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Nossa língua portuguesa
Se você entrasse em uma livraria em 1915, ao pegar um exemplar de O Patinho feio, de Hans Christian Andersen, leria um trecho escrito assim:
(...)
"- Algumas crianças chegaram ao jardim e puzeram-se a atirar migalhas de pão a agua.
A menor dellas, batendo as mãozinhas, exclamou alegre:
-Mas reparem! Ali está mais um cysne!"
Sabe-se que a língua não é estática, tendo em vista os arcaísmos pronunciados por pessoas muito mais velhas que nós e no relampejar que é a vida, pronuncio hoje, algumas palavras que são desconhecidas pelos mais jovens. "Vossa mercê - Vossemecê - vosmecê e atualmente "você" exemplificam essa evolução da língua. Os neologismos também são bem-vindos, pela necessidade da criação de palavras para designar as descobertas e invenções que ocorrem todo o tempo no mundo.
A história da língua portuguesa iniciou-se alguns séculos antes do nascimento de Cristo, na cidade de Roma, onde se falava o latim. Antes da invasão dos romanos à Península Ibérica, onde hoje estão Portugal e Espanha, as pessoas que viviam na região, já falavam outras línguas, mas foram obrigadas a usar o latim. Com o passar do tempo, o latim que se usava ali foi se modificando e a Península estava totalmente romanizada. Houve também nessa época, uma grande invasão dos povos guerreiros(alanos, suevos, vândalos, visigodos), que começaram a saquear as cidades. Palavras desses povos guerreiros fizeram parte do vocabulário dos ibéricos: grupo, agasalho, sopa, estribo e tantas outras. Conta-se que os vândalos fizeram tanta destruição que, com o tempo, o nome deles tornou-se o significado que se conhece atualmente: "pessoas que destroem monumentos ou bens públicos." Posteriormente a essa época, houve a invasão dos árabes à Península por mais de setecentos anos. Lá fundaram-se vilas e cidades , influenciando a cultura árabe sobre a vida dos ibéricos. Palavras árabes entraram no vocabulário comum e passaram a ser faladas por todos. Eis algumas delas: arroz, azeite, azeitona, açougue cuscuz, cabide Uma boa dica para saber se uma palavra é de origem árabe, é verificar se ela começa com al, que em árabe é um artigo, juntando-se ao substantivo português:
Al-Kharxofa - alcachofra
Al- hayyat - alfaiate
Al- gazara - algazarra
(...)
As lutas para expulsar os árabes da Península Ibérica duraram séculos. Os ibérios foram conquistando as regiões e em 1143, num território tomado dos árabes, foi fundado o reino de Portugal. Nesse período surgiram os primeiros textos escritos em uma nova língua - o galego-português, assim chamada porque era falada na Galiza e em Portugal. Esse era o tempo dos trovadores, nome dado às pessoas que compunham as cantigas tocadas e cantadas nas festas dos palácios e nas aldeias. Faz-me lembrar das Cantidas de Amor, de Amigo, cantigas de Escárnio e Maldizer, estudadas em décadas passadas.
Além das ricas contribuições dos povos indígenas e africanos, a nossa língua portuguesa compõe-se , na maioria, de palavras de origem latina, herdamos também um vasto vocabulário dos portugueses. Com a vinda dos imigrantes europeus, houve uma mudança acentuada no falar do brasileiro. Conforme o lugar onde os imigrantes iam morar, a língua portuguesa falada no Brasil ia se modificando e ganhando sotaques diferentes de região para região. Tenho um olhar de beleza pelas diferenciações no ritmo, na sonoridade da fala, nas palavras que são usadas em uma região e desconhecidas em outra, é a nossa diversidade falando alto . Há também as palavras de origens estrangeiras que foram aportuguesadas: aquarela, serenata de origem italiana; clube, futebol - inglesas; valise, abajur - francesas; mochila, pirueta - espanholas. É de uma riqueza tamanha a nossa língua. Gosto de jequitibá, pamonha, cajá, Caruaru, abacaxi , originárias do tupi. São radiantes também, berimbau, acarajé, quitute, vatapá, moleque vindas da nossa Mãe África. Quando ouvi em tempos longínquos, do professor de latim , Jaime França, que futebol em nossa língua materna seria "ludopédio", olhei-o de esguelha , embora tenha razão de ser: Do latim ludus- jogo, divertimento e do latim pes- pedis- pés.
Estando você em Angola e se for de baixa estatura como eu, vão lhe chamar de cambuta e se lhe servirem o mata-bicho, sorria e agradeça, estão lhe oferecendo um saboroso café da manhã!
Não posso deixar de mencionar a dança chamada Semba, trazida também pelos nossos irmãos africanos, uma preciosidade que a mim muito me encanta!
"Quem não gosta do samba, bom sujeito não é
Ou é ruim da cabeça, ou doente do pé..."
Aplausos a Caymmi e a tantos outros mestres que souberam poeticamente reverenciar a nossa tão falada língua portuguesa...
Fonte: Tufano, Douglas. Navegando pela língua portuguesa - 1.ed. - São Paulo:
. Moderna, 2007.
(...)
"- Algumas crianças chegaram ao jardim e puzeram-se a atirar migalhas de pão a agua.
A menor dellas, batendo as mãozinhas, exclamou alegre:
-Mas reparem! Ali está mais um cysne!"
Sabe-se que a língua não é estática, tendo em vista os arcaísmos pronunciados por pessoas muito mais velhas que nós e no relampejar que é a vida, pronuncio hoje, algumas palavras que são desconhecidas pelos mais jovens. "Vossa mercê - Vossemecê - vosmecê e atualmente "você" exemplificam essa evolução da língua. Os neologismos também são bem-vindos, pela necessidade da criação de palavras para designar as descobertas e invenções que ocorrem todo o tempo no mundo.
A história da língua portuguesa iniciou-se alguns séculos antes do nascimento de Cristo, na cidade de Roma, onde se falava o latim. Antes da invasão dos romanos à Península Ibérica, onde hoje estão Portugal e Espanha, as pessoas que viviam na região, já falavam outras línguas, mas foram obrigadas a usar o latim. Com o passar do tempo, o latim que se usava ali foi se modificando e a Península estava totalmente romanizada. Houve também nessa época, uma grande invasão dos povos guerreiros(alanos, suevos, vândalos, visigodos), que começaram a saquear as cidades. Palavras desses povos guerreiros fizeram parte do vocabulário dos ibéricos: grupo, agasalho, sopa, estribo e tantas outras. Conta-se que os vândalos fizeram tanta destruição que, com o tempo, o nome deles tornou-se o significado que se conhece atualmente: "pessoas que destroem monumentos ou bens públicos." Posteriormente a essa época, houve a invasão dos árabes à Península por mais de setecentos anos. Lá fundaram-se vilas e cidades , influenciando a cultura árabe sobre a vida dos ibéricos. Palavras árabes entraram no vocabulário comum e passaram a ser faladas por todos. Eis algumas delas: arroz, azeite, azeitona, açougue cuscuz, cabide Uma boa dica para saber se uma palavra é de origem árabe, é verificar se ela começa com al, que em árabe é um artigo, juntando-se ao substantivo português:
Al-Kharxofa - alcachofra
Al- hayyat - alfaiate
Al- gazara - algazarra
(...)
As lutas para expulsar os árabes da Península Ibérica duraram séculos. Os ibérios foram conquistando as regiões e em 1143, num território tomado dos árabes, foi fundado o reino de Portugal. Nesse período surgiram os primeiros textos escritos em uma nova língua - o galego-português, assim chamada porque era falada na Galiza e em Portugal. Esse era o tempo dos trovadores, nome dado às pessoas que compunham as cantigas tocadas e cantadas nas festas dos palácios e nas aldeias. Faz-me lembrar das Cantidas de Amor, de Amigo, cantigas de Escárnio e Maldizer, estudadas em décadas passadas.
Além das ricas contribuições dos povos indígenas e africanos, a nossa língua portuguesa compõe-se , na maioria, de palavras de origem latina, herdamos também um vasto vocabulário dos portugueses. Com a vinda dos imigrantes europeus, houve uma mudança acentuada no falar do brasileiro. Conforme o lugar onde os imigrantes iam morar, a língua portuguesa falada no Brasil ia se modificando e ganhando sotaques diferentes de região para região. Tenho um olhar de beleza pelas diferenciações no ritmo, na sonoridade da fala, nas palavras que são usadas em uma região e desconhecidas em outra, é a nossa diversidade falando alto . Há também as palavras de origens estrangeiras que foram aportuguesadas: aquarela, serenata de origem italiana; clube, futebol - inglesas; valise, abajur - francesas; mochila, pirueta - espanholas. É de uma riqueza tamanha a nossa língua. Gosto de jequitibá, pamonha, cajá, Caruaru, abacaxi , originárias do tupi. São radiantes também, berimbau, acarajé, quitute, vatapá, moleque vindas da nossa Mãe África. Quando ouvi em tempos longínquos, do professor de latim , Jaime França, que futebol em nossa língua materna seria "ludopédio", olhei-o de esguelha , embora tenha razão de ser: Do latim ludus- jogo, divertimento e do latim pes- pedis- pés.
Estando você em Angola e se for de baixa estatura como eu, vão lhe chamar de cambuta e se lhe servirem o mata-bicho, sorria e agradeça, estão lhe oferecendo um saboroso café da manhã!
Não posso deixar de mencionar a dança chamada Semba, trazida também pelos nossos irmãos africanos, uma preciosidade que a mim muito me encanta!
"Quem não gosta do samba, bom sujeito não é
Ou é ruim da cabeça, ou doente do pé..."
Aplausos a Caymmi e a tantos outros mestres que souberam poeticamente reverenciar a nossa tão falada língua portuguesa...
Fonte: Tufano, Douglas. Navegando pela língua portuguesa - 1.ed. - São Paulo:
. Moderna, 2007.