LITERATURA INFANTIL
É importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um bom leitor, e ser leitor é ter caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo. (ABRAMOVICH, 1993, p. 16).
Concepção e importância da leitura
Entre as mais belas formas de se adquirir conhecimento está a leitura. Per si, permite não só o alargamento, como também submergir no saber em determinada seara cultural ou científica. Confrontada à leitura, cabe à alma esvair-se na ousadia. Ler é ver. Deve-se, portanto, aprender a ver.
O livro impresso não apenas difundiu a ciência e a sabedoria, mas, abriu-se aos sentimentos dos indivíduos que através dos séculos expressam as suas aventuras e os seus mais recônditos sonhos e paixões.
O livro é a escritura da universalização da humanidade, considerado o mais espetacular instrumento do homem, movedor do espírito, que vem em auxílio da sua pureza e insuficiência, proporcionando-lhe o delicioso gozo de crer que pensa, ainda quando talvez não pense nada.
Ler é processo intelectual. Insere-se no processo histórico-social e na vida do indivíduo, ao permitir a interação da pessoa humana com o presente e o passado, na medida em que efetiva as metamorfoses culturais que respaldarão o futuro.
Na era pré-histórica, utilizavam-se os homens das experiências empíricas para ler o mundo em que habitavam, ainda de forma tão insubsistente. Hodiernamente, patrocinados pelos sobejos meios de comunicação e informação, os homens apreendem não só as leituras do mundo adjacente como também aquelas científicas. Nesse refrão, ler significa conhecer, interpretar e decifrar (LAKATOS; MARCONI, 1992, p. 15).
À leitura deve-se reservar um espaço de prazer, que vai do arrepio da pele à convocação de aliança entre as mentes inebriadas do escritor e do leitor. Sendo assim o processo de leitura de uma obra, qualquer que seja, exige interação, diálogo íntimo entre autor e leitor, que, ao apelo da palavra se desnudam, estabelecendo-se um natural processo de sedução. Subjaz implícita no texto a volúpia da descoberta, a ciência dos prazeres da linguagem, e o autor convida o leitor, que aceita adentrar nesse mundo de deleites intelectuais. Na verdade, a voz do autor entra em tensão dialética com a voz do leitor no próprio instante da leitura: "Heráclito disse que ninguém desce duas vezes o mesmo rio. Ninguém desce duas vezes o mesmo rio porque suas águas mudam. Mas o mais terrível é que nós não somos menos fluidos do que o rio. Cada vez que lemos um livro, o livro mudou, a conotação das palavras é outra. Ademais, os livros estão impregnados de passado. Os leitores foram enriquecendo o livro." (BORGES, 1995, p. 11)
A leitura de um texto confere ao leitor um papel vivo e enérgico direcionado à reconstrução do seu conteúdo, apoiando-se em sua experiência antecedente, em suas noções teóricas e, também, empunhando por fundamento a intenção do autor e a ambiência linguística que possibilitam a declaração das ideias pretendidas.
Salvador (1980, p. 100) disciplina que ler significa: “[...] distinguir os elementos mais importantes daqueles que não o são e, depois, optar pelos mais representativos e mais sugestivos”. Ecoa dessa forma: ler significa também eleger, escolher. Medeiros (1997, p. 53) perfaz ao afirmar: “[...] a leitura é produzida, uma vez que o leitor interage com o autor do texto”, ou seja, autor e leitor têm que estabelecer um acordo mútuo, para que ocorra a boa leitura.
A partir desse contexto, infere-se a relevância da leitura para o mundo infantil, que, por si só, envolve imaginação e ficção.
Literatura infantil: noções conceituais
Nas palavras de Cagneti (1996, p. 7): “A Literatura infantil é, antes de tudo, literatura, ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o Mundo, o Homem, a Vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática; o imaginário e o real; os ideais e sua possível/impossível realização.” No mesmo refrão, assinala Paço (2009, p.12).): “A literatura infantil leva a criança à descoberta do mundo, onde sonhos e realidade se incorporam, onde a realidade e a fantasia estão intimamente ligadas, fazendo a criança viajar, descobrir e atuar num mundo mágico; podendo modificar a realidade seja ela boa ou ruim.”
Características da literatura infantil
As obras escritas para o encanto das crianças são criadas para que as leiam, declamem ou as representem. Os temas da realidade social podem estar presentes (vida, morte, sexo, divórcio, homossexualidade, entre outros), de forma precisa e de fácil entendimento, através de linguagem que não choque as crianças. Não se aceitam textos ou poemas maliciosos, com duplos sentidos, que passem ao largo das mensagens úteis à formação infantil. As obras devem ser encantadoras, mágicas e repletas de mistérios, de tal forma, que estimulem a criatividade, participação e envolvimento dos pequeninos, com idade de zero a 12 anos incompletos, nos contextos das histórias, poemas e outras narrativas.
