A FUNÇÃO DO TEATRO NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA - Grupo Teatral Cena's: O Protagonismo em cena
A FUNÇÃO DO TEATRO NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA
GRUPO TEATRAL CENA’S: O PROTAGONISMO EM CENA
“Acertar em educação sem pedagogizar.”
Ana Mae Barbosa
Dalvani Rodrigues Guimarães*
Resumo
Este trabalho apresenta um relato das ações desenvolvidas no ensino de Teatro através do projeto Teatro na Escola – O Teatro e a Formação Humana, criado pela arte-educadora Dallva Rodrigues que atua na área desde o ano de 2007, em parceria com o Grupo Teatral Cena’s de Limoeiro do Norte-CE.
Palavras-chave: Teatro, Educação, Protagonismo.
INTRODUÇÃO
A arte tem sido proposta como instrumento fundamental de educação, ocupando historicamente papéis diversos, desde Platão, que a considerava como base de toda a educação natural.
O teatro, como arte, foi formalizado pelos gregos, passando dos rituais primitivos das concepções religiosas que eram simbolizadas, para o espaço cênico organizado, como demonstração de cultura e conhecimento. É, por excelência, a arte do homem exigindo a sua presença de forma complexa: seu corpo, sua fala, seu gesto, manifestando a necessidade de expressão e comunicação.
O ato de dramatizar está potencialmente contido em cada um, como uma necessidade de compreender e representar uma realidade. Ao observar uma criança em suas primeiras manifestações dramatizadas, o jogo simbólico, percebe-se a procura na organização de seu conhecimento do mundo de forma integradora.
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*Especialista em Arte-Educação e Cultura Popular
Faculdade de Tecnologia Darcy Ribeiro
Secretaria Municipal de Educação Básica de Limoeiro do Norte
E-mail: dallva.arteeducacao@gmail.com
A dramatização acompanha o desenvolvimento da criança como uma manifestação espontânea, assumindo feições e funções diversas, sem perder jamais o caráter de interação e de promoção de equilíbrio entre ela e o meio ambiente. Essa atividade evolui do jogo espontâneo para o jogo de regras, do individual para o coletivo.
Dramatizar não é somente uma realização de necessidade individual na interação simbólica com a realidade, proporcionando condições para um crescimento pessoal, mas uma atividade coletiva em que a expressão individual é acolhida. Ao participar de atividades teatrais, o indivíduo tem a oportunidade de se desenvolver dentro de um determinado grupo social de maneira responsável, legitimando os seus direitos dentro desse contexto, estabelecendo relações entre o individual e o coletivo, aprendendo a ouvir, a acolher e a ordenar opiniões, respeitando as diferentes manifestações, com a finalidade de organizar a expressão de um grupo.
O teatro tem como fundamento a experiência de vida: idéias, conhecimentos e sentimento. A sua ação é a ordenação desses conteúdos individuais e grupais.
A criança, ao começar a freqüentar a escola, possui a capacidade da teatralidade como um potencial e como uma prática espontânea vivenciada nos jogos de faz-de-conta. Cabe à escola estar atenta ao desenvolvimento no jogo dramatizado oferecendo condições para o exercício consciente e eficaz, para aquisição e ordenação progressiva da linguagem dramática. Deve tornar consciente as suas possibilidades, sem a perda da espontaneidade lúdica e criativa em que é caracterizada a criança ao ingressar na escola.
O teatro, no processo de formação da criança, cumpre não só função integradora, mas dá oportunidade para que ela se aproprie crítica e construtivamente dos conteúdos sociais e culturais de sua comunidade mediante trocas com os seus grupos. No dinamismo da experimentação, da fluência criativa propiciada pela liberdade e segurança, a criança pode transitar livremente por todas as emergências internas integrando imaginação, percepção, emoção, intuição, memória e raciocínio.
As propostas educacionais devem compreender a atividade teatral como uma combinação de atividade para o desenvolvimento global do indivíduo, um processo de socialização consciente e crítico, um exercício de convivência democrática, uma atividade artística com preocupações de organização estética e uma experiência que faz parte das culturas humanas.
A escola deve viabilizar o acesso do aluno à literatura especializada, aos vídeos, às atividades de teatro de sua comunidade. Saber ver, apreciar, comentar e fazer juízo crítico devem ser igualmente fomentados na experiência escolar.
