REFLEXÕES

“O Poeta é o ápice da evolução”

(Rimbaud)

Pensando nessa afirmação de Rimbaud, até concordei com ela, mas, somente depois de concluir que poetar e evoluir só são possíveis no plano da realidade ordinária, logo, a vida pode ser um sonho. Mas, a poesia não.

Se eu não sonhar, como irei criar ou deformar minhas imagens reais para traduzi-las em linguagem poética? Lançando mão da subjetividade da realidade? Não, prefiro a imaterialidade. Prefiro o direito de criar e sonhar. Embora, nunca tenha sonhado (que eu me lembre!), no sentido comum da palavra, (será a posição que durmo?) consigo, sonhar acordado. Sonho ou insanidade eleva-me a esse ápice evolutivo ao qual acredito que Rimbaud, tenha se referido.

Evolução, é outra palavra também, muito subjetiva. Mas, se tratando de evolução mental, pergunto-me: Consigo evoluir mentalmente sem “sonhar”? Não sinto falta dessa atividade onírica. Por não sonhar, desconheço a hermenêutica do sonho, portanto, os sonhos não me inspiram. Deliro, alucino, não sonho, vejo (?) duendes doentes, dialogo com os fantasmas da noite, visito as divindades, experimento medos e desejos, ouço o eco da alma, compreendo e ouço o silêncio, tão imbuído de significado. Mas as vezes, o silêncio pode ser tão eloqüente, que penso o preferir, ao burburinho da realidade ordinária. Onde, até os bichos sonham, segundo, os estudiosos dos sonhos.

Uma vez, que não me foi dado adentrar o “reino de Hades”, para poetar, não preciso sonhar. Preciso somente da minha insanidade, terrores e festas. Não invejo aqueles que podem sonhar. E, esperam seus sonhos de braços abertos, como a melhor das realidades. Não sei se uma vez fora da realidade, que faz evoluir, minha poesia poderá alçar vôo rumo ao ápice. E, eu poeta solitário escalarei o vértice mais difícil, rumo ao cume. E daí, se me virem verter lágrimas de sangue? Direi, que estou usando colírio de groselha. No mundo dos pesadelos (sonhos pesados), só acontece o que eu quiser. Quando chega a noite, sonhos meus, diante da tua recusa em segredar-me em silêncio, infliges às leis do imaginário, privas-me do direito de criar e sonhar. Então, pego a mala, e por entre névoas te convido e vou: Vem comigo e sê, estou contigo vê?

Talvez, eu queira sonhar, mas só para conhecer outras faces distintas de uma mesma realidade, abordar a efemeridade, a transitoriedade, a instantaneidade da vida como ela não é. Sonhos reais (ordinários), são paradoxalmente mais ficção literária que relato histórico. Relatar o óbvio, o cotidiano, não me interessa, de forma alguma, prefiro estar no silêncio absoluto, para ver erupcionar um som, ouvir o grito de uma múmia, ouvir e ver o emergir do monstro da lagoa, testemunhar o enterro da última quimera.

T@CITO/XANADU

Paulo Tácito
Enviado por Paulo Tácito em 23/05/2020
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