade.

Por esse tempo, (1956) chegou uma Missão de Padres Redentoristas, estabelecendo-se na Vila Operária, onde, erguera, em tempo recorde, o Hospital Jesus e o templo de São José Operário.

Os médicos dessa época entendiam de tudo. Eram verdadeiros artesãos. De canela quebrada a apoplexia, cuidavam de tudo. Não tínhamos tantas especializações. Suponho que só existiam clínicos gerais, psiquiátricos e obstetras/ginecologistas. Também, não sei dizer quais procedimentos cirúrgicos se faziam em Teresina, uma coisa, no entanto, era certa: dificilmente, se encontrava alguém que não fosse operada das amígdalas, apendicite, ou hérnia inguinal. Acho que, de 1970 para cá, as pessoas passaram a nasceu sem esses três elementos. Lembro-me de um caso de um rapaz que chegara de Manaus para fazer uma raspagem no olho. Pra mim, aquilo era impensável.

O HGV contava, ainda, com uma ala conhecida como Pavilhão, destinada a internamento e tratamento de tuberculose pulmonar.

Como acontece ainda hoje, as pessoas praticavam a automedicação. Os medicamentos mais usados eram pílulas contra e pílulas do Dr. Ross.

Esses dois remédios eram vendidos por unidades nas quitandas. Sem o mínimo do mínimo de higiene, a mão do quitandeiro que cortava sabão, bombeava querosene e contava dinheiro, era a mesma que pegava nas pílulas.

"Pílulas do Dr. Rosse, entra pela boca e sai por onde pode" e pílulas contra estupor, eram engolidas para curar difruço, febre, dores de cabeças, diarréias, espinhela caída, tosse de cachorro, moleira funda, bico de papagaio, erisipela, três sol, istalicido, papeira… Acredite se quiser, não se saber como, mas curava!

Até hoje, não sei o que venha a ser estupor.

Para quebranto e mal olhado, uma rezadeira com galhos de vassourinhas resolvia o problema.

Embora tivéssemos uma maternidade, a maioria das mulheres pariam em casa, sob os cuidados de uma parteira prática. Exceto, em casos complexos, como de partos fórceps. "Les dames de lá sociétè", eram atendidas com mais assiduidade.

Muita gente morria de "sopro do coração".

Não existia câncer, pelo menos, com esse nome só se conhecia o signo do zodíaco.

Tínhamos duas grandes lojas de remédios: a Farmácia do Povo e a Botica do Povo, essa, mais conhecida como farmácia da Drª Lili. Se não tinha o medicamento industrializado, eles manipulavam.

Apoplexia virou hemorragia interna; sopro do coração virou infarto do miocárdio; espinhela caída, hoje, é deslocamento do osso do meio tórax; papeira, agora, é caxumba; difruço virou síndrome gripal; estalicido mudou para asma; laringite estridulosa é a antiga tosse de cachorro; osteófito, antigamente, era bico de papagaio; três sol, agora, é hordéolo; moleira funda rebelou-se e continua com o mesmo nome.

No geral, a nomenclatura mudou e até o nosso mais conhecido obstetra, o Dr. Sulino mudou, pregando-me um susto quando, um dia, vi seu nome escrito na placa de seu consultório: Dr. Ursulino Veloso de Sousa Martins Filho, médico de senhoras.

São coisas da minha terra.

PS.: O Sanatório Meduna, tinha esse nome em homenagem ao psiquiatra húngaro Ladislau Joseph Von Meduna, que revolucionou o tratamento da loucura pelo cardiozol.

Dr. Clidenor de Freitas Santos faleceu, em Teresina, no ano 2000, aos 87 anos.

Dr. Ursulino faleceu, em Teresina, em 2011, aos 98 anos de vida.

×××××××××××××××××××××××××××××××××××

O Poeta Helenilson Martins me mandou essa colaboração admirável:

Na falta de assistência governamental

O povo faz o dar na telha/

E acabam fazendo da garapa

O tão esperado mel de abeia

Que quando chega não dá pra todos

E muitos do nosso sofrido povo

Continuar fazendo o que dá na telha.