Dia Nacional do Livro
- releitura da leitura -
Entre as mais belas formas de se adquirir conhecimento está a leitura. Per si, permite não só o alargamento, como também submergir no saber em determinada seara cultural ou científica. Confrontada à leitura, cabe à alma esvair-se na ousadia. Ler é ver. Deve-se, portanto, aprender a ver.
O livro impresso não apenas difundiu a ciência e a sabedoria, abrindo-se também aos sentimentos dos indivíduos que por séculos vêm expressando aos demais suas aventuras e seus mais recônditos sonhos e paixões.
O livro é a escritura da universalização da humanidade, podendo-se considerá-lo como o mais espetacular instrumento do homem, movedor do espírito, que vem em auxílio da sua pureza e insuficiência, proporcionando-lhe o delicioso gozo de crer que pensa, ainda quando talvez não pense nada.
Ler é processo intelectual. Insere-se no processo histórico-social e na vida do indivíduo, ao permitir a interação da pessoa humana com o presente e o passado, na medida em que efetiva as metamorfoses culturais que espaldarão o futuro. Na era pré-histórica, utilizavam-se os homens das experiências empíricas para ler o mundo em que habitavam, ainda de forma tão insubsistente. Hodiernamente, patrocinados pelos sobejos meios de comunicação e informação, os homens apreendem não só as leituras do mundo adjacente como também aquelas científicas. Nesse refrão, ler significa conhecer, interpretar, decifrar (LAKATOS; MARCONI, 1992, p. 15).
À leitura deve-se reservar um espaço de prazer, que vai do arrepio da pele à convocação de aliança entre as mentes inebriadas do escritor e do leitor.
O processo de leitura de uma obra, qualquer que seja, exige interação, diálogo íntimo entre autor e leitor, que ao apelo da palavra se desnudam, estabelecendo-se um natural processo de sedução. Subjaz implícita no texto a volúpia da descoberta, a ciência dos prazeres da linguagem e o autor convida o leitor, que aceita adentrar nesse mundo de deleites intelectuais. Na verdade, a voz do autor entra em tensão dialética com a voz do leitor no próprio instante da leitura: "Heráclito disse que ninguém desce duas vezes o mesmo rio. Ninguém desce duas vezes o mesmo rio porque suas águas mudam. Mas o mais terrível é que nós não somos menos fluidos do que o rio. Cada vez que lemos um livro, o livro mudou, a conotação das palavras é outra. Ademais, os livros estão impregnados de passado. Os leitores foram enriquecendo o livro." (BORGES, 1995, p. 11)
A leitura de um texto confere ao leitor um papel vivo e enérgico direcionado à reconstrução do seu conteúdo, apoiando-se em sua experiência antecedente, em suas noções teóricas e, também, empunhando por fundamento a intenção do autor e a ambiência linguística que possibilitam a declaração das ideias pretendidas.
Salvador (1980, p. 100) disciplina que ler significa: “[...] distinguir os elementos mais importantes daqueles que não o são e, depois, optar pelos mais representativos e mais sugestivos”. Ecoa dessa forma: ler significa também eleger, escolher. Medeiros (1997, p. 53) perfaz ao dizer que “[...] a leitura é produzida, uma vez que o leitor interage com o autor do texto”, ou seja, autor e leitor têm que estabelecer um acordo mútuo, para que ocorra a boa leitura.
No Dia Nacional do Livro, ofereço aos leitores, à guisa de reflexão, um dos mais belos e essenciais poemas que li na minha vida: "O Livro e a América", sob autoria do gênio Castro Alves. Aliás, interpretei o referido poema aos 15 anos de idade, no Concurso de Declamação Arnolfo de Azevedo, àquela época, realizado anualmente na cidade de Lorena, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo.
O LIVRO E A AMÉRICA
Castro Alves
'Talhado para as grandezas,
P'ra crescer, criar, subir,
O Novo Mundo nos músculos
Sente a seiva do Porvir.
- Estatuário de colossos -
Cansado doutros esboços
Disse um dia Jeová:
'Vai, Colombo, abre a cortina
'Da minha eterna oficina...
'Tira a América de lá'.
Molhado inda do dilúvio,
Qual tritão descomunal,
O continente desperta
No concerto universal.
Dos oceanos em tropa
Um - traz-lhe as artes da Europa,
Outro - As bagas do Ceilão...
E os Andes petrificados,
Como braços levantados,
Lhe apontam para a amplidão.
Olhando em torno então brada:
'Tudo marcha!... Ó grande Deus!
As cataratas - P'ra terra,
As estrelas - para os céus
Lá, do polo sobre as plagas,
O seu rebanho de vagas
Vai o mar apascentar...
Eu quero marchar com os ventos,
Com os mundos... co'os firmamentos!!!'
E Deus responde - 'Marchar!'
'Marchar!... Mas como?... Da Grécia
Nos dóricos Partenons
A mil deuses levantando
Mil marmóreos panteons?...
Marchar co'a espada de Roma
- Leoa de ruiva coma
De presa enorme no chão,
Saciando o ódio profundo...
- Com as garras nas mãos do mundo,
- Com os dentes no coração?...
'Marchar!... Mas como a Alemanha
Na tirania feudal,
Levantando uma montanha
Em cada uma catedral?...