O teatro no ensino fundamental proporciona experiências que contribuem para o crescimento integrado da criança sob vários aspectos. No plano individual, o desenvolvimento de suas capacidades expressivas e artísticas. No plano do coletivo, o teatro oferece, por ser uma atividade grupal, o exercício das relações de cooperação, diálogo, respeito mútuo, reflexão sobre como agir com os colegas, flexibilidade de aceitação das diferenças e aquisição de sua autonomia como resultado do poder agir e pensar sem coerção.
A criança, ao iniciar o ciclo básico, está na idade de vivenciar o companheirismo como um processo de socialização, de estabelecimento de amizades. Compartilhar uma atividade lúdica e criativa baseada na experimentação e na compreensão é um estímulo para a aprendizagem.
A organização de grupos para a realização de uma tarefa é um exercício desafiador para integrar os componentes. Cabe ao professor proceder de maneira a incentivar essas relações. A necessidade de colaboração torna-se consciente para a criança, assim como a adequação de falar, ouvir, ver, observar e atuar. Assim, liberdade e solidariedade são praticadas.
O professor deve conhecer as etapas de desenvolvimento da linguagem dramática da criança e como ela está relacionada ao processo cognitivo. Por volta dos sete anos, a criança se encontra na fase do faz-de-conta, em que a realidade é retratada da maneira que é entendida e vivenciada. Ela ainda não é capaz de refletir sobre temas gerais, distantes do seu cotidiano. Também não se preocupa com a probabilidade dos fatos. Próximo aos oito, nove anos, preocupa-se em mostrar os fatos de forma realista. Está mais consciente e comprometida com o que dizer por meio do teatro.
Inicialmente, os jogos dramáticos têm caráter mais improvisacional e não existe muito cuidado com o acabamento, pois o interesse reside principalmente na relação entre os participantes e no prazer do jogo.
Gradualmente, a criança passa a compreender a atividade teatral como um todo, o seu papel de atuante e observa um maior domínio sobre a linguagem e todos os elementos que a compõem. A elaboração de cenários, objetos, roupas, organização e seqüência de história é mais acurada. Esse processo precisa ser cuidadosamente estimulado e organizado pelo professor. Os cenários pintados não mostram a representação da perspectiva, mas na maioria das vezes apresentam proporções adequadas.
Compete à escola oferecer um espaço para a realização dessa atividade, um espaço mais livre e mais flexível para que a criança possa ordenar-se de acordo com a sua criação. Deve ainda oferecer material básico, embora os alunos geralmente se empenhem em pesquisar e coletar materiais adequados para as suas encenações.
O professor deve organizar as aulas numa seqüência, oferecendo estímulos por meio de jogos preparatórios, com o intuito de desenvolver habilidades necessárias para o teatro, como atenção, observação, concentração e preparar temas que instiguem a criação do aluno em vista de um progresso na aquisição e domínio da linguagem teatral. É importante que o professor esteja consciente do teatro como um elemento fundamental na aprendizagem e desenvolvimento da criança e não como transmissão de uma técnica.
Levar para o aluno textos dramáticos e fatos da evolução do teatro são importantes para que ele adquira uma visão histórica e contextualizada em que possa referenciar o seu próprio fazer. É preciso estar consciente da qualidade estética e cultural da sua ação no teatro. Os textos devem ser lidos ou recontados para os alunos como estímulo na criação de situações e palavras.
No ensino fundamental o aluno deve desenvolver um maior domínio do corpo, tornando-o expressivo, um melhor desempenho na verbalização, uma melhor capacidade para responder às situações emergentes e uma maior capacidade de organização e domínio de tempo. (Parâmetros curriculares nacionais: arte / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997, p. 83.)
Os Parâmetros Curriculares Nacionais buscam identificar os diversos argumentos sobre a importância do conhecimento artístico. A abordagem dramática na educação admite a importância do teatro infantil e considera-o como base da educação criativa. O teatro na escola, de acordo com os PCNS, tem o intuito de que o aluno desenvolva um maior domínio do corpo, tornando-o expressivo, um melhor desempenho na verbalização, uma melhor capacidade para responder às situações emergentes e uma maior capacidade de organização de domínio de tempo.
