O telecatch era um tipo de luta fictícia, mas enganava e entusiasmava os trouxas
O telecatch era um tipo de luta que fez sucesso nos ginásios e nas televisões brasileiras nas décadas de 1960 e 1970. A Wikipedia o define como “um programa de televisão criado na extinta TV Excelsior do Rio Canal 2, dedicado à exibição de combates de luta livre que combinavam encenação teatral, combate e circo”.
Os eventos eram realizados em ginásios com público pagante, mas tinham como principal sustentáculo um público que não estava presente, formado pelos telespectadores.
Havia uma casca de seriedade, com apresentadores e árbitros, mas era apenas uma aparência que desaparecia na entrada espalhafatosa dos lutadores, que usavam codinomes, se fantasiavam e provocavam a plateia.
Os combates eram grotescamente interpretados. Bater ou apanhar eram meros gestos teatrais, os lutadores se assemelhavam aos dublês cinematográficos, que raramente se machucam de fato.
Tinha até enredo. Um artifício comum dos "roteiristas" era a reviravolta, a reação espetacular do lutador que estava apanhando muito durante o desenrolar da pseudoluta. Havia um renascimento que muitas vezes se coroava com a vitória.
Outro artifício era selecionar lutadores para fazer o papel do “bom” ou do “mau”. O mais famoso lutador de telecatch usava o pseudônimo de Ted Boy Marino e sempre interpretava o “bom”. Mário Marino, seu nome real, era italiano de nascimento e também viveu na Argentina; louro e atlético, também trabalhou na televisão e cinema durante seu auge de popularidade. Atuou em programas humorísticos, inclusive no famoso ``Os Trapalhões'', com a função de "escada", um facilitador das cenas dos artistas principais. Morreu em 27/09/2012, aos 72 anos, durante uma cirurgia para tratar de trombose, mas tinha vários problemas graves de saúde.
O telecatch teve grande audiência em torno de 1970, o que só a personalidade infantiloide presente em grande parte dos adultos explica. Não passava de um espetáculo de mau gosto. Um teatro, em um sentido nada respeitável.
Já as lutas sérias (o boxe naquela época, o MMA hoje) também têm raízes instintivas, mas distintas: os traços animalescos, ligados à violência, à agressão, à superação do oponente. Substitui-se o público que não se importa em ser enganado com um arremedo de violência por aquele que cultua a violência permitida.
Os norte-americanos ainda gostam do formato, como se pode ver no ótimo filme "O Lutador" ("The Wrestler"), de 2008, dirigido pelo eficiente Darren Aronofsky.
E o planeta Terra segue sua órbita interminável enquanto a humanidade balança entre o racional e o irracional.