Da Copa, sobrou a cozinha (Homenagem ao Povo Sem Nenhum Caráter)
Um povo, porque nação requer valores morais e ética cidadã exemplar acima de quaisquer outras, é unido e enlaçado, torna-se único da seguinte maneira: pela política aplicada no país, somada à cultura adotada no seio social e plenamente aderida pelo inconsciente coletivo.
A Copa "patrão" FIFA terminou antes do esperado para o povo que pinta a cara, veste camisa, sopra corneta, tremula a bandeira, enfeita o carro, beija o escudo, é técnico e filósofo em mesas e balcões de botecos, torna-se jogador de álbum de figurinhas e se considera cidadão patriota e nacionalista à cada 4 anos. No entanto, mesmo não sendo novo, ao contrário, é vestimenta rota de tempo remoto, o evento que une o planeta através da bola, serviu de reforço para os crédulos e comprovou para os incrédulos, que o brasileiro é um povo que aplaude os pequenos contra os considerados grandes. Mas, como em tudo há um porquê, no fim querem ser campeões, chegar em primeiro, atropelando as equipes pequenas, por quais torceu insaciavelmente; provando ser extremamente esquisito de racionalidade dialética.
Assim que a pelota rolou na Rússia para os anões brasileiros e gigantes suecos, concomitantemente, petistas, emedebistas, esquerda, direita, neoliberais e centro, totalizando mais de 200 milhões de assinantes de mesma nacionalidade entraram em campo em terras tupiniquins. Era apenas o primeiro minuto de partida, mas os jogadores da equipe do "Sou Fanático por Futebol e Filosofia de Boteco" costuravam as apostas nos prováveis finalistas. Para esses, certamente, um deles seria a Seleção Europeia de Nacionalidade Brasileira. É tão verdade, que a seleção se preparava para jogar contra o México, e os humildes visionários e pais de santo não só diziam, como apostavam que o Brasil passaria como rolo compressor por cima da Bélgica. Sem a menor compaixão, não tinham dúvidas que os belgas seriam triturados por Neymar, Coutinho, Willian e Gabriel Jesus, o quarteto "moenda" brasileira de fazer gols.
Na parte de baixo da tabela, ou se o leitor preferir, no piso da
pirâmide social futebolística, havia o grupo dos menos otimistas que não se atreviam dizer que a Seleção Europeia de Nacionalidade Brasileira já estava nas quartas de final, mas apostavam todas as suas fichas na vitória dos japoneses em um possível jogo contra os belgas pelas oitavas de final. Arraigados às leis do mínimo esforço, sabiam que os homenzarrões belgas, ainda que de olhos fechados, eram mais difíceis de serem batidos pelo escrete canarinho, que os disciplinados e serelepes japoneses de olhos abertos. Embora pensem diferente da minoria, para essa corrente de "Técnicos e Filósofos de Botecos", o importante era comer pelas beiradas; e a iguaria quanto mais norma e desproteinada, melhor; pois, esforço demais, somente dos pássaros franceses que desafiam as lufadas de vento russo.
Na primeira rodada, a forte candidata ao título e campeã no ranking de apostas empatou com os suecos. Estava claro aos olhos do VAR que houve erro grotesco de entendimento das regras pelo árbitro de campo; fato que gerou certa desconfiança e inconvenientes entre os técnicos estrategistas de botecos e jogadores de álbum de figurinhas.
A copa seguia sendo jogada; e apesar do empate por zero a zero até os 45 min do segundo tempo, a Seleção deslanchou no terceiro tempo e fez 2 (dois) gols na combalida Costa Rica. O resultado reanimou os especialistas da bola, que diziam que a seleção estava em franca evolução; e não era para menos, fora o show, manteve o placar contra a Sérvia.
Em campo, a pompa das chuteiras coloridas disputavam cada milímetro do gramado e as manias dos cortes de cabelo batiam um bolão. Impossível alguém dizer que não era a pátria representada por chuteiras. Sobretudo, a Seleção Europeia de Nacionalidade Brasileira vencia, convencia; e dos "Patriotas e Nacionalistas" à cada 4 anos, aplausos e assovios, recebia: "oooolé! Oooolé! Venha touro...; oooolé!"