Antecedentes históricos da literatura infantil
A arte de contar histórias sempre existiu, desde quando o ser humano começou a emitir sons e articular as palavras. Afirma Dohme (2010, p. 7): “Provavelmente, começou com o homem sentado em sua caverna ao pé do fogo, contando suas bravatas às mulheres e crianças. Certamente teria melhor audiência aquele que descrevesse detalhes, na medida certa, sem demasia, que tivesse graça, humor, que fizesse sua plateia sentir as emoções descritas como se as tivesse vivido.” Mas, esse processo criativo que sempre escoltou o ser humano, nunca se direcionou especificamente ao mundo infantil, sendo concreto afirmar que, por muitos séculos, inexistiu “infância” para a literatura.
Segundo Ariès (1986), na sociedade europeia medieval, não havia a particularidade dessa fase da vida que distinguiria a criança do adulto. Distinguia-se, apenas, o grau de dependência da criança em relação aos adultos, mas tão logo essa dependência diminuísse, a criança já entrava no mundo dos adultos.
Nas palavras de Cunha (1999, p. 22), a literatura infantil começa a delinear-se no início do século XVIII: “[...] quando a criança passa a ser considerada um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias, pelo que deveria distanciar-se da vida dos mais velhos e receber uma educação especial, que a preparasse para a vida adulta.” Antes disso, a criança acompanhava a vida social do adulto e, consequentemente, também participava da sua literatura.
A partir do século XVIII coexistiram duas realidades: enquanto a criança da nobreza, acaudilhada por preceptores, normalmente lia os grandes clássicos, a criança das classes desprivilegiadas lia ou ouvia as histórias de cavalaria e de aventuras. As lendas e contos folclóricos constituíam uma literatura de cordel de grande apelo para as castas populares.
Graças à percepção da infância que se impunha, fez-se necessário o estabelecimento de novas estruturas que abastecessem e preparassem o novo ser para enfrentar, no futuro, o ambiente social. A escola passou a ser uma instituição legitimamente aberta, a ser frequentada, não somente pela burguesia, mas, pela sociedade como um todo. Nesse momento, a literatura infantil chega para autenticar o processo de escolarização, porque, se a escola: “[...] trabalha sobre a língua escrita, ela depende da capacidade de leitura das crianças, ou seja, supõe terem esta passado pelo crivo da escola” (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 18).
No caminho percorrido à procura de uma literatura adequada para a infância e juventude, pode-se observar duas tendências próximas daquelas que já influenciavam a leitura das crianças: dos clássicos, fizeram-se adaptações; e, do folclore, nasceram os contos de fadas, até então quase nunca voltados especificamente para a criança.
Pode-se afirmar que a literatura destinada diretamente ao público infantil teve início no século XVII, com o francês Charles Perrault, com “Cinderela” e “Chapeuzinho Vermelho”. O autor coleta contos e lendas da Idade Média e adapta-os, construindo os chamados contos de fadas, por tanto tempo protótipo do estilo infantil.
Na Alemanha do século XIX, outra coleta de histórias folclóricas é realizada pelos irmãos Grimm. Nascem “João e Maria” e “Rapunzel”, o que alarga a antologia dos contos de fadas. Os seus contos foram publicados, republicados e adaptados uma infinidade de vezes, a tal ponto que hoje se afastam em demasia dos relatos originais.
Por meio de narrações diversificadas, o dinamarquês Christian Andersen, com “O patinho feio” e “Os trajes do imperador”; o italiano Collodi, com “Pinóquio”; o inglês Lewi Carrol, com “Alice no país das maravilhas”; o americano Frank Baum, com o “O mágico de Oz”; e o escocês James Barrie, com “Peter Pan”, constituem-se em arquétipos da literatura infantil.
As primeiras obras publicadas para o público infantil só abrolham no comércio de livros por volta da metade do século XVIII, pois é a partir do século XVII, no período do classicismo francês, que histórias são escritas e englobadas como literatura também apropriada à infância. Cita-se, por exemplo: “As Fábulas, de La Fontaine”, “As aventuras de Telêmaco”, de “Fénelon” e os “Contos da Mamãe Gansa”. Primeiramente têm como título original “Histórias ou narrativas do tempo passado com moralidades”, publicadas em 1697, pelo autor Charles Perrault.
