Gramática: qual, onde e como?
Comumente docentes de língua portuguesa atrelam o ensino da língua materna apenas ao ensino da gramática normativa. O fato é que a criança quando ingressa na escola, detém um conhecimento intuitivo ou inconsciente quanto à estrutura e organização da sua língua, pois já sabe falar. Conforme afirma Sírio Possenti “saber uma língua significa saber uma gramática”, desse modo a criança já possui uma gramática internalizada, ou seja, domina um conjunto de regras que lhe permite fazer uso em todos os níveis de constituição e funcionamento da língua: fonológico, morfológico, sintático, semântico, pragmático e textual -discursivo.
Sendo assim, qual seria então o papel do professor? Para Travaglia (1996) o objetivo de se ensinar português na escola é para desenvolver a competência comunicativa dos usuários da língua, isto é, capacidade de produzir e compreender textos e empregar a língua adequadamente nas diversas situações de comunicação. Para tanto, é necessário que o aluno entre em contato com a maior variedade possível de situação e interação comunicativas, através de análises e produções textuais. Travaglia vai além, ele nos diz que é necessário ensinar o aluno a pensar, desenvolver suas habilidades de observação e argumentação sobre a linguagem, desenvolvendo assim a autonomia linguística do discente.
Outra questão muito atrelada ao ensino da língua está em fazer com que o aluno domine a norma culta ou língua padrão. Entretanto a criança, antes de entrar na escola, aprende o idioleto do seu meio e “desconsiderar sua forma de expressão oral [...] equivaleria [...] o mesmo que levar o aluno a negar suas próprias raízes”, conforme nos afirma Lilian Passarelli. É necessário sim que o aluno aprenda a norma culta da sua língua, afinal qualquer variabilidade linguística contrária a ela constitui em erro, podendo o indivíduo ser vítima de discriminação. O ideal é que o aluno conheça os vários idioletos que fazem parte da sua comunidade linguística, para que ele possa escolher com qual irá expressar-se em adequação a situação comunicativa.
Aliás, as diversas situações de comunicação podem ser trabalhadas sob a perspectiva textual, onde a gramática pode ser evidenciada como a própria língua em uso, permitindo assim ao aluno que ele a enxergue inserida em uma unidade textual e perceba como se dá o seu funcionamento e não apenas a veja como um conjunto de regras da língua que devem ser seguidas e estudadas à margem dos textos.
Se tais conceitos forem bem trabalhados com o aluno, tornando-se intrínsecos a ele e desde que ele tenha sua autonomia linguística também desenvolvida, então sem sombra de dúvida, ele saberá qual gramática escolher, onde empregá-la e como usá-la, de modo que melhor atenda a sua situação comunicativa.