O teatro estimula o indivíduo no seu desenvolvimento mental e psicológico. Mas apesar disso, o teatro é arte, arte que precisa ser estudada não apenas em níveis pedagógicos, mas também como uma atividade artística que tem as suas características como tal. Assim declara Reverbel: Que o teatro tem a função de divertir instruindo é uma verdade que ninguém pode contestar, pois seria negar-lhe a própria história (REVERBEL, 1989)
JUSTIFICATIVA
O significado da arte é diferente para alunos e crianças. Para a criança, a arte é principalmente um meio de expressão. A criança é um ser extremamente dinâmico: à medida que se desenvolve e modifica sua forma de encantar o mundo, sua expressão também se modifica.
A arte desempenha um papel extremamente vital na educação das crianças. Quando a criança desenha, faz uma escultura ou dramatiza uma situação, transmite com isso uma parte de si mesma: nos mostra como sente, como pensa e como vê.
É um enorme prazer expressar os próprios sentimentos e emoções através da arte. Até crianças muito pequenas podem sentir essa satisfação, ao fazer uso de lápis e papel. Esse tipo de expressão estimula a autoconfiança e proporciona uma base para níveis mais avançados da arte.
Para crianças maiores e adolescentes, a arte é também um meio de apreciar e entender outros tipos de civilização e cultura, percebendo quais valores de uma sociedade influenciaram as que se seguiram.
As atividades de expressão propostas às crianças ou aos adolescentes desenvolvem sua capacidade de observação, percepção e imaginação, aptidões consideradas fundamentais para a apreciação de um quadro, escultura, espetáculo, ou música.
A iniciação em arte não deverá começar com uma visita a museus, mas com a apreciação da natureza que rodeia o aluno. A partir da beleza de uma flor, de um céu azul, de um pássaro voando é que a criança, mais tarde, ao aproximar-se de uma obra de arte, sentirá prazer, aprimorando pouco a pouco sua percepção.
Nosso objetivo na escola não é ter um aluno-ator, um aluno-pintor ou um aluno-compositor, mas sim dar oportunidades a cada um de descobrir o mundo, a si próprio e a importância da arte na vida humana (REVERBEL, 1989).
Conhecer a pedagogia da expressão é fundamental aos professores, não só os de teatro e educação artística, mas também os de outras disciplinas, para que possam ajudar o aluno a desenvolver a difícil arte de expressar suas ideias, pensamentos, anseios e desejos (REVERBEL, 1997).
O GRUPO
O Grupo Teatral Cena’s surgiu em Limoeiro do Norte em 2008, a partir das aulas periódicas de teatro no Centro Cultural Márcio Mendonça, onde são desenvolvidas, através da Secretaria da Cultura e do Turismo, políticas públicas de cultura para o município. O objetivo era trabalhar teatro com crianças e jovens das escolas públicas e particulares de Limoeiro do Norte.
O grupo conta hoje com aproximadamente 40 integrantes com faixa etária de 10 a 26 anos e segue diversas linhas teatrais: Infantil, Comédia, Tragicomédia, Drama.
Os componentes passam por oficinas de iniciação teatral. Como o teatro é por natureza interdisciplinar, as atividades propostas têm a finalidade de ampliar o universo de conhecimento e a visão crítica do aluno-ator-monitor. O maior objetivo do Grupo é restituir a área de artes cênicas, ao teatro, o seu verdadeiro papel, que é a formação da personalidade e da cultura da criança e do adolescente.
São trabalhados nas oficinas, elementos de montagem teatral, como figurinos, cenário, iluminação, sonoplastia, etc. Usam-se textos de apoio, de autores diversos, conhecidos ou anônimos, que servem de apoio para ampliar as possibilidades de construção de novas cenas, esquetes ou espetáculos.
No ano de 2008, o Grupo se insere no Movimento Mergulho Teatral do Vale do Jaguaribe, uma iniciativa não governamental dos grupos e companhias de artes cênicas da região, passando a representar o município de Limoeiro nos eventos e projetos, abrangentes aos 17 municípios que compõem a região do Vale do Jaguaribe.
O PROJETO
O projeto Teatro na Escola – O Teatro e Formação Humana existe desde 2007, quando a arte-educadora Dallva Rodrigues, também atriz e coordenadora do Grupo Teatral Cena’s iniciou os trabalhos de teatro no município de Limoeiro do Norte, através da Secretaria Municipal de Educação Básica.