A literatura infantil no Brasil
No Brasil, a literatura infantil iniciou-se com obras pedagógicas e, mormente, adaptações de obras portuguesas, o que demonstrou um atrelamento peculiar das colônias. No final do século XIX, alterou-se o regime político nacional e a República, aceita a partir de 1889, substituiu a Monarquia, após o longo reinado de D. Pedro II, Imperador desde 1840. Os países europeus, que serviam de inspiração ao Brasil, transitavam para o regime republicano que, à primeira vista, seria mais democrático, pois fundamentado em eleições populares, periódicas e livres. Nesse Brasil renovado, de proeminentes mudanças, deu-se o advento dos primeiros livros para crianças, escritos e publicados por brasileiros.
No tocante à poesia, Zalina Rolim, que, em 1893 excluíra alguns poemas infantis do seu livro “Coração”, publica em 1897 o “Livro das crianças”, obra de um plano em sociedade com João Köpke. Em 1904, Olavo Bilac edita suas “Poesias infantis”, e, em 1912, Francisca Júlia e Júlio da Silva lançam “Alma infantil”.
Nesse mesmo período registram-se as antologias folclóricas e temáticas, sendo as últimas, na maioria das vezes, com o objetivo de constituírem material apropriado para comemorações escolares: “A festa das aves” (1910), de Arnaldo Barreto, Ramon Roca e Teodoro de Morais; “Livro das aves” (1914), de Presciliana D. de Almeida; e “A árvore” (1916), de Júlia Lopes de Almeida e Adelina Lopes Vieira. Entre as antologias folclóricas, ressalta-se Alexina de Magalhães Pinto, que publicou, em 1909, “Os nossos brinquedos”; em 1916, “Cantigas das crianças e do povo” e “Danças populares”; e, em 1917, os “Provérbios populares, máximas e observações usuais”, obra na qual incorporou um “Esboço provisório de uma biblioteca infantil”.
Na obra de Zilberman (2005, p. 19) encontra-se a lista de autores importantes da história da literatura nacional: “Carl Jansen, Figueiredo Pimentel e Olavo Bilac são os desbravadores da literatura infantil brasileira. Praticaram, cada um a seu modo, a lei de Lavoiser, já mencionada. Sem eles, talvez os livros nacionais para as crianças demorassem a aparecer; mas 'fé e orgulho' teremos em/de Monteiro Lobato, o sucessor desse núcleo original, aquele que ainda hoje se lê e relê, graças ao patrimônio literário que legou."
Presenças marcantes na literatura infantil brasileira
Monteiro Lobato
Monteiro Lobato (1882-1948) foi um escritor e editor brasileiro. Sua obra de maior destaque na literatura infantil é "O Sítio do Pica-pau Amarelo". Criou a "Editora Monteiro Lobato" e mais tarde a "Companhia Editora Nacional", estabelecendo-se como um dos primeiros autores de literatura infantil do nosso país e de toda América Latina.
Somente com Monteiro Lobato iniciou-se a verdadeira literatura infantil brasileira, e, sob o propósito de reafirmar essa ideia, Cunha (1991, p. 24) traz em seu discurso: “Com Monteiro Lobato é que tem início a verdadeira literatura infantil brasileira.” E conclui Silva (2009, p. 117): “Falar em literatura infantil brasileira é falar em Monteiro Lobato, escritor ultrapassou as fronteiras do Brasil, conquistando popularidade junto ao público leitor latino-americano ainda no início dos anos 40. Mais do que isso: falar em escrever, traduzir, editar e distribuir livros neste país é falar em Lobato, homem ímpar, cujo maior empenho estava em mudar a face arcaica do Brasil, em trazer o país para a modernidade. Foi ele quem cunhou a célebre frase: ‘Um país se faz com homens e livros’, assertiva que nem os recentes ventos da globalização têm conseguido abalar.”
Em sua obra, Monteiro Lobato diversifica-se quanto ao gênero e as orientações. Concentra as histórias em alguns personagens que se unem no decorrer da ficção. A exemplo das histórias em série contadas na televisão ou nas revistas em quadrinhos, não se preocupa o autor com a criação de novas personagens, que são as mesmas a cada vez em que começa nova narrativa. Fixa-se apenas na criação de aventuras originais para as mesmas pessoas. Essa artimanha prospera, porque as personagens revelam, desde o começo, um espírito aventureiro e desafiador, apto a quaisquer novidades (ZILBERMAN, 2005, p. 23).
São sofisticadas as histórias de Monteiro Lobato, nas quais bonecas pensam e falam e sabugos de milho se transformam em geniais cientistas. Para o autor, o livro, a história ou mesmo o conto de fadas são vivenciados pelas crianças como um agente transformador, que as auxilia na edificação da sua crítica, da sua criatividade e, mormente, da sua liberdade, pois, através da leitura, as crianças aprendem enquanto brincam.