O próximo adversário seria o México. Todavia, a previsão de um humilde bruxo que balbuciou o Hino Nacional com a mão no peito e esteve em campo defendendo as cores das matas e florestas, do ouro, do céu estrelado e a "Ordem e Progresso", não devia ser refutada de maneira alguma por quem quer que seja; e esperando sentada, confortavelmente no camarote quem ganhasse a partida entre Japão e Bélgica, a Seleção treinaria contra os mexicanos. Não deu outra; e mais uma vez o placar anterior se repetiu: dois a zero para a Seleção canarinho!
Contrariando o escritor Nelson Rodrigues, que ao discorrer sobre a unanimidade, qualificou-a como burra, a maioria ficou reticente com o que poderia acontecer com o canarinho da terra, contra o canário belga. Preferência por preferência, facilidade por facilidade, melhor se fossem os japoneses com os olhos abertos, o adversário nas oitavas de final; mas uma vez que os deuses do futebol não permitiram, que viesse a seleção belga. Por ser 5 vezes campeã e como disse o bruxo nacionalista, os canários da terra "bicariam" os canários belgas de qualquer jeito.
Realmente podem "bicar" os canários belgas...; mas em amistosos, ou em 2022, ou em 2026, ou em 2030, ou em...; por que em 2018, além de desconhecer os aeroportos internacionais do Brasil, a seleção de pardais, pombos, calopsitas e "canarinhos da terra" vão fazer suas coreografias nos poleiros das estações rodoferroviárias da Europa.
No entanto, nem tudo foi vexame caro leitor; e convenhamos, podem minguar as águas salgadas e acabar em nada as águas dulcícolas do Planeta; mas nunca, jamais acabará o futebol jogado mund`afora com suor, dedicação, comprometimento, fama, lágrimas, rios e mares de dinheiro. É muito amor pelo dinheiro esparramado pelos bicos das chuteiras e nenhum respeito pelos mais de 200 milhões de nacionalistas filiados à pátria amada, Brasil, à cada 4 anos!
Da Copa, sobrou a cozinha que representa a cultura de um povo provinciano e colonialista, que se diz metropolitano. Quem é esse povo súdito de europeus? É formado pela nacionalidade brasileira; e se não desiste, muito menos, muda a postura, os hábitos e costumes, nunca. E atendendo a lei premissa dos reis, nasceram broncos e serviçais das majestades; para posteriormente, depois de muito tempo, broncos e serviçais das majestades, morrer!
A regra é clara Gavilan Gafanhoto: em palácios ou em barracos pode faltar copa, mas é obrigatório ter, no mínimo, uma cozinha com fogão (à lenha ou a gás) e algumas panelas, talheres e louças. Sobretudo, porque nesse ambiente amorfo preparam-se os esquemas, cozinham os jeitinhos, mexem as vantagens, filtram as águas da influência, temperam as conveniências, aquecem as sutilezas e servem a corrupção em forma de iguaria que entopem estômagos, enchem mais de 200 milhões de barrigas...; e lamentavelmente, nutre de cultura sem refino intelectual a mente da massa produzida pela indústria de nacionalidade brasileira.
"Um povo, porque nação requer valores morais e ética cidadã exemplar acima de quaisquer outras, é unido e enlaçado, torna-se único da seguinte maneira: pela política aplicada no país, somada à cultura adotada no seio social e plenamente aderida pelo inconsciente coletivo".
Tanto na cozinha brasileira, como no texto lido, o meio é contexto meramente ilustrativo e no enredo acima, desnecessário; porém, todavia, o início justifica o fim. E vice-versa.
P.S. embora tenha seguido o mesmo caminho das seleções que serviram de chacota para os brasileiros, ou seja, Argentina, Alemanha, Uruguai, México, Inglaterra, Costa Rica e outras, os panamenhos, povo que não sabe quantos lados tem a bola, manteve a Seleção Europeia de Nacionalidade Brasileira na capa do Guinnes book, como a seleção de futebol que levou a maior goleada em todas as copas. Enquanto o Brasil saiu de campo atordoado pelos 7 (sete) atropelamentos dos alemães na mesma partida, os panamenhos levaram de 6 (seis) da Inglaterra.
Isso basta, ou o leitor se esqueceu da vexatória venda do primeiro lugar do Rubinho Barrichello para o alemão Michael Schumacher no Grande Prêmio da Áustria disputado em 12 de maio de 2002?