A melhor surra

A MELHOR SURRA QUE LEVEI.

Quando guri, eu era um capeta incorrigível. No colégio, qualquer coisa errada que acontecesse lá estava eu como um dos protagonistas.

As professoras, que naquela época eram respeitadas, e temidas, como era o Caso da professora de “Canto Orfeónico” que exigia que na entrada disséssemos “Bom dia, com licença” e na saída “até amanhã muito, muito obrigado”.

Outra, que, como quase todas as professoras da época, era solteirona e irritadiça, não titubeava em pegar a gente pela orelha e colocar no canto da sala de aula de castigo. Como eu era conversador, o que não era permitido, sempre ia para o castigo e ainda obrigado a escrever 100(cem) vezes “não devo conversar na aula”. Porém, eu tinha o mérito de estudar bastante e sempre obtinha notas altas nas matérias, que eram Português, Matemática e Estudos Sociais que faziam parte do currículo do curso primário, porém, no comportamento, minha nota máxima era cinco, no total de 10.

A professora de Português, que era famosa pelos castigos, diferentes da anterior, já sabia da minha fama e então sempre estava me olhando e dizia “Olha gordinho que eu estou de olho em ti; comporta-te que uma hora destas eu te pego”! “Ela dificilmente chamava os alunos pelo nome, mas inventava um apelido, ligado a compleição física dos mesmos.”

Assim, tínhamos as meninas que eram chamadas por ela, de “Varinha” pela magreza, de “Ceguinha” outra que vivia procurando alguma coisa e não achava, tinha a Margarida, que era muito branca, o Banana, pela preguiça e falta de atenção e outros mais que ficaram marcados pelo apelido.

Terminado o curso primário que era de cinco anos, nós, já adolescentes, fomos matriculados no “curso de admissão ao ginásio” do Colégio Marista, para podermos ir para a primeira série ginasial. Este curso durava um ano e tinha como regente um “Irmão Marista” também famoso pela exigência de Disciplina.

O professor tinha uma deficiência física, era corcunda com uma saliência na região da paleta,. o “Pafúncio que era repetente e já tinha seus 17 anos colocou nele o apelido de ‘CABIDE” e assim passou a ser conhecido por todos os alunos.

Eu não escapei do Pafúncio, e por causa de meus olhos verdes e grandes, me apelidou de Coruja. Não gostei nada, e embrabecia quando alguém me chamava assim. Foi pior, pois o Apelido Pegou.

Pior, foi que o “Pafúncio” colocou o Apelido de “Tomate” no Diretor porque ele era baixinho, gordo e bem vermelho, e assim ele ficou conhecido por toda a turma.

Eu estava com meus 13 anos, resolvi me comportar, porque sabia que o pai era muito severo e a mãe não nos levava de compadre. Assim passou aquele ano e chegou o dia do “EXAME FINAL”.

Como eu, apesar de capeta no primário, estudei bastante e fui aprovado entre os primeiros colocados, o que me rendeu uma medalha e uma menção honrosa. Claro que o pai ficou satisfeito e a mãe muito contente.

“No ano seguinte fui matriculado na primeira série ginasial, sendo que tive algumas regalias no começo, porque já era conhecido dos maristas, e era também “Coroinha’, e auxiliava o Vigário da Paróquia na catequese, e ajudava a missa”“.

O primeiro ano do Ginásio passou sem que eu fizesse qualquer traquinagem e até consegui nota 10 em comportamento. .Assim passei para a segunda série, inclusive com a nota mais alta da turma.

Havia uma turma de repetentes que eram conhecidos pela “má conduta”, inclusive alguns somente não foram expulsos porque os pais eram pessoas da alta sociedade e contribuíam com o colégio sempre que fossem solicitados, e também porque as traquinadas que faziam não prejudicavam ninguém, apenas perturbavam no recreio e na entrada das aulas.

Um dia, já no meio do ano, chegou um professor de Inglês que tinha a fama de durão, e ainda era adivinho, não tendo como fazer nada que ele não descobrisse o Autor. Assim nas aulas dele todos se comportavam e ninguém fazia nenhuma coisa que perturbasse as mesmas.

Até aí, eu anda sempre bem comportado e com nota 10 na avaliação semanal e mensal, até que um dia a coisa degringolou para o meu lado, pois após uma “sabatina”, como eram conhecidas as provas mensais, o Professor de Português, que era o Diretor, disse que estava terminado o tempo entregássemos as provas.