O objetivo geral do projeto é construir conhecimento e propiciar ao aluno uma formação global, crítica e reflexiva. As ações específicas visam o conhecimento da importância do fazer teatral para o desenvolvimento da formação do Homem e aprimoramento das relações humanas: saber como trabalhar em grupo, superação da timidez e de alguns limites, troca de experiências, responsabilidade, comprometimento, respeito, saber ouvir o outro, compreender melhor as pessoas, ter um pensamento solidário, interação, enfrentar os problemas, compartilhar, participação, resgate da auto-estima e da autoconfiança. Além do conhecimento da história do teatro e seus tipos: palco, rua, boneco, clown, etc.; conhecimento de textos dramáticos teatrais, através de leituras que promovam a integração grupal e desenvolvam habilidades de interpretação, improvisação e de escrever; aprimoramento da dicção, corpo, voz, por meio de exercícios e jogos dramáticos.
Inicialmente os alunos estudam a importância do fazer teatral, história e tipos de teatro (palco, rua, fantoches, clown), gêneros teatrais; paralelos a jogos (exercícios teatrais). Nesse período, 1º módulo, eles passam por uma avaliação teórica.
Após três meses de preparação do aluno-ator, no 2º módulo, estuda-se a montagem teatral e suas particularidades (improvisação, construção da personagem, direção, figurino, maquiagem, cenário, iluminação, sonoplastia), acontece à formação de grupos, escolha de textos para serem encenados, seleção dos elencos e diretores, respectivamente, e de acordo com suas específicas montagens, eles são novamente avaliados teoricamente.
Geralmente, paralela a essas montagens, produzimos um festival (mostra), onde avaliamos a prática teatral e as diversas produções.
Formamos uma Banca Apreciadora para essa mostra, que geralmente é competitiva. Um grupo de amigos e parceiros do fazer teatral com reconhecidas práticas e formação nos campos das artes cênicas e da arte-educação, que têm a função de fomentar os debates a cerca das peças ou esquetes, e de aclamar destaques de relevância dentro das mesmas, que receberão menções de destaque por sua excelência estética e/ou por terem pontuado as discussões e a construção de conhecimento dentro do festival.
Os jurados avaliam nos quesitos seguintes:
Direção: DOMÍNIO DE GRUPO (disciplina), CRIATIVIDADE (releitura do tema), TÉCNICAS TEATRAIS (corpo, voz, marcação) e MONTAGEM (cenário, iluminação, sonoplastia, figurino, maquiagem e adereços);
Ator/Atriz: CORPO (presença cênica), VOZ (impostação, dicção, articulação, inflexão, timbre, respiração), ROSTO (expressão facial) e INTERPRETAÇÃO (construção da personagem, gestos, biótipo, sensibilidade)
Caracterização Cênica: cenário, sonoplastia, figurino, maquiagem e adereços e distribuição adequada no espaço cênico.
É importante salientar que a Mostra Competitiva funciona mais como um ciclo de debates de Peças Teatrais, favorecendo a diagnose e o intercâmbio de técnicas e saberes cênicos referentes às práticas em Arte-Educação do que um processo julgatório para indicação de supostos “melhores” em determinadas categorias.
Como última atividade do ano, realizamos seminários sobre os tipos de teatro, e uma avaliação autocrítica do aluno-ator quanto a sua contribuição ao projeto como um todo. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais SÃO CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO NO TEATRO:
• Compreender e estar habilitado para se expressar na linguagem dramática: avalia se o aluno desenvolve capacidades de atenção, concentração, observação e se enfrenta as situações que emergem nos jogos dramatizados; se articula devidamente o discurso falado e escrito, a expressão do corpo (gesto e movimento), as expressões plásticas, visual e sonora na elaboração da obra teatral; se compreende e sabe obedecer às regras de jogo, se tem empenho pra expressar-se com adequação e de forma pessoal ao contexto dramático estabelecido.
• Compreender o teatro como ação coletiva: avalia se o aluno sabe organizar-se em grupo, ampliando as capacidades de ver e ouvir na interação com seus colegas, colaborando com respeito e solidariedade, permitindo a execução de uma obra conjunta; se tem empenho na construção grupal do espaço cênico em todos os aspectos (cenário, figurino, maquiagem, iluminação), assim como na ação dramática; se sabe expressar-se com adequação, tendo o teatro como um processo de comunicação entre os participantes e na relação com os observadores (diretores); se apresenta um processo de evolução da aquisição e de domínio dramático.
