Vou ser professor na Coréia do Sul

O próximo sábado (15 de outubro) será mais um Dia do Professor para ser lembrado (já que "comemorado" é uma palavra há muito fora de uso pela categoria). Há colegas divulgando um conselho a se considerar. Anote aí: nas poucas horas de folga invista na aprendizagem do coreano, junte algum dinheiro (se sobrar) e faça planos de se mudar para a Coréia (a do Sul, é bom que se diga!).

O motivo da dica é simples: 100% dos professores sul-coreanos têm mestrado e os que trabalham no equivalente ao nosso Ensino Fundamental ganham um salário mensal de aproximadamente 10 mil reais por 40 horas semanais. Vale ressaltar que das 40 horas, 20 são em sala-de-aula e as demais dentro da escola para estudo coletivo, planejamento, atendimento a aluno, correções de trabalhos, entre outros afazeres que normalmente são feitos em casa no Brasil.

Essas informações sobre a Coréia do Sul eu vi há algum tempo em um especial que a Rede Globo fez sobre nações em desenvolvimento que investem pesado em educação. A receita desse país asiático para seduzir profissionais qualificados para a educação é de fácil aplicação (quando realmente se quer): salário inicial atraente, possibilidade de aprimoramento profissional e chance de trabalhar numa carreira valorizada socialmente.

Para não parecer papo de pessimista, deixo claro aqui que adoro ser professor. Só não concordo com a velha tese do sacerdócio, pois soa sempre como sinônimo de vocação a ser vivenciada haja o que houver, com ou sem dinheiro. Comungo, sim, com o fato de que professor é profissão de primeira grandeza e essencial para que todas as demais ganhem forma e se destaquem.

Isso deveria ser óbvio para quaisquer governantes e legisladores, mas ainda é preciso que profissionais da área façam greves e mostrem seus contracheques para que a sociedade ao menos escute o seu clamor. Não adianta o Brasil se propor a ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU; dizer que caminha a passos largos rumo ao desenvolvimento; nem anunciar avanços percentuais em uma infinidade de rankings sociais. Sem investimentos substanciais nas áreas de educação, ciência e tecnologia não há vontade que se concretize.

Já que os números costumam "falar" mais alto nesse tipo de debate, aí vai um dado revelador divulgado em 2010 pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura): o Brasil investe em média 4% do PIB (Produto Interno bruto) em educação, enquanto a Austrália, a Noruega, os Estados Unidos, a Coréia do Sul e a Suécia investem entre 7,5% e 8,5%. Tem mais: apesar do Brasil oscilar entre a 8a e a 11a economia do mundo nas ultimas quatro décadas, estudos da Unesco o colocam como o 85o país no ranking educacional, considerando-se a população atendida nos vários níveis educacionais, do ensino fundamental ao superior.

Existe uma máxima que costuma circular entre docentes de norte a sul, leste a oeste: "quem conhece bem a vida de professor é médico". O que parece mera frase de efeito é a mais pura realidade; qualquer pesquisa séria mostrará o professor entre as dez profissões mais estressantes que existem em nosso país e uma das que mais levam os profissionais a obter licença médica para tratamento.

Como não tenho muitas horas de folga para investir na aprendizagem do coreano nem condições de juntar dinheiro para ir embora para a Coréia do Sul, continuo por aqui também como professor. Além da minha paixão em ensinar/aprender, meu otimismo na carreira reside numa análise bem elementar: o Brasil, independentemente de governo A ou B, já se candidatou a um lugar entre os grandes. Um dos preços a serem pagos é preparar bem a sua mão-de-obra. Isso não é possível sem o professor.