Dentadura nunca Mais!

"É proibido a estada de pessoas entranhas;

E proibido a permanência neste local;

É proibido consumir alimentos aqui;

É proibido fumar em ambientes fechados;

É proibido entrar sem máscara;

É proibido transitar pela fábria sem EPIs;

É proibido entrar sem camisa;

É proibido colocar os pés na mesa;

É proibido pisar na grama;

É proibido sentar em qualquer degrau da escada;

É proibido usar amálgama de ouro nos buracos dentes?

É proibido fazer o mínimo de ruído nos arredores do hospital;

É proibido o vírus de circular, livremente ou acompanhado mund'afora;

É proibido proibir, certo Caetano Veloso?

Resquício da ditadura, o Macaco Prego que Eu criava com maior carinho e esmerado cuidado, chegou sorrateiro, de mansinho nas asas da obscenidade da madrugada e páá: metendo as patas sobre elas, roubou e colou as minhas dentaduras nas saliências de suas gengivas com corega e sumiu no breu soturno. Certamente fiquei banguela, mas possivelmente, dentadura nunca mais.

Trocados pelos implantes de porcelana, vão-se os dentes postiços, fica o copo com água.

É proibidp roubar as minhas dentaduras, Macaco Prego.

Por sorte, o maldito ser pertencente à espécie que a ciência teima em dizer que sou herança genética, esqueceu o copo com água. Quando vier a estiagem, daquela que retorcem troncos de árvores e ressecam vísceras, terei o que tomar.

Obs.: tomarei a água sem tártaro, pois exijo tratamento de potabilidade do líquido precioso. Quem governar o país, que se vire; afinal, ditadura (nunca) é de mais.

Na dita cracia dura do demo, é rigor máximo para nada; e nada de rigor para o que acontece no paraíso da corrupção; afinal, enquanto a lei é fraca, a mente dos que julgam é forte e vale pepitas de ouro.

Ditadura nunca mais; corrupção e insegurança em alta dosagem homeopática, todas as horas.

Zé Ramalho

Apenas a arte permite a insanidade, a lucidez e a visão iluminada dos misântropos; e não há nada: nem a família, nem o sistema político, nem os antropófagos sociais, nem o poder do dinheiro impõem regras, decretos e procedimentos corretos ao seu trabalho, à sua obra, pois acima de tudo, sua alma é, humanamente arredia. Rebelde em essência.

Tudo isso e mais um pouco, faz parte do místico, visionário, indizível Zé Ramalho. Cada letra, um poema; cada poema, uma imersão no abismo incongruente, inóspito, indiferente coração humano; pois nas entrelinhas, Ele pontuava que reinventar o homem, era preciso! Agora, exatamente nesse instante, diante de tantas tragédias que estão acontecendo, diante de tantos esqueletos esquálidos aniquilados e lançados por terra, por um simplório, eficiente, didático e competente vírus, mais ainda.

É proibido filosofar Zé Ramalho.

Poucas e boas são as coisas que emocionam. Trazem-nos à realidade que acima das vaidades e egos, impera o silêncio, a humildade, a simplicidade e nada mais esperançoso que o menestrel pontear a viola em homenagem a catarse natural. Quem dera se os corações e consciências fossem tocados, como os bicos dos colibris tocam a essência das flores, à procura do sublime néctar.

Seria Eu ingrato, covarde, canalha, se não compartilhasse uma obra memóravel, com notas e acordes melíferos, como a que ouço.

É proibido difundir, copiar parte ou a obra inteira de outrem, Mutável Gambiarreiro.

Aos incrédulos e céticos, se quiseres saber o real valor de um copo com água, pergunte ao camelo, único animal que cruza o deserto com temperaturas extremas, daquelas de trincar vidros e lascar metais. Como em tudo há, ao menos a lei da ação e reação de Isaac Newton, quais serão as ações de cada um após ouvir esse redemoinho poético? As consequências posteriores dirão, afinal, cada mata ciliar é responsável pela cristalinidade, pureza e potabilidade d'olho d'água.

Música naturalista, águas chorosas derramada aos borbotões dos montes, imensidão de mares ao longe que marejam vistas, conversa singela de matuto ao soprar o vento na boca da noite, bandos de maritacas em resenha vespertina no bambuzeiro, esse é um Brasil dentro dos muitos brasis; imenso, gigantesco território, para o qual, o brasileiro tapam os ouvidos e olhos. Agora, não só os olhos e ouvidos, mas tapa a boca, também. Cruz credo, em que abismo chegamos!

Como disse Paulo Guedes, "o brasileiro não conhece Cachoeiro do Itapemirim, terra que germinou Roberto Carlos para o mundo; mas se mete a falar de New York, Disney, etc".

É proibido cantar as coisas da terra, Cláudio Lacerda; mas está liberado falar inglês e não menos, reverenciar o que pertence aos gringos.

O homem sempre foi e continua sendo explorado pela sua espécie; mas, nada se compara a exploração do homem ao Meio Ambiente

         É proibido destruir o Meio Ambiente, concorda Deus, Criador de todas as Coisas"?

- nem se apoquente, Mutável; pois essa minha imagem e semelhança, não há satanás, muito menos vírus, no mundo, que dê jeito".

O laboratório dos homens autossustentáveis e naturalmente, sensíveis, são os pés na estrada, mochila nas costas, profundo e perspicaz olhar nas belezas que a Natureza oferece gratuitamente.

Adjetivada como brava, rica, longeva e resistente, saibas que só pode ser Ela, Natureza resiliente!!

É proibido desmatar e tocar fogo nas matas, tanto quanto não deve detruir os recursos naturais; coconcorda Deus, Criador de todas as Coisas"?

- nem se apoquente, Mutável; pois essa minha imagem e semelhança, não há satanás, muito menos vírus, no mundo, que dê jeito".

Prá encerrar o papo, Deus: é proibido pensar, questionar, refletir, mudar os objetos e as coisas para uma prateleira melhor, mas para pior, sim, Criador!

Caralho, democraticamente, proibe-se tudo!

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 03/04/2021
Reeditado em 03/04/2021
Código do texto: T7222749
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