• Compreender e apreciar as diversas formas de teatro produzidas nas culturas: avalia se o aluno é capaz de observar e apreciar as diversas formas de teatro em espaços cênicos distintos (bonecos, sombras, circo, manifestação regional dramatizada, etc.); se identifica as informações recebidas, assimilando-as como fonte de conhecimento e cultura; se compreende e aprecia as diversas formas de teatro presentes em sua região e em outras culturas e épocas, ampliando a capacidade de ver, relacionar, analisar e argumentar.
Paralelo a essas atividades de formação, montamos anualmente um espetáculo teatral de qualidade e nível superior as demais montagens, para representar o município no FESTVALE - Festival de Teatro do Vale do Jaguaribe.
Esse ano (2012), o Grupo Teatral Cena’s se inscreve no FESTVALE pela 2ª vez, com os espetáculos “Ratimbum, Pararatimbum” de Paulo Sacaldassy e “O Menino que virou história” de Nanna de Castro, ambos dirigidos pela coordenadora Dallva Rodrigues. Em 2010, na estréia do Grupo Cena’s no FESTVALE, foi inscrito o espetáculo de texto e direção de Dallva Rodrigues, o “Lampião e Maria Bonita – O Rei do Cangaço e a Mulata da Terra do Condor”, que foi aclamado pelo público, através do júri popular, como melhor espetáculo da região do Vale do Jaguaribe.
Foi um momento muito importante para o Grupo e para o projeto Teatro na Escola – O Teatro e a Formação Humana, que sentiu pela primeira vez, seu trabalho reconhecido pelo município e também por sua região.
Como citado, anteriormente, o projeto segue um programa, que é dividido em três módulos:
MODULO I: Iniciação Teatral
• A história do Teatro: A arte de representar vidas.
• Teatro: Arte de fazer rir, chorar, pensar.
• Ator: Resultado do interesse, da dedicação e da prática de exercícios dramáticos, aquele que empresta a vida a outro ser.
• Improvisação: Imaginação e criatividade em função da personagem.
• A Ação Teatral e o Espetáculo: Resultado da união de muitos.
MODULO II: Montagem Teatral
• Improvisação.
• Construção da personagem.
• Direção teatral.
• Cenografia.
• Iluminação.
• Sonoplastia.
MODULO III: Produção: FESTIVAL / MOSTRA TEATRAL
• Distribuição de temas.
• Adaptação, criação ou escolha do texto.
• Análise do texto escolhido.
• Ensaios e oficinas.
• Definição da equipe técnica.
• Montagem técnica: figurino, maquiagem, cenografia, iluminação e sonoplastia.
RESULTADOS ALCANÇADOS
No ano de 2007 (mês de agosto), o município de Limoeiro do Norte iniciou um processo de formação em arte – educação e de estímulo à compreensão artística. Professores da rede municipal passaram por capacitações nas mais diversas expressões artísticas: Teatro, Dança, Artes Plásticas e Canto Coral. Isso se deu devido a uma iniciativa da Secretaria Municipal de Educação Básica que compreendeu a arte – educação como um caminho metodológico eficaz para a melhoria do processo “Ensino – aprendizagem” nas escolas públicas municipais. Esta iniciativa, por sua vez, se deu pelo objetivo comum partilhado pela Educação e pela Arte: a transformação do ser humano.
Na época existiam 35 escolas públicas no município. Formamos 22 grupos de teatro (aproximadamente 300 alunos foram inseridos na área de artes cênicas).
Dando continuidade ao processo, realizamos a socialização da produção artística das escolas públicas municipais, através da I Mostra de Artes de Limoeiro do Norte, realizada em novembro do mesmo ano. Momento para os alunos mostrarem para Limoeiro, e para toda Região Jaguaribana, suas produções artísticas em teatro e em diversas outras áreas.
Principais espetáculos montados, após a formação com os multiplicadores das escolas públicas municipais: O Fantástico Mistério de Feiurinha, de Pedro Bandeira; A Bailarina de Cristal de Rita de Blassis; As Irmãs Neide de Dallva Rodrigues; O casamento da Bela e o Pássaro de Dallva Rodrigues; O Clube das Palavras Reluzentes de Júlio Lira; Lampião e Maria bonita – O Rei do Cangaço e a Mulata da Terra do Condor de Dallva Rodrigues. Os três últimos foram selecionados para o II Festival de Teatro das Escolas Públicas de Morada Nova, também no mesmo ano.