Não!... Nem templos feitos de ossos,
Nem gládios a cavar fossos
São degraus do progredir...
Lá brada César morrendo:
'No pugilato tremendo
'Quem sempre vence é o porvir!'
Filhos do sec'lo das luzes!
Filhos da Grande Nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro - esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo...
Eólo de pensamentos,
Que abrira a gruta dos ventos
Donde a igualdade voou!...
Por uma fatalidade
Dessas que descem de além,
O sec'lo, que viu Colombo,
Viu Gutemberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou...
Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto -
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe - que faz a palma,
É chuva - que faz o mar.
Vós , que o templo das idéias
Largo - abris às multidões,
P'ra o batismo luminoso
Das grandes revoluções,
Agora que o trem de ferro
Acorda o tigre no cerro
E espanta os caboclos nus,
Fazeei desse 'Rei dos ventos'
- Ginete dos pensamentos,
- Arauto da grande luz!...
Bravo! a quem salva o futuro
Fecundando a multidão!...
Num poema amortalhada
Nunca morre uma nação.
Como Goethe moribundo
Brada 'Luz!' O Novo Mundo
Num brado de Briaréu...
Luz! pois, no vale e na serra...
Que, se a luz rola na terra,
Deus colhe gênios no céu!...
Castro Alves
'Talhado para as grandezas,
P'ra crescer, criar, subir,
O Novo Mundo nos músculos
Sente a seiva do Porvir.
- Estatuário de colossos -
Cansado doutros esboços
Disse um dia Jeová:
'Vai, Colombo, abre a cortina
'Da minha eterna oficina...
'Tira a América de lá'.
Molhado inda do dilúvio,
Qual tritão descomunal,
O continente desperta
No concerto universal.
Dos oceanos em tropa
Um - traz-lhe as artes da Europa,
Outro - As bagas do Ceilão...
E os Andes petrificados,
Como braços levantados,
Lhe apontam para a amplidão.
Olhando em torno então brada:
'Tudo marcha!... Ó grande Deus!
As cataratas - P'ra terra,
As estrelas - para os céus
Lá, do polo sobre as plagas,
O seu rebanho de vagas
Vai o mar apascentar...
Eu quero marchar com os ventos,
Com os mundos... co'os firmamentos!!!'
E Deus responde - 'Marchar!'
'Marchar!... Mas como?... Da Grécia
Nos dóricos Partenons
A mil deuses levantando
Mil marmóreos panteons?...
Marchar co'a espada de Roma
- Leoa de ruiva coma
De presa enorme no chão,
Saciando o ódio profundo...
- Com as garras nas mãos do mundo,
- Com os dentes no coração?...
'Marchar!... Mas como a Alemanha
Na tirania feudal,
Levantando uma montanha
Em cada uma catedral?...
Não!... Nem templos feitos de ossos,
Nem gládios a cavar fossos
São degraus do progredir...
Lá brada César morrendo:
'No pugilato tremendo
'Quem sempre vence é o porvir!'
Filhos do sec'lo das luzes!
Filhos da Grande Nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro - esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo...
Eólo de pensamentos,
Que abrira a gruta dos ventos
Donde a igualdade voou!...
Por uma fatalidade
Dessas que descem de além,
O sec'lo, que viu Colombo,
Viu Gutemberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou...
Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto -
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe - que faz a palma,
É chuva - que faz o mar.
Vós , que o templo das idéias
Largo - abris às multidões,
P'ra o batismo luminoso
Das grandes revoluções,
Agora que o trem de ferro
Acorda o tigre no cerro
E espanta os caboclos nus,
Fazeei desse 'Rei dos ventos'
- Ginete dos pensamentos,
- Arauto da grande luz!...
Bravo! a quem salva o futuro
Fecundando a multidão!...
Num poema amortalhada
Nunca morre uma nação.
Como Goethe moribundo
Brada 'Luz!' O Novo Mundo
Num brado de Briaréu...
Luz! pois, no vale e na serra...
Que, se a luz rola na terra,
Deus colhe gênios no céu!...
Dia Nacional do Livro, 29 de outubro: parabéns à Biblioteca Nacional! Parabéns a todos da cadeia produtiva do livro. Esse dia foi escolhido porque, há 200 anos, era fundada, no Rio de Janeiro, a Biblioteca Nacional do Brasil. Ela nasceu com 60 mil livros e documentos que a Família Real trouxe de Portugal e hoje conta com mais de 9 milhões de obras. Claro, que os profissionais da cadeia produtiva do livro concorreram para que esse número crescesse. Assim, estão todos de parabéns. Considerada pela Unesco uma das dez maiores bibliotecas nacionais do mundo, neste ano, a instituição comemora, também, o centenário de fundação do prédio, no Rio de Janeiro. A Biblioteca Nacional abre ao público, no dia 3 de novembro, a exposição “Biblioteca Nacional 200 Anos: Uma Defesa do Infinito”. Av Rio Branco 219, Rio de Janeiro, RJ – Fone (21) 3095 3879. De 2ª a 6ª feira – de 9h às 20h, sábados – de 9h às 15h (entrada até uma hora antes). O acervo digital está à disposição 24h por dia. Para conhecê-lo clicar aqui.