Metade das obras de Monteiro Lobato é cultivada no campo da literatura infantil. Ressalta-se pelo viés nacionalista e social. Trafega pelos vilarejos atrasados e o povo do Vale do Paraíba, por ocasião da crise do café. Posiciona-se entre os autores do Pré-Modernismo, período que antecedeu a Semana de Arte Moderna no Brasil.
Ana Maria Machado
Essa extraordinária escritora chegou a Academia Brasileira de Letras no ano de 2003.
A própria escritora conta-nos sobre a sua trajetória de leitura, desde os primeiros anos de sua vida:
“Não sei direito com que idade eu estava, mas era bem pequena. Mal tinha altura bastante para poder apoiar o queixo em cima da escrivaninha de meu pai. Diante dele sentado escrevendo, eu vinha pelo outro lado, levantava os braços até a altura dos ombros, pousava as mãos uma por cima da outra no tampo da mesa, erguia de leve o pescoço e apoiava a cabeça sobre elas. [...]
Só que no meio do caminho tinha outra coisa. Bem diante dos meus olhos, na beirada da mesa. Uma pequena escultura de bronze, esverdeada e pesada, numa base de pedra preta e lustrosa. Dois cavalos. [...]
– O da frente se chama Dom Quixote. O outro, Sancho Pança. [...]
Em seguida, eu quis saber onde eles moravam. [...]
– É na Espanha, muito longe daqui – disse meu pai. [...]
– Mas também moram aqui pertinho, quer ver? Dentro de um livro.
Levantou-se, foi até a estante, pegou um livro grandalhão, sentou-se numa poltrona e me mostrou. Lá estavam várias figuras dos dois, em preto-e-branco (MACHADO, 2002, p. 7-8).
Dessa forma, Ana Maria Machado seleciona aspectos que conformam a sua apresentação como escritora que, antes mesmo de ter aprendido a ler, convivia com livros e leitores.
Ruth Rocha
Ruth Rocha escreveu sua primeira história aos 38 anos. Publicada na Revista Recreio da editora Abril, a história diz respeito a duas borboletas que não podiam ficar juntas porque eram de cores diferentes, numa abordagem ao racismo. Chamava-se Romeu e Julieta e foi um sucesso. Tempos depois, nasce o primeiro livro: Palavras, muitas palavras. A autora vendeu cerca de 12 milhões de exemplares no mundo inteiro em 25 idiomas. Em abril de 2000, Ruth Rocha lançou a obra Odisseia, na qual reconta as peripécias do herói Ulisses. O livro tornou-se um dos maiores sucessos da autora.
Referências
ABRAMOVICH, Fanny. O estranho mundo que se mostra às crianças. 5. ed. São Paulo: Summus, 1993.
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Tradução Dora Flaksman. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1986. Tradução de: L’Enfant et la Vie familiale sous l’Âncien Régime
BORGES, J. L. O livro: cinco visões pessoais. Brasília: Ed. da UNB, l995.
CAGNETI, Sueli de Souza. Livro que te quero livre. Rio de Janeiro: Nórdica, 1996
CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura infantil: teoria & prática. São Paulo: Ática, 1991.
DOHME, Vania D’Angelo. Técnicas de contar histórias: um guia para desenvolver as suas habilidades e obter sucesso na apresentação de uma história. Petrópolis: Vozes, 2010.
LAJOLO, Mariza; ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira: histórias e histórias. 4 ed. São Paulo: Ática, 1991.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1992.
MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os clássicos universais desde cedo. São Paulo: Editora Objetiva, 2002.
MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas: estratégias de leitura: como redigir monografias: como elaborar papers. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
PAÇO, Glaucia Machado de Aguiar. O encanto da literatura infantil no Cemei Carmem Montes Paixão. Universidade federal rural do Rio de Janeiro -UFRRJ decanato de pesquisa e pós-graduação -DPPG MESQUITA, 2009. Disponível em: . Acesso em: 31 jul. 2020.
SALVADOR, Ângelo Domingos. Métodos e técnicas de pesquisa bibliográfica: elaboração de trabalhos científicos. 8. ed. Porto Alegre: Sulina, 1980.
SILVA, Vera Maria Tietzmann. Literatura infantil brasileira: um guia para professores e promotores de leitura. 2. ed. Goiânia: Cânone Editorial, 2009.
ZILBERMAN, Regina. Como e por que ler a literatura infantil brasileira. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.