Após todos entregarem, ele com um ar de Deboche e olhando para mim disse: “Bom, já está pelada a Coruja,” podem sair. Aí eu não me aguentei e respondi: Então vamos fazer ela com “MOLHO DE TOMATE”. Foi uma risada geral, e o Diretor ficou ainda mais vermelho e eu perguntei: “Ué Irmão porque o senhor fechou o sinal”. Resultado: fiquei de castigo e tive de copiar o regulamento do colégio, que tinha na Caderneta e que possuía mais de vinte páginas. Daí em diante me sentindo injustiçado começou a aprontar nas aulas de português, mas sem prejudicar o andamento das mesmas. Fazia as perguntas mais idiotas possíveis, para tentar deixar o professor sem saída. Uma vez perguntei a ele o Seguinte: Professor, a palavra “SE’ não é advérbio de dúvida”? Ele respondeu que não, então eu respondi: Se houver boa nota tu passar. Aí não indica que o SE e uma dúvida.

Mas um dia a turma disse que duvidava que eu aprontasse uma na aula de Inglês. Eu já estava “mordido” com o que o professor de Português tinha me feito injustamente, então disse pra todos: Esperem pra ver.

No fim do mês, como era costume no ginásio, tivemos uma sabatina com o professor de Inglês.

Ele tinha o habito de durante a sabatina, que era na segunda feira à tarde, cochilar na cadeira, com a cabeça recostada na mesa. Esperei alguns minutos e fui atrás do mesmo e amarrei o cordão da Batina na cadeira. (naquela época os Maristas usavam uma Batina com um cordão amarrado na cintura.

Quando o despertador dele tocou, ele gritou como era seu costume: Pronto, terminou o tempo entreguem as folhas. Depois de todos entregarem ele levantou levando a cadeira de arrasto. Foi uma risada geral seguida de um silêncio Sepulcral, pois ele gritou: É zero pra todo mundo. Coruja vem cá, pois eu sei que isso é coisa tua.

Eu não neguei a autoria e fui até a mesa e o professor me deu um puxão no braço, dois tapas na cabeça e um empurrão que me fez cair. Eu levantei e fui chorando para casa e contei para o pai o acontecido, ocultando o motivo e o porquê dos fatos.

Ele não disse nada, apenas entrou em casa, colocou o revolver calibre 44 na cintura, e pegou um “Mango”‘ (rebenque de domar cavalos) e comigo pela frente se dirigiu até o ginásio que ficava a uma quadra de onde nós morávamos.

A turma quando viu aquilo vibrou, e resolveram ir atrás, para presenciarem o que iria acontecer.

Chegando ao Ginásio o pai tocou a campainha e o Diretor abriu a porta e ficou mais bra nco que um papel quando deu de cara com ele com aquele rebenque na mão e dizendo: “Me chame o Professor que bateu no meu guri.!

O Diretor tentou conversar, mas o pai insistiu para que o professor viesse. Então o Diretor chamou e o “Irmão” veio tremendo de medo, e perguntou: O Senhor queria falar comigo?

Sim eu quero saber se foi o Senhor e porque o bateu no Guri.? O Professor, muito trêmulo e branco de medo, confirmou e explicou a razão e o porquê do acontecido.

Nestas alturas, os meus colegas já estavam vibrando para ver a surra que o pai ia dar no professor de Inglês, pois todos tinham vontade de vê-lo apanhar.

Diante da explicação o pai, que sempre fora justo e consciente de seus atos, pegou o Rebenque, entregou para o professor e Disse: Então ele fez esse ato de desrespeito com um professor, não foi esta a educação que teve em casa. O Senhor então pegue este relho e dê-lhe uma surra para apreender a respeitar os mais velhos e principalmente um professor que merece toda a minha admiração e apreço, pois lidar com os filhos alheios não é uma missão fácil.

Não preciso dizer que o professor deitou o mango na minha bunda, e quando entregou o relho o pai lhe disse:

Irmão, o senhor me desculpe pela falta de educação desse Guri, mas saiba que fatos como este não vão mais ocorrer, pois quando chegar em casa vai se ver comigo.

Não preciso dizer que ao chegar a casa, apanhei mais ainda e ouvi da minha mãe: “No colégio a gente se prepara para o futuro, e a Educação deve ser dada pelos pais.”

Esta Surra foi a melhor, coisa que aconteceu na minha adolescência. Aprendi que a profissão de professor é uma missão sublime e merece todo o nosso respeito e apoio.

O fato que narrei, contei aos meus filhos e posso adiantar que não fiquei com qualquer trauma pelas surras que levei quando fazia algo errado, e esta que acabei de contar foi a melhor (apesar de mais doída) de todas.

Se todos os pais dessem o valor que os professores merecem, teríamos hoje no Brasil, não corruptos e infratores das lei, mas homens e mulheres dignos para administrar o País.

Aos Senhores Psicólogos, que defendem a teoria de que o castigo paterno deixa marcas e traumas no futuro, digo que, meditem melhor e vejam que o tal de “DIÁLOGO” somente serve para fomentar a “IMPUNIDADE”.