Como ter o seu próprio livro? Como se autopublicar?
Quando a gente começa a escrever, obviamente, logo a gente pensa em reunir tudo em um livro e lançá-lo para que, assim, o leitor tenha acesso a sua obra.
Li uma vez algo curioso, que dizia que quando a pessoa pensa em escrever um livro, ela, imediatamente, pensa em um romance, mas ela acha bem complicado. Aí ela parte pro conto, pensando que pode dar conta (olha o trocadilho infame!). Por fim, ela vai para o poema, acreditando ser o gênero mais fácil - o que é um ledo engano. O poema é um dos gêneros mais difíceis, é o poder da síntese de ideias e emoções.
Escrever é antes de mais nada, cortar palavras - já dizia Drummond. E antes de pensar em ter um estilo, comece por ter estilho nenhum - isso quem disse, se não me engano, foi Vinícius de Moraes.
O que importa mesmo é que escrever é um exercício diário. Quando mais você escreve, mais você vai entendendo o seu processo, a sua forma de ver o mundo. E escrever pode ser tudo, algo como uma terapia também. A escrita tem esse poder libertador - é como lançar no papel tudo que nos habita e muitas vezes nem nos damos conta.
Eu lancei o meu primeiro livro aos 22 anos. Era um livro de poemas, intitulado Cicatrizes, e reunia basicamente o que eu havia escrito nos últimos 4 anos, enquanto eu frequentava o curso de Ciências Sociais. Mas, antes mesmo, eu havia feito um livro todo na máquina de escrever, a que eu dei o nome de Acumulações de Perturbações Poéticas - e tinha uns cortes, umas colagens, umas coisas escritas com canetinha. E, de posse deste livro, foi a primeira vez que fui conversar com uma amiga da minha mãe que era era uma consultora de uma editora. Ela lançava livros direto e me deu boas dicas. Eu devia ter uns 19 anos. Logo depois, aos 20, minha mãe comprou um computador da IBM, um moderno 486 (isso no ano de 1994). Quando comecei a produzir no computador, fiquei louco. Aquilo já tinha cara de arte final. Deu-me um entusiasmo profundo. Tanto que em 1995, fiz um livro inteiro no Paintbrush - porque também dava pra criar uns desenhinhos - que se chamou Indecências. Também de poemas. E eu imprimi, cortei no formato que eu queria e fui até um lugar para encadernar. Fiz uma porção. Aquilo era uma reinvenção dos poetas marginais da década de 70, que faziam os seus livros no mimeógrafo e vendiam em bares. Eu fiz os meus assim e vendi para muitos colegas e parentes. Foi uma experiência boa, que me ajudou a circular a minha obra.
Depois comecei a escrever para o jornal da minha Universidade - UNAMA, em Belém do Pará -, muitos poemas, crônicas e artigos. E vi o resultado do que achavam, através de feedbacks bem interessantes pelos corredores da Universidade - uma época sem redes sociais ainda. Eu era abordado ali e recebi muitos comentários e troca de ideias fantásticas.
Então, pra encerrar o meu tempo na Universidade, recorri a mesma para conseguir patrocínio para o meu livro, Cicatrizes. E consegui. Ele foi lançado lindamente em um dezembro de 1996 (e terá uma reedição em breve, comemorativa de 20 anos).
Depois disso, muita coisa mudou. Eu vim morar no Rio de Janeiro. Investi na minha carreira de ator. Continuei escrevendo como nunca. Cheguei a fazer mais dois livros, um de poemas e outros de crônicas, mas não cheguei a lança-los. Porque também eu já escrevia minhas peças teatrais e tinha uma resposta imediata, já que elas eram levadas ao palco. Assim foi com Casal Consumo; Todo mundo amplia a paranoia que cria; Sexo grátis, amor a combinar; Quando o amor é um pastel de carne para corações vegetarianos e Crônicas do amor mal amado, dentre outras.
Fiz também muito stand up, escrevendo os meus próprios textos e roteiros pra TV, youtube e cinema.
Só em 2015, retomando um dos arquivos do meu computador, vi que tinha uma ideia de livro interessante nele. Comecei a mexer novamente naquilo e nasceu o Enfim, separados - tudo a ver também, porque eu havia acabado de me separar. Poderia me amparar na literatura também, como forma de dar um respiro n'alma.
Pesquisei, então, diversas formas de publicar. Cheguei até a Amazon, uma plataforma bem interessante. E pensei em um livro digital. Por isso, estudei como era o mercado de livros digitais no Brasil, os famosos e-Books. E achei que poderia ser algo interessante. Lancei alguns contos por lá, como teste. Mas ainda não sabia direito como funcionava a plataforma.
Só neste ano que fui retomar tudo e ver mesmo como lançaria o livro. Aí volto a Amazon e vejo que tem também como se fazer o livro físico - só que este é só em plataformas do Japão, EUA, França, e outros países. No Brasil ainda não tem. Então, formatei o livro inteiro, criando o sumário, a diagramação, escolhendo as fotos que o ilustrariam, fazendo capa. Segui, assim, o processo ideológico do autor que se autopublica - uma nova tendência.
Deixei o livro lá na Amazon pra ver o que acontecia. Fiz algumas promoções por lá, divulguei nas redes sociais. Isso por volta de julho. Até que vi que 51 pessoas haviam baixado o livro digital. Isso me deixou feliz, mesmo querendo ver o lance do livro físico, porque parece que o digital você não tem muito aquele contato tão precioso que se tem com um livro físico.
Mas aí, vem o melhor. Uma amiga dos Estados Unidos acessou o site da Amazon de lá e comprou o livro físico. E fez um vídeo onde me mostrou o seu marido folheando o livro, com a legenda: "Não é foto não, hein? É o livro em mãos". Aí deu aquela emoção. Ver que o livro realmente existia.
Eu já tinha um show de humor marcado em Belém do Pará para começo de agosto. E como postei nas redes sociais sobre o novo livro, além de ter feito algumas lives, as pessoas começavam a me perguntar por ele. Então, resolvi fazer uma pequena tiragem para levar para Belém e vender por lá. Foi aí que encomendei 30 livros apenas. E os vendi no show. Todos! Foi bem legal. Deu uma certa injeção de ânimo. Ainda pude dar uma entrevista em um programa local, Sem Censura Pará, e falei sobre os processos da autopublicação, bem como o financiamento coletivo para conseguir viabilizar sonhos que poderiam morrer nas gavetas. Saíram duas matérias incríveis em jornais de grande circulação, além de diversas notas.
Ou seja, o livro é uma realidade. Quem quiser conversar mais sobre isso, sobre como se autopublicar, tirar dúvidas, dar sugestões, este é meu e-mail : raulfranconeto@gmail.com.
E também fiz uma campanha de financiamento coletivo que está há vinte dias do fim, como forma de viabilizar mais uma tiragem do livro, e ainda vou estudar novas propostas.
Link para a campanha - https://www.kickante.com.br/campanhas/livro-enfim-separados-de-raul-franco
Colabore, participe, compartilhe, VIABILIZE SONHOS.
Obrigado, Raul Franco.