Em 2008, paralelamente ao nosso trabalho, desenvolvemos com a Secretaria de Saúde do município, o projeto “Acolher para facilitar o conhecer”, uma campanha contra o uso de drogas, e para circulação nas escolas selecionadas, montamos Alerta, também de minha autoria. A peça foi muito bem aceita, e ficou o ano todo em cartaz.
Nesse mesmo ano, estreando na coordenação do Grupo Teatral Cena’s, iniciamos a montagem de Um homem, Uma mulher, Pra não falar do Garçom, de Fernando Lira. Nosso primeiro grande pontapé no gênero comédia. Estreamos em outubro, o grande espetáculo Em busca do Tesouro Perdido, de Elifas Andreato com músicas de Toquinhos, que enfocava os 10 príncipios da Declaração Universal dos Direitos da Criança.
Ao todo, no ano de 2008, foram montados 2 espetáculos e 4 esquetes teatrais. Em 2009, iniciamos uma parceria com a equipe do projeto Educando com Ciências da Secretaria Municipal de Educação Básica, e juntamente com os núcleos de ciências das escolas públicas municipais, montamos diversas peças de teatro científico, como Bioquímica em Cena, de Marcus Valle da Seara da Ciência de Fortaleza; Bate papo sobre energia de José Evangelista e muitas outras.
O Grupo Cena’s nesse ano, produz o seu I festival de teatro. Foi um trabalho arduo, mas gratificante. O grupo cresceu bastante. O festival se realizou em setembro (de 14 a 18), com a participação de 20 grupos, totalizando 240 alunos de 6ºs e 7ºs anos do ensino fundamental.
Na escolha dos temas, optamos nesse primeiro festival, trabalhar linguagens, que as crianças se identificam mais, e que conseqüentemente fossem mais fáceis (na visão delas) de montar.
Trabalhamos com 4 temas:
TEMA 1: Pensa que é dona do seu nariz?: REBELDIA; CONFLITOS FAMILIARES; LIMITE NA EDUCAÇÃO DOS FILHOS; AUTORIDADE. Formamos a partir desse tema, 4 grupos: Expresso D’Arte (Direção: Lays Mendes); Encantando o Palco (Direção: Kathiuze Maia); Molec’Arte (Direção: Lorena Joyce); Art’Faces (Direção: Kimberly Gomes).
TEMA 2: Eu te obedecerei: AMOR FRATERNO; SOCIEDADE MACHISTA; OBEDIÊNCIA FILIAL; PAI, FILHA E NAMORADO; EXPERIÊNCIA DE VIDA; SUPERPROTEÇÃO MASCULINA. Formamos também 4 grupos: Brincando de Teatro (Direção: Jéssica Silva); Pinguinho D’Arte (Direção: Karol Rodrigues); Art’Manha (Direção: Thaíssa Freitas) e Cenarte (Direção: Jade Chaves).
TEMA 3: O que os meus amigos vão pensar?: MAES E FILHAS; ADOLESCÊNCIA: MUDANÇAS FÍSICAS E PSÍQUICAS; CONTRADIÇÕES. Formamos também mais 4 grupos: Estrela D’Alva (Direção: Flávia Holanda); Vem Brincar com Caras e Bocas (Direção: Fernanda Maia); In... terpretes (Direção: Catarina de Gusmão) e Trakinos Cena e Arte (Direção: Taís Raquel).
TEMA 4: O Ator: CONSTRUÇÃO DA PERSONAGEM; DIREÇÃO TEATRAL; CENOGRAFIA; ILUMINAÇÃO. Formamos para esse tema 8 grupos: Loucos por Teatro (Direção: Marcos Gleizer); Mix Arte (Direção: Kayque Silva); Art’Manha (Direção: Igor Moura); Encena (Direção: Rafael Freitas); Molecagem (Direção: Allan Carlos); Contra A Regra (Direção: André Luiz); Os Pi... Caretas (Direção: Léo Tals); e Magic Arte (Direção: Allyson Albert)
Paralelo ao projeto do festival, montamos e estreamos na final do festival, mais um grande espetáculo: o Lampião e Maria Bonita – O Rei do Cangaço e a Mulata da Terra do Condor, de autoria de Dallva Rodrigues. Que nos rendeu bons frutos.
No geral, em 2009, além das montagens de 2008, que ainda estavam em cartaz, foram produzidos 2 espetáculos e 17 esquetes teatrais.
