RAZÃO DE SER DA ECONOMIA SOLIDÁRIA

A partir da experiência do homem primitivo nascia a necessidade de viver em comunidade e a troca de objetos e alimentos como forma primitiva de comércio.

A princípio, tudo era fácil, pois se trocavam materiais comuns a todos; o comércio se resumia em favorecer as partes interessadas do local onde viviam.

A idéia da solidariedade ou de um mercado solidário surgiu, então, muito antes das ciências econômicas, com o homem primitivo e com esse mercado comum onde as necessidades eram supridas sem papel moeda, sem bolsas de mercadorias e futuro, mas, simplesmente, com a troca de alimentos e utensílios.

Com o fenômeno das guerras e o surgimento do escravismo estas relações comerciais de subsistência foram alteradas. As guerras produziam escravos e expandiam territórios que eram apropriados pelos vencedores das contendas. Com o domínio da terra e dos escravos por parte de alguns, as relações sociais e comerciais se modificaram: alguém passou a explorar a terra e o trabalho humano. Deste modo, formou-se uma estrutura de poder onde a solidariedade não entrava. Foi assim que teve início a “economia do horror.”

A humanidade em evolução superou o escravismo (muito embora a escravidão e a exploração do homem pelo homem se mantivessem na prática e na cultura dos sistemas subseqüentes), surgiu o feudalismo que deslocou o ser humano para uma nova etapa de exploração social, política e comercial.

Com o auxilio do mecanismo didático, para se compreender o sentido mais amplo do desenvolvimento partindo-se do escravismo ao feudalismo e do feudalismo ao capitalismo, são notórias as formas de exploração do homem pelo homem que mantêm o mercado excludente e tirano. Do feudalismo ao capitalismo mudaram os senhores e as máquinas, a “dinâmica” da opressão se modernizou e surgiram a revolução tecnológica e um mercado global, mas, no entanto, não há dúvida de que a lógica atual desse mercado global, remonta ao escravismo. Se no período da escravidão um indivíduo, uma comunidade ou tribo eram tornados escravos, no tempo presente, indivíduos, povos e nações são subjugados pela lógica atroz da “economia do horror.”

Mas o que é essa “economia do horror”? Uma economia centrada na lógica da desigualdade, na disparidade entre a oferta e a procura, na disputa, na concorrência à base do “salve-se quem poder”; um sistema político-econômico excludente e tirano que se nutre da miséria, da promoção das guerras e da degradação do ecossistema, privilegiando o consumo predatório e egocêntrico. Sob essa “economia do horror” o mundo está pautado e caminha célere para um brutal colapso, considerando-se que os recursos naturais, cada vez mais, tornam-se escassos. A água, por exemplo, líquido precioso e essencial do qual todos os seres vivos necessitam para viver está se degradando de forma acelerada em decorrência da destruição do ecossistema e da poluição dos rios e seus mananciais.

Ocorre, que a “economia do horror” dita o que é mais importante na visão dos senhores do capital. Na visão dos “donos do mundo”, o importante é produzir e consumir, sem medir conseqüências futuras. O mais importante é o aumento do PIB dos países ricos, enquanto os paises ditos em desenvolvimento são submetidos a essa mesma lógica econômica e os países pobres colocados à deriva, reféns do ordenamento global que lhes é imposto. Essa lógica econômica garante uma certa sobrevida relativa para vinte por cento da humanidade. O aumento do PIB mundial se volta para a satisfação e garantia da qualidade de vida desses vinte por cento. O que resta, são oitenta por cento da população mundial correndo atrás de uma saída e, uma imensa parcela desta maioria, relegada ao deus dará, desesperada, desnorteada, ideológica e politicamente submetida: “que venham os trangênicos!”, “a ALCA é um grande negócio para nós!”, para realizar o meu sonho de consumo faço qualquer coisa, até mesmo abdicar dos sonhos!”

Os fundamentos que norteiam essa “economia do horror” submetem os valores humanos, os valores éticos e morais dos povos e indivíduos. Não é por acaso a crise ética e moral profunda da qual o mundo padece. Não é por acaso o recrudescimento da violência em todas as suas formas. Não é por acaso a banalização da vida. Não é por acaso a falta de princípios e de solidez nas relações pessoais, amorosas, comerciais e sociais; não é por acaso a cultura do individualismo que se fundamenta no “levar vantagem em tudo”. Portanto, esta “economia do horror” se sustenta em bases fugazes, voláteis e movediças que ferem de morte os valores humanos.

Para superar essa “panacéia” global, determinista e autoritária, é urgente e determinante fundamentar uma nova lógica econômica, uma razão de ser da economia ou, quem sabe, resgatar os valores genuínos dessa ciência: praticar uma economia de vida e não de morte, uma economia solidária e não predatória. Isto significa entender e vivenciar a economia como cuidar da casa, cuidar da vida das pessoas, cuidar do meio ambiente, cuidar do mundo em que vivemos; agir e se sentir solidário, responsável pela preservação e desenvolvimento da vida, enfim, construir uma nova economia voltada para o bem viver, com produção, comercialização e consumo responsáveis, equilibrados e a serviço do desenvolvimento humano.

Elias J. Silva - Educador Popular, membro da COMOV - Comunidade em Movimento da Grande Fortaleza e coordenador do Programa Cirandas da Vida.

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