Docentes: células revolucionárias
Iniciar-se na docência, estar em uma sala de aula, estar em contato com uma turma diversificada de alunos, ter planos de aula pré-estabelecidos. Desconstruir-se a cada aula. E por quê? Pelo fato de que como professor não se pode estar pronto.
Ser professor é um vir a ser, é um estar-se modificando. O professor é um estado de latência, é um tornar-se docente a cada prática didática. O professor é um ser virtual, porque passa do polo da possibilidade ao da realidade. Eis que, então, estou dentro de uma sala de aula, dentro de uma escola, dentro de um bairro, dentro de uma cidade, dentro de um estado, dentro de um país, dentro de um continente, dentro do mundo. E o método de ensino teria de ser o mesmo para toda e qualquer escola dessa ordem? Cada espaço escolar é singular em suas interrelações com o espaço, histórico, social, e cultural, e, portanto, cabe ao professor identificar e salvaguardar a especificidade desse espaço escolar em que está, entretanto, não deixando de lado a universalidade do conhecimento.
O ponto inicial e principal da minha tarefa como professor é a tentativa de subverter certa ordenação e fixidez presente na maioria das escolas. Acredito que, em muitos momentos, e que, em muitas situações, a escola acaba “matando a criatividade dos alunos” ao formatá-los a um bem comum, relegando as suas particularidades enquanto sujeitos humanos integrais. Para ilustrar a minha asserção quanto à escola como “assassina” da criatividade, utilizo-me da seguinte história que li/vi não lembro onde: a professora pergunta a uma menina de seis anos na aula de desenho “O que você está desenhando?”; ao que ela responde “Deus”; a professora adverte “Mas ninguém sabe como ele é” e a menina, então, diz “Vão saber em um minuto”.
A menina, personagem do pequeno relato-diálogo acima, demonstra imensa capacidade de imaginar, fantasiar, criar, e principalmente de crer em sua fabulação e em sua criatividade. Por que aos poucos a escola sufoca a criatividade dos seus alunos? Não cabe a mim, nesse momento, encontrar uma resposta, ou julgar totalmente as metodologias das escolas (e aqui faço um recorte: o sistema educacional brasileiro), mas afirmar que a razão principal da minha prática docente é e sempre será não “matar a criatividade” dos meus alunos.
O espaço escolar é subjetivo, porquanto, os alunos trazem para a escola as suas subjetividades. Não pretendi, não pretendo e não pretenderei, ao longo da minha carreira docente, esquecer-me das subjetividades/das individualidades dos meus alunos. Colegas professores, reflitam sempre: além de estudantes, acima de estudantes, seus alunos são sujeitos inscritos em uma temporalidade, em uma espacialidade, em uma historicidade, em socioculturabilidades distintas, as quais são geradoras das mais variadas identidade interpessoais. Tentarei, sempre, compreender e valorizar a multiplicidade de suas vidas, porque ainda creio que, por mais que a escola e que a universidade (um dos ambientes mais censuradores de sonhos) tentem sufocar as minhas ideologias: “Todo coração é uma célula revolucionária.”