Começamos o ano de 2010 em festa! Em janeiro realizou-se em Limoeiro do Norte, o IV FESTVALE - Festival de Teatro do Vale do Jaguaribe. O Cena’s participou com o espetáculo "Lampião e Maria Bonita", e o mesmo foi aclamado pelo público como melhor espetáculo da região.
Após as comemorações, de alma lavada e coração recarregado, avaliamos o 1º festival e já começamos a projetar o 2º. Iniciamos a produção mais cedo, em março, devido à complexidade dos temas escolhidos. Realizamos o nosso 2º festival de teatro em setembro novamente (de 14 à 18), dessa vez, com a participação de 16 grupos. Porém, ainda, totalizando 240 alunos de 6ºs e 7ºs anos.
Foram novamente escolhidos 4 temas, mas como falado acima, de grande complexidade. Tivemos bastante cuidado na formação dos grupos e na elaboração das montagens.
Temas e espetáculos escolhidos:
TEMA I: CULTURA POPULAR (PATATIVA DO ASSARÉ): O Casamento da Bela e o Pássaro; O Apagão Cultural; Maria de Todo Jeito e Vicença e Sofia ou o Castigo da Mamãe. Textos de Dallva Rodrigues. (Obs: Estão postados na minha página na internet: www.recantodasletras.com.br/autores/dallvarodrigues).
TEMA II: CLÁSSICOS INFANTIS: O Fantástico mistério de Feiurinha de Pedro Bandeira; A Bailarina de Cristal de Rita de Blassis; Pluf, o fantasminha e A Bruxinha que era boa de Maria Clara Machado.
TEMA III: CIENTÍFICOS / EDUCATIVOS: Apagando a natureza de Ângela Escudeiro; Da volta de Ciço Nino pra com Jaguarinho buscar a conservação do Jaguaribe: o maior Rio do Ceará de Gigi Castro e Soraya Vanini Tupinambá; A Estória de João Porcalhão e Corra que o chinelo vem aí de André Faxas.
TEMA IV: PEDAGÓGICOS / A IMPORTÂNCIA DO ATO LER: Capitão Livrão de André Faxas; Clube das Palavras Reluzentes de Júlio Lira; Um bom sujeito de Antonio Carlos Olivieri e O menino Narigudo de Walcir Carrasco.
O 2º festival foi um sucesso! Crescemos bastante com relação ao primeiro. Aproveitando a ocasião, escolhemos três dos melhores espetáculos produzidos e realizamos em outubro, um evento voltado para as crianças: Festa de Criança no Teatro. Foi o mês inteiro de teatro no Centro Cultural Márcio Mendonça!
Fechamos o ano, participando do projeto Natal de Luz, da Secretaria da Cultura e Turismo de Limoeiro. Apresentamos em praça pública Um novo conto, uma mistura engraçada das histórias e personagens dos contos de fadas. Adoramos! Foi uma boa forma de comemorar o grande ano.
Em 2010, além das muitas peças em cartaz, foram montados mais 6 espetáculos e 12 esquetes teatrais.
Em 2011, sabíamos que tinhamos uma tarefa maior a cumprir. Trabalhamos com um menor número de produtores, mas realizamos, dessa vez em outubro (de 17 a 22), o nosso 3º festival. Agora com a participação dos 200 alunos de 6ºs e 7ºs anos e 12 espetáculos com temática livre.
Foram as nossas melhores produções em termo de cenário, figurino, sonoplastia. Ficamos muito felizes e satisfeitos.
Dividimos os alunos por categoria: 6º ano e 7º ano. E as peças montadas foram: Os olhos da cobra de Roberto Vilanni; A Bruxinha que era boa de Maria Clara Machado; A Floresta do Raio Vermelho de Jomar Magalhães; Pluft, o Fantasminha, também de Maria Clara Machado; O Pequeno Príncipe, adaptação livre de Dallva Rodrigues; Em busca do Tesouro Perdido de Elifas Andreato; O Dente Vicente que sente de André Faxas; Miralu e a Luneta Encantada de Fernando Lira; Lampião e Maria Bonita de Dallva Rodrigues e Ratimbum, Pararatimbum de Paulo Sacaldassy.
Relembramos e matamos a saudade de algumas montagens do Grupo Cena’s. Do ano de 2008, o Em busca do Tesouro Perdido e de 2009, o Lampião e Maria Bonita. E ficamos em cartaz com o último espetáculo citado e aclamado vencedor no 3º festival.
