Musical brasileiro ou Putaria para Punhetarem?

É deleitoso despertar numa manhã preguiçosa, ouvindo os ploc-ploc da chuva no telhado; e meio cambaleante de sono, oferecer os ouvidos aos gorjeados dos pássaros; e ao retornar da viagem ao desprendimento material, ficar quieto, enroscado nos cobertores e soltar a imaginação, deixando-a flutuar pelas magias e mistérios da vida. Limpar o recinto e organizar a bagunça mental cotidiana, é necessário.

À continuação, um café quente, fumegante para ativar os neurônios, compensaria o descaso do Sol matutino, porém, soma-se a solitude devaneadora, ouvir o quinteto, ser tocado pelos sensíveis gigantes das cordas e sopro, é, deveras, um baita psicoativo. É sentir-se alquimista, transformando caos em paz. É transformar olhares enviesados em amores puros, sólidos, ternos, decantados. Ao atingir tal estágio, o nirvana reside em mim e a suavidade musical produzida por Eles, altera a minha consciência, desafoga a minha mente, facilitando a conexão com a dimensão superior.

Esses são brasileiros que revivem, tocam, despertam os sertões, grotas e rincões de um "Senhor" Brasil que, por sorte, ainda não foi fragmentado em pequenas glebas; ao contrário, mantém as raízes, frutos e sementes intactos.

Ao citar as grotas e os sertões brasileiros, deve-se também citar Guimarães Rosa e o trem que desbrava-os. Não o desengonçado trem barulhento, sisudo, que cospe baforadas de fumaça na atmosfera, mas o vibrante, sonoro, que chega e sai dos palcos entopetado de notas e harmonias, o "Trenzinho", o estupendamente bem arranjado "Trenzinho caipira" no diminutivo, composto por Villa Lobos, esse é o trem melodioso que consegue ultrapassar, possui tração suficiente para superar "Morros Velhos" das alterosas mineiras que nada mais é, que altos montes e colinas abertas por rasgos de riachos, cachoeiras em despenhadeiros, fendas por quais correm as águas cálidas e mansas dos córregos e matas verdes, torrão de terra difundido nas letras das canções do notável Milton Nascimento.

Provavelmente, junto com "Aquarela do Brasil", suas notas e acordes são as falas principais, os expressivos signos, de todas as falas e signos do povo brasileiro; afinal, muitas vezes os costumes e as tradições de um povo passa pelo crivo de determinado estilo musical.

Quem se propõe à arte, antes de tudo, se propõe à vida plena, que para os desentendidos, é um estilo de vida insano, sem brilho. Taí a controvérsia, sobre...; porém, para desmascarar os tolos desentendidos, os caras são fenomenais, são musicais, são sentimentos cordiais. Tocam de corações abertos e olhos fechados!

Valeu violonista Ulisses Rocha, violeiro Ivan Vilella e cia, por instrumentalizar música e simplicidade de um Brasil adimensional, cujas influências possuem a "cancela" (portinhola ou porteirinha) modelo e marca "Brasilidade", no palco do Sesc Instrumental.

Em todos os espetáculos, a musicalidade transcende o sublime; daí, é suprema necessidade revisita-los, sempre!

Ulisses Rocha | Programa Instrumental Sesc Brasil - são vários shows, o descrito no artigo, é o show em quinteto: violão, Cello, viola, sopro e baixo .

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 27/05/2024
Reeditado em 28/05/2024
Código do texto: T8072337
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