*Desejos de mulher grávida

Desejos de mulher grávida

A gravidez, embora seja um estado de graça, deixa a fêmea desestruturada física e emocionalmente. A mulher passa a merecer mais cuidados, fica mais suscetibilizada. Ao longo dos meses, a gravidez lhe desloca o eixo de gravidade e isso não é um trocadilho. Passa a andar com as pernas mais abertas, os pés deslocados para fora e as costas arqueadas para trás, à procura de maior estabilidade.

Muitas gestantes passam a ter enjoos e desenvolvem desejos heterodoxos. Nutricionistas afirmam que o cérebro, acusando a deficiência de nutrientes ou anemia, faz com que os hormônios progesterona e prolactina alterem o PH bucal e desenvolvam um distúrbio conhecido como Síndrome de Pica. (Epa, cuidado!)

Pica é uma palavra latina, igual à Pega, Pega-rabuda ou Pica-Pica, ave de plumagem azul, branca e preta, comum do Alto Alentejo, Portugal. Essa ave se caracteriza por comer de tudo. Daí que muitas grávidas desenvolvem geofagia (desejo de comer barro), ou qualquer outra coisa que antes não lhe excitava o paladar. Incontáveis são os maridos que saem em noites de chuva à procura de rabanada, rabanete, rabada, mugunzá ou guabiraba, sabendo que suas mulheres, em outros tempos, jamais comeriam aquilo, mas pelo imperativo do momento, sacrificavam-se, para atender aos estranhos desejos delas. Entre tantas extravagâncias, há muitas que desejaram comer carvão vegetal e comeram!

Já outras comem desesperadamente, com a desculpa de que deve comer por dois. Isso é sobremaneira desaconselhável. Não existe nenhum caso na literatura médica de uma criança ter nascido com cara de leitão, só porque a grávida não comeu carne de porco, por exemplo. Mas esse mito existe. Também não nascerá com a cara do vizinho ou do cunhado, salvo comportamentos que não vêm ao caso.

Graças aos céus, nenhuma das minhas duas esposas tiveram desejos incontroláveis, mas uma de nossas filhas extrapolou o imponderável.

Dalva Roberta, ou simplesmente Dalva, a quem eu chamo carinhosamente de minha Porocoxota é a terceira filha e quinta na linha sucessória. Chegou ao planeta na mesma nave, dia e hora, desembarcando poucos minutos depois de sua irmã Diva Raquel. Passados seis anos da primeira gravidez, resolveu encomendar outra criança. Treinou, treinou e conseguiu engravidar. É visível a alegria do pai, como também é indisfarçável uma sombra de preocupação. Ao que imagino, ele ainda não se curou do trauma dos desejos da primeira gestação.

Dalva, seguramente, tem um QI acima de 118 pontos, o que, para nós não é novidade. Ela sempre foi uma menina calma, mas centrada, do tipo que não dá dois passos de uma só vez. Quando estava grávida de Murilo, hoje com seis anos, apresentou desconfortos e enjoos. Numa dessas crises, o marido preocupado lhe perguntou:

- Dalvinha, você esta desejando alguma coisa? Fale logo!

A resposta veio segura, elétrica e com manual de instrução.

- Estou desejando uma máquina de lavar roupas de onze quilos.

- Hãããããã?

Agora, Dalva já está no segundo mês de gestação e outro dia, ao passar pelo comércio, vira uma smart TV de sessenta polegadas...

São coisas da minha família!

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Filosofia de botequim:

Não troques conselho de mãe por Conselho Tutelar. O primeiro é lição, o segundo é um castigo.