Como de costume, paralelo as produções do festival, montamos e estreamos na final, o nosso espetáculo carro chefe: O Menino que virou história, de Nanna de Castro.
O Cena's inscreveu os dois espetáculos: "O Menino que virou história" e "Ratimbum Pararatimbum" no V FESTVALE, que se realizará em 2012, de 21 a 30 de abril, novamente no Centro Cultural Márcio Mendonça.
O ano de 2011 foi também de grandes realizações. Os trabalhos estão cada vez melhores. Produzimos ao todo, 8 espetáculos e 6 esquetes.
Em 2012, estamos com uma proposta atualizada. Com um número grande de novatos no projeto, iniciamos os trabalhos em janeiro, com a formação em iniciação teatral, mas, com uma mudança: assistimos na prática a elevação do nível dos nossos novos atores, e não só através e após a seleção de um elenco.
As crianças apresentam todas as sextas feiras, de autores diversos, pequenas peças (esquetes) ou trechos delas. Ao final das apresentações, se auto-avaliam. É uma discussão rica, sobre todos os temas que abordamos nas oficinas teatrais. Após as avaliações, elas já recebem novos textos para a semana seguinte. E assim, paralelo a teoria e aos jogos, podemos assistir semanalmente, diversas montagens desses alunos-atores iniciantes. A cada semana é uma nova construção, de um personagem diferente do anterior, com características distintas e instigantes, e eles adoram.
De janeiro a abril a rotina tem sido essa. Porém, no final desse mês, de 21 a 30, o ritmo acelera por conta do V FESTVALE. Além de termos dois espetáculos inscritos, devemos acompanhar e participar das diversas oficinas que estão sendo oferecidas: Iluminação, Presença Cênica, Interpretação, Maquiagem, Teatro de Rua... E nos deliciar-mos com o link de espetáculos que estarão também se apresentando. Será um evento riquíssimo, imperdível e inesquecível!
Após o FESTVALE, iniciaremos o processo de seleção do nosso próximo espetáculo, o Ploc, a Borboleta mais linda que eu já vi, de Roberto Vilanni. Um momento muito esperado pelos alunos, que estão se preparando e estudando desde o ano passado. E paralelo a essa montagem, que só estreará no final desse ano ou início do próximo, para arrecadar fundos para o mesmo, estaremos não mais produzindo um festival, mas somente, uma mostra teatral, a I Mostra Cena’s, que está pré-agendada para a semana da criança em outubro.
Estaremos também na produção do I Educando em Cena – Festival de Teatro Científico das Escolas Públicas Municipais de Limoeiro do Norte, que também se realizar-se-á em outubro, mais precisamente, uma semana após a I Mostra Cena’s.
Por fim, o nosso trabalho não pára. Estamos sempre produzindo. Mas, estamos satisfeitos e felizes. É cansativo, mas muito gratificante. Sabemos o quanto essa arte e a nossa convivência nos dignifica, nos torna melhores, a cada dia.
CONCLUSÃO
Precisamos discutir sobre a questão das expressões artísticas na escola, para que possamos desenvolvê-las de maneira significativa para o Aluno. Ao propor a disciplina deparamos com a questão da formação dos profissionais que atuam no Ensino Fundamental. Apresentamos considerações sobre essa questão e a possibilidade de reformulação curricular da escola e, conseqüentemente, do curso de Pedagogia. Apontamos, também, a necessidade de valorização cultural, que é a essência do ser humano e, da ruptura com a concepção de teatro existente na escola. Se mudarmos a visão dos educadores a respeito da expressão teatral e também sobre as outras, poderíamos desenvolver um trabalho relevante para o aluno. Seria possível trabalhar com dramaturgos e encenadores do teatro, pois poderíamos ter um avanço, mudando a percepção dessa expressão no âmbito escolar, já que teríamos contato com o universo cênico. Assim, podemos refletir criticamente sobre a situação em que a arte se encontra na escola e buscar um ideal que possibilitasse a superação dos desafios deparados pela educação. (Graciele Batista Gonzaga e Lina Paula de Fátima Braga. Teatro na Escola: uma possibilidade para superar os desafios do futuro.)
REFERÊNCIAS
BARBOSA, A. M. A imagem do ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São Paulo: Perspectiva